O investimento na reabilitação e valorização das ribeiras do Porto, preparando-as para um futuro afetado pelas alterações climáticas, pode custar 40 milhões de euros, segundo um plano apresentado esta quarta-feira que alerta para riscos especialmente no rio de Vila.

“O investimento total das medidas propostas ronda os 40 milhões de euros, sendo de ressalvar que a medida que implica mais investimento é a criação de reservatórios subterrâneos (…), seguida da correção de fragilidades do sistema de drenagem”, pode ler-se no Plano de Valorização e Reabilitação das Linhas de Água do Município do Porto.

O documento, cujos resultados foram esta quarta-feira apresentados e a que a Lusa teve acesso, salvaguarda que o valor “deve ser encarado como meramente indicativo”, por estar sempre influenciado pelas dimensões concretas da intervenção, características locais e estado de conservação de infraestruturas, como coletores em vias principais.

No diagnóstico realizado, que avaliou componentes como a hidromorfologia das ribeiras, a ambiental e biofísica e a social, de acesso, fruição e paisagem, “o rio Tinto e rio Torto obtiveram uma avaliação muito positiva, o que poderá estar relacionado com o facto de estes dois rios possuírem uma elevada extensão a céu aberto e se localizarem numa zona menos urbanizada da cidade”.

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Pelo lado negativo, tem destaque o rio de Vila, que contrasta na extensão a céu aberto, visto ser totalmente entubado, e por estar localizado na zona mais antiga da cidade, onde a malha urbana é mais densa”, segundo o documento.

Os principais resultados da análise de riscos e perigos confirmam que o rio de Vila, que está a ser desviado no âmbito das obras da Linha Rosa do Metro do Porto, preparando-o para mais de 100 anos, tem um risco atual alto de “frequência (ou probabilidade) de ocorrência” de vulnerabilidades das linhas de água, bem como da consequência do impacto.

“As linhas de água avaliadas com risco mais elevado são o rio de Vila, ribeira do Poços das Patas, Cartes, Lomba e Massarelos”, que, além de “apresentarem vulnerabilidade estruturais, climáticas e um número de ocorrências de inundações elevado, localizam-se em áreas mais urbanizadas, pelo que poderão comprometer a segurança de pessoas e bens”.

Por outro lado, as ribeiras de Nevogilde e Ervilheira “apresentam um risco menor, o que se poderá dever ao facto de possuírem uma extensão significativa a céu aberto”.

Quanto ao futuro, a médio e longo prazo “o risco destes impactes aumenta significativamente, nomeadamente por via do incremento da frequência dos fenómenos extremos”, associados “às cheias e inundações e à subida do nível médio do mar”, e ainda à erosão hídrica.

Nos cenários até e pós 2040, o rio de Vila e as ribeiras de Cartes e Massarelos, bem como o Poço das Patas, apresentam riscos médios ou altos ao nível da frequência de fenómenos extremos e consequências dos impactos, alargando-se à maioria dos cursos de água no período pós 2070.

Assim, as ribeiras de Cartes, Lomba, Massarelos, o Poço das Patas, rio de Vila, Aldoar, Amores, Granja e Nevogilde têm prioridade alta e média de intervenção.

As medidas a adotar, sobretudo no campo da prevenção de cheias e inundações e subida do nível médio da água do mar, incluem a criação e/ou aumento de bacias de retenção, criação de reservatórios subterrâneos, permeabilização de zonas que possam estar desnecessariamente impermeabilizadas, naturalização de troços a céu aberto, ou adaptação dos circuitos turísticos e revisão dos planos urbanísticos e de exploração comercial.

Há ainda medidas de caráter geral como a implementação de técnicas de conservação do solo, atualizações de cadastros de rede ou a implementação de um sistema de monitorização e acompanhamento de fenómenos climáticos extremos.

O plano foi desenvolvido pela Águas e Energia do Porto em parceria com a Câmara do Porto, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e Agência Portuguesa do Ambiente, sendo financiado pelo EEA Grants.