Trinta anos depois, Portugal lançou, esta segunda-feira, o seu segundo satélite para o espaço, o “Aeros”, que vai observar os oceanos desde a “vizinhança” da Estação Espacial Internacional, a “casa” e laboratório dos astronautas.
Aeros, o segundo satélite português, vai ser lançado dos Estados Unidos para observar os oceanos
O “Aeros”, um nanossatélite de 4,5 quilos, seguiu a bordo de um foguetão Falcon 9, que descolou da base da empresa SpaceX de Vandenberg, nos Estados Unidos, às 222h05 (hora de Lisboa). O módulo principal do foguetão, reutilizável, regressou à mesma base poucos minutos depois da descolagem, às 22h12. O “Aeros MH-1” separou-se do segundo módulo do foguetão às 23h00 para entrar na sua órbita.
“O lançamento do Aeros representa a aposta estratégica nacional no espaço. Foi fundamental o desenvolvimento da tecnologia e também o enquadramento legal preparado nos últimos anos para este setor”, escreveu António Costa numa publicação na rede social X (antigo Twitter) pouco tempo depois do lançamento. Costa deu ainda os parabéns “a todos os que, direta ou indiretamente, da academia às empresas, contribuíram para concretizar este grande projeto”.
Foi lançado com sucesso o segundo satélite na história espacial portuguesa. O lançamento do #Aeros representa a aposta estratégica nacional no espaço. Foi fundamental o desenvolvimento da tecnologia e também o enquadramento legal preparado nos últimos anos para este setor.
— António Costa (@antoniocostapm) March 4, 2024
Na órbita da Terra a 510 quilómetros de altitude
A descolagem do foguetão foi seguida com entusiasmo pelas centenas de pessoas que se reuniram nas instalações do centro de engenharia CEiiA, em Matosinhos, onde se ouviram gritos e aplausos ao sucesso do segundo satélite português – o primeiro desenvolvido, construído e operado em Portugal.
O engenho ganhou a designação de “MH-1” numa homenagem a Manuel Heitor, ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior que, enquanto esteve em funções, foi um dos impulsionadores do projeto, de acordo com o consórcio nacional de empresas e instituições académicas que concebeu, construiu e opera o satélite.
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Concebido e operado por um consórcio nacional de várias empresas e instituições académicas, foi lançado 30 anos depois do “PoSat-1”, o primeiro satélite português, um microssatélite de 50 quilos que entrou na órbita terrestre em setembro de 1993, mas desativado ao fim de uma década.
O “Aeros” ficará na órbita da Terra a 510 quilómetros de altitude, ligeiramente acima da Estação Espacial Internacional. As comunicações e a recolha de dados e imagens serão feitas a partir do teleporto de Santa Maria, nos Açores, mantido pela Thales Edisoft Portugal, empresa que lidera o consórcio nacional. O centro de engenharia CEiiA, em Matosinhos, um dos parceiros e que construiu o nanossatélite, irá processar os dados e as imagens para efeitos de estudos científicos.
As universidades do Algarve, Porto e Minho, o Instituto Superior Técnico e o Imar – Instituto do Mar, entre outros, dão o suporte científico à missão, à qual se associou também o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla inglesa), nos Estados Unidos, através do programa de cooperação MIT-Portugal.
Manuel Heitor: “O que estamos aqui a fazer é sobretudo a pensar em futuros empregos para os jovens”
O “Aeros”, que começou a ser trabalhado em 2020, representa um investimento de 2,78 milhões de euros, cofinanciado em 1,88 milhões de euros pelo Feder — Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.
Ainda antes do lançamento, Manuel Heitor, em declarações à Lusa, não escondia a expectativa e a ambição que o satélite transporta para o espaço. “Estes pequenos satélites são formas de testar os empregos do futuro, as tecnologias do futuro. É um passo, é só um passo, não é o fim, mas é um passo muito importante. Agora espero que, pelo menos todos os dois anos, sejam lançados novos pequenos satélites”, afirmou, mostrando-se confiante na capacidade de Portugal se afirmar como nação espacial.
“O que estamos aqui a fazer é sobretudo a pensar em futuros empregos para os jovens, e ao mesmo tempo em formas de olhar para a segurança dos cidadãos e para a nossa sustentabilidade ambiental”, disse ainda Manuel Heitor, que em 2019, enquanto ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – cargo que ocupou entre 2015 e 2022 – criou a Agência Espacial Portuguesa.
Recordando que o espaço oferece “essa conjugação de melhores empregos, melhores salários”, Manuel Heitor defendeu que desenvolver o setor permite também olhar para a sustentabilidade do planeta e para a segurança dos cidadãos.
Já Rui Magalhães, diretor da unidade do espaço do CEiiA, sublinhou o marco histórico: 30 anos depois, a estratégia espacial portuguesa volta a levar outro satélite para o espaço, reafirmando a posição de Portugal na indústria espacial.
“Este foi um passo importante, depois de 30 anos. (…) Foi absolutamente crítico para provarmos que a partir de uma ideia, conseguimos construir um produto tão complexo como um satélite que está apenas ao alcance de nações tecnologicamente evoluídas, às quais Portugal – podemos hoje dizer com clareza — pertence“, acrescentou também à Lusa.
Com um sentimento de missão cumprida, Rui Magalhães sublinhou que o caminho para cumprir Portugal como nação espacial está já a ser trilhado e antecipa para os próximos anos novos desafios na construção de satélites mais completos e para contextos e áreas mais exigentes.
Para Sérgio Barbedo, CEO da Thales Edisoft, líder do consórcio nacional que projetou, construiu e operará o engenho, esta iniciativa posiciona Portugal no mapa da exploração espacial. “O sucesso deste processo permitir-nos-á assumir responsabilidades acrescidas e provavelmente projetos de maior dimensão nas cadeias de valor que o setor aeroespacial e da defesa contemplam”, afirmou.