O governo da Coreia do Sul quer iniciar negociações com os médicos internos, em greve há 10 dias em protesto contra políticas governamentais, disse esta quinta-feira o ministro adjunto da Saúde sul-coreano.

Mais de 10 mil médicos estagiários (cerca de 80% do total no país) apresentaram a demissão e quase nove mil abandonaram efetivamente os empregos desde 20 de fevereiro, após o executivo ter anunciado um plano para aumentar as vagas nas escolas médicas.

A greve afetou profundamente o funcionamento dos principais hospitais da Coreia do Sul, obrigando ao adiamento ou cancelamento de procedimentos não urgentes para garantir a resposta a casos de emergência.

Coreia do Sul declara estado de crise grave na saúde devido a greve de internos

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As autoridades alargaram ao máximo o horário de consultas nos hospitais públicos, abriram ao público em geral as urgências dos 12 hospitais militares e deram aos enfermeiros proteção legal para realizarem alguns procedimentos normalmente reservados para médicos.

Terceiro dia da greve dos médicos sul-coreanos afeta serviços de urgência

“Mandei uma mensagem a solicitar uma reunião [com os representantes dos médicos internos] (…) tenho que ir lá hoje para ver quantas pessoas estarão presentes”, declarou o ministro adjunto da Saúde, Park Min-soo, numa conferência de imprensa.

Na quarta-feira, a Associação de Médicos da Coreia, que representa cerca de 140 mil médicos sul-coreanos, acusou o governo de intimidação, por ameaçar deter, acusar criminalmente e suspender as licenças dos estagiários que não regressassem até esta quinta-feira ao trabalho.

Park Min-soo disse que alguns médicos começaram, esta quinta-feira, a voltar ao trabalho nos hospitais do país. “Observamos uma redução do movimento grevista durante dois dias consecutivos”, disse o dirigente.

Mas o ministro da Saúde, Cho Kyoo-hong, admitiu esta quinta-feira à imprensa sul-coreana que “um retorno em massa ainda não se materializou”. “Imploro-lhes que façam isso pelos pacientes”, disse o governante, acrescentando que os médicos que regressassem ao trabalho antes do prazo limite não seriam punidos.

Apesar das ameaças, os estagiários convocaram uma grande manifestação para 3 de março.

Cho Kyoo-hong sublinhou que o governo está determinado a implementar o plano que aumentaria as vagas nas escolas médicas em 65 por cento, ou mais 2.000 pessoas por ano, a partir de 2025. De acordo com sondagens, a proposta tem um amplo apoio por parte da população da Coreia do Sul.

O governo da Coreia do Sul justifica esta medida como necessária para preparar o país para uma população cada vez mais idosa.

Cerca de 44% dos sul-coreanos terão mais de 65 anos em 2050, de acordo com projeções das autoridades. O governo calcula que faltarão 15 mil médicos para atender às necessidades do país até 2035 se nada for feito.

Mas os médicos opõem-se ao projeto por considerarem que a admissão de mais estudantes nas escolas médicas resultará numa queda no nível profissional dos futuros médicos e que a qualidade dos cuidados será prejudicada.