São dois artigos com ângulos diferentes publicados esta sexta-feira pelo jornal britânico Financial Times, mas que têm a mesma conclusão: o expectável crescimento do Chega nas eleições legislativas. A fuga de cérebros e o “medo de que muitos jovem abandonem o país” podem ser uma “oportunidade” para o crescimento do partido liderado por André Ventura, que é descrito pelo diário como um “antigo comentador de futebol de extrema-direita”.
Lembrando o crescimento do Chega desde as eleições de 2019, o Financial Times recorda que nenhum partido deverá obter maioria absoluta, contrariamente ao que aconteceu há dois anos. “Isto significa que Portugal pode estar a caminho de um período de negociações parlamentares em que o Chega tem a chave para garantir uma maioria conservadora”, lê-se no jornal.
Num perfil elaborado pelo jornal, André Ventura é descrito como um “antigo comentador de futebol carismático” que é “fanático pelo Benfica” e que esteve num “seminário”. A campanha de Ventura é alimentada, segundo o Financial Times, em volta do “veneno antissistema”. “É rotulado de xenófobo oportunista pelos oponentes e está a capitalizar em visões racistas e em partes do eleitorado e nos problemas económicos da juventude portuguesa.”
Numa ação de campanha no Porto, em que o Financial Times esteve presente, André Ventura situou o Chega entre os partidos de extrema-direita europeia. Chamou “muito bom amigo” ao presidente do partido de direita radical Lega Nord, Matteo Salvini (que faz parte da solução governativa em Itália ao lado da primeira-ministra, Giorgia Meloni), e confessou ter uma “excelente relação” com Geert Wilders, que chefia a extrema-direita nos Países Baixos e que venceu as eleições parlamentares naquele país em novembro de 2023.
A três meses das eleições para o Parlamento Europeu, André Ventura disse acreditar que os partidos de extrema-direita na Europa estão “unidos” e “fortes”.
Quem também fez comentários ao Financial Times sobre André Ventura foi o secretário-geral do PS. Pedro Nuno Santos afirmou que o Chega tem um “projeto racista e xenófobo” que vai “dividir a sociedade” portuguesa. “Queremos pará-lo”, prometeu.
Sobre o futuro pós-eleitoral, o Financial Times lembra igualmente que o Chega pode ser fundamental para viabilizar uma maioria de direita, recordando que Luís Montenegro, presidente do PSD, já veio dizer que falta “maturidade” e “responsabilidade” ao partido liderado por André Ventura.
Do dono do supermercado à jovem de 19 anos: quem são os eleitores do Chega
O jornal entrevistou um eleitor do Chega, Mário Gonçalves, que é dono de um supermercado em São Vicente, em Lisboa, que defendeu que o partido “não é racista, nem um partido xenófobo”. “Não estamos a dizer que os ciganos são maus. Simplesmente queremos punir aqueles que escolheram o caminho da criminalidade. Não queremos aqueles que não contribuem para nada.”
A base eleitoral do Chega é dominada, de acordo com as sondagens lidas pelo Financial Times, por homens com menos de 50 anos que não foram para a universidade, mas o partido está a chegar aos mais jovens. O Financial Times esteve presente no momento em que uma jovem de 19 anos, Inês Lauro, perguntou a André Ventura sobre como estaria a pensar dissuadir os mais jovens a abandonar o país.
André Ventura apontou que se devia tornar o preço das casas mais baixo através de empréstimos feitos pelo governo. A jovem de 19 anos ficou agradada. “Gostei da maneira como André Ventura falou sobre isto”, indicou Inês Lauro ao Financial Times, reconhecendo, não obstante, que existem parte mais “extremistas” que espera que o Chega acabe por moderar.
Outros jovens na casa dos 20 anos expressaram as suas preocupações relativamente ao futuro com o Financial Times, ainda que não tenham demonstrado o seu apoio ao Chega. Por exemplo, o economista de 22 anos do Porto, Gonçalo Garcia, disse que “quando se olha o tempo que demora a comprar uma casa… É possível comprar, mas só se viver em casas dos pais até aos 35 anos”.
Outra jovem, Inês Coelho, demonstrou estar preocupada com o futuro. No entanto, em vez de ficar em Portugal, a jovem de 22 anos prefere ir para Bruxelas. Lá fora, contrariamente ao acontece cá, os empregadores estrangeiros, diz, reconhecem o “talento” dos portugueses.