Dos mais reconhecidos às maiores surpresas, todos os atletas têm o direito de sonhar. Uns minutos antes da final dos 400 metros, Femke Bol, a Neerlandesa Voadora que se assume cada vez mais como uma das atletas mais dominadoras da atualidade, não só garantiu mais uma medalha de ouro para o extenso currículo aos 24 anos como bateu o recorde mundial, mostrando na Pista Coberta o direito a sonhar com mais pódios e glória ao Ar Livre nos próximos Jogos Olímpicos de Paris. João Coelho, que tinha como principal momento da carreira o triunfo nos Mundiais Universitários, tem pouco ou nada a ver com a jovem neerlandesa mas tinha também o seu sonho. Cumpriu-o. Uma, duas, três vezes. E só faltou mesmo conquistar uma medalha.
O atleta do Sporting que se chegou a inscrever como individual no final de 2023 admitia antes de chegar a Glasgow que era possível bater o recorde nacional dos 400 metros em Pista Coberta apesar de só ter feito duas corridas no inverno e para representar o clube verde e branco mas que, caso não fosse à final, não iria sair desiludido. Razão? As atenções estão sobretudo focadas nos Jogos Olímpicos de Paris e nos Europeus ao Ar Livre de Roma. Havia quase uma espécie de “baixar de expetativas” perante a falta de referências que a Seleção tinha nestes Mundiais perante as ausências de Pedro Pablo Pichardo, Patrícia Mamona e Auriol Dongmo (todos lesionados) mas João Coelho sabia aquilo que estava a valer e mostrou-o em… 35 horas.
Logo nas eliminatórias, o português carimbou a passagem às meias-finais com um novo recorde pessoal e nacional de 46,35, abaixo dos 46,51 que trazia para terras britânicas dos Europeus de 2023. Nas meias, aí, o que podia correr bem foi ainda melhor: João Coelho não só baixou de novo a melhor marca para 45,98, tornando-se o primeiro português abaixo dos 46 segundos, como conseguiu o apuramento para a final.
“Não tenho palavras para descrever este momento. Não vejo melhor ocasião para fazer um recorde pessoal abaixo dos 46 segundos. Uma final é um sonho. Ainda não estou em mim, na minha primeira participação num Campeonato do Mundo indoor. Só espero continuar a evoluir e a crescer, porque gosto realmente do que faço. Gostava muito de, um dia, correr na marca dos 43 segundos ou fazer uma final dos Jogos, algo que me deixasse na história”, comentou João Coelho na noite desta sexta-feira em Glasgow.
O português já não era propriamente um outsider na chegada à corrida decisiva deste sábado depois do que fizera 35 horas antes para os adversários mas continua a ter essa posição entre os favoritos ao triunfo. Com o belga Alexander Doom e o norueguês Karsten Warholm a conseguirem disparar na frente, disputando entre si o triunfo que sorriu desta vez ao primeiro (45,25 que é novo recorde nacional contra 45,34 que foi melhor marca da época), João Coelho tentou colar-se ao jamaicano Rusheen McDonald, sobretudo nos últimos 100 metros, mas o recorde nacional de 45,86 não chegou para o recorde pessoal do caribenho (45,65). O húngaro Attila Molnár ficou em quinto com 46,11 e o checo Matej Krsek acabou em sexto com 46,47.