O ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, pediu esta quarta-feira, na Praia, “reformas profundas” nas instituições financeiras internacionais, alertando que podem passar a ser “cada vez menos relevantes”.

“As instituições financeiras internacionais requerem igualmente reformas profundas. Só podemos esperar que haja inteligência para se efetuar essas reformas”, pediu o chefe da diplomacia portuguesa, numa intervenção como orador convidado da 3.ª Conferência Anual de Política Externa (CAPE), organizada por Cabo Verde, na cidade da Praia.

Para o governante, sem as reformas, as instituições de Bretton Woods — FMI, Banco Mundial — poderão passar a ser “cada vez menos relevantes” devido ao “surgimento de alternativas que funcionarão com regras de conveniência para os seus principais patrocinadores”.

Notando que “o mundo tem vindo a evoluir muito rapidamente e as instituições não”, o MNE lembrou que essas organizações foram criadas no fim da II Guerra Mundial, em 1945, quando muitos dos 193 países que constituem as Nações Unidas nem sequer ainda eram independentes.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“As instituições vemo-las anquilosadas, incapazes de evoluir, isto é uma receita para disfuncionalidade, daí a nossa insistência sobre necessidade de às vezes dar um passo atrás para poder de dois em frente”, recomendou.

João Gomes Cravinho sublinhou que Portugal defende há muito, igualmente, uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas, com a atribuição de lugares para membro permanente para o Brasil, para a Índia e dois para África.

“Mas nada sugere que isso possa acontecer nos próximos tempos. Muito pelo contrário, parece que estamos condenados por longos anos a viver com a atual situação anacrónica e paralisada”, lamentou o governante.

E numa altura de “empobrecimento da ordem internacional” devido a muitos conflitos em várias partes do mundo, o ministro pediu “lucidez” à diplomacia de países como Portugal e Cabo Verde.

Na deslocação a Cabo Verde, a última ao exterior enquanto MNE, face ao desfecho das eleições de 10 de março em Portugal, Cravinho previu continuidade das “relações fraternas” entre os dois países.

Desafios da diplomacia no contexto das alterações climáticas, a geopolítica dos oceanos e mecanismos de governança para o desenvolvimento são alguns dos temas debatidos durante os três dias da conferência, instituída em 2022.