Um novo documentário sobre o jornalista australiano Julian Assange vai estrear na sexta-feira, enquanto o fundador do portal de denúncias WikiLeaks aguarda a decisão iminente da justiça britânica sobre o processo de extradição para os Estados Unidos.

“The Trust Fall” [A quebra de confiança] traça o percurso do australiano de 53 anos, apresentado como um mártir na defesa da liberdade da imprensa, e que este ano está nomeado para o Prémio Nobel da Paz.

O documentário com a duração de duas horas é composto por dezenas de testemunhos de amigos, familiares, jornalistas, advogados, ativistas dos direitos humanos e um psiquiatra que atestou a deterioração do estado mental de Assange.

O jornalista australiano John Pilger, que ajudou a denunciar o massacre de Santa Cruz em Timor-Leste em 1991, e o antigo militar norte-americano Daniel Ellsberg, autor de uma fuga de informação militar em 1971 sobre a guerra do Vietname, são alguns dos entrevistados.

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“Valerá a pena contar a verdade à custa da própria prisão em troca de uma pequena hipótese de mudar os acontecimentos? Sim”, afirma Ellsberg, que, tal como Assange, foi acusado pelos EUA de espionagem e arriscou uma sentença superior a 100 anos de prisão.

“O objetivo deste filme é dar mais peso à campanha pela liberdade deste heroico e corajoso jornalista australiano e ativista pela paz. Pela sua liberdade e pela liberdade de todos nós”, afirmou o realizador, Kim Staton, citado num comunicado.

Selecionado por vários festivais internacionais, incluindo em Varsóvia e Barcelona, ganhou o prémio de melhor realizador emergente – Austrália do Festival de Documentário de Melbourne, o de Melhor Novo Realizador no Festival de Cinema Cine Paris 2023.

Assange, um antigo pirata informático, terá sido inspirado por Ellsberg, a quem é reconhecida influência no fim apressado da guerra do Vietname, para criar o portal WikiLeaks em 2006 de forma a receber informação confidencial.

Em 2010 publicou uma série de telegramas de diplomatas norte-americanos sobre planos dos EUA para espiar o secretário geral da ONU e dirigentes de alguns países, a pressão da Arábia Saudita para os EUA atacarem o Irão ou detalhes sobre a corrupção na Rússia.

O WikiLeaks publicou também documentação militar, incluindo um vídeo de um ataque de helicóptero em 2007 pelas forças norte-americanas em Bagdad que matou 11 pessoas, incluindo dois jornalistas da agência Reuters. Os EUA invocaram a Lei de Espionagem para acusar Assange de 18 crimes, pelos quais arrisca 175 anos de prisão.

O documentário tenta demonstrar como o processo tem motivações políticas e como foi acompanhado por uma campanha para desacreditar o australiano, fazendo-o passar por “traidor, violador, narcisista e pirata informático”, refere o antigo relator da ONU contra a tortura, Nils Melzer.

Julian Assange está detido desde 2019 na prisão de alta segurança de Belmarsh, no leste de Londres, após sete anos de auto-exílio na embaixada do Equador em Londres para evitar a extradição para a Suécia por alegada agressão sexual.

O australiano aguarda uma decisão do Tribunal Superior de Londres sobre se poderá recorrer contra a autorização do Governo britânico para o extraditar para os EUA depois de dois dias de audiências em fevereiro.

Se a justiça britânica recusar o recurso, Assange terá como última instância o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.