Os catastrofistas do clima e os apocalípticos do aquecimento global poderão encontrar algum conforto em Caça-Fantasmas: O Império do Gelo, onde Nova Iorque está sob uma onda de calor e de repente as temperaturas descem radicalmente, ao ponto de nevar e de se formar gelo. Só que esse conforto será de breve duração, dado que o súbito arrefecimento e a chegada do frio intenso se devem à ação de uma daquelas poderosas e ancestrais entidades malignas (no caso vertente, chamada Garraka, originária do Indostão, e desejosa de congelar o mundo inteiro) que são indispensáveis nos filmes da série, retomada em 2021 com Caça-Fantasmas: O Legado, de Jason Reitman, e agora continuada em Caça-Fantasmas: O Império do Gelo, de Gil Kenan, também autor do argumento, com Reitman.

[Veja o “trailer” de “Caça-Fantasmas: O Império do Gelo”:]

Alguém comentava com bastante graça que, faz agora 40 anos, estava a comprar bilhetes para ir ver Duna, de David Lynch, e o primeiro Os Caça-Fantasmas, de Ivan Reitman; e que agora, quatro décadas depois, ia comprar bilhetes para ver o segundo filme do remake de Duna, de Denis Villeneuve, e para o novo da segunda incarnação de Os Caça-Fantasmas. Quanto mais as coisas mudam, mais ficam na mesma, como dizia o outro. A frase serve como uma luva a uma indústria cinematográfica americana em seca extrema de novas ideias para filmar e de novas histórias para contar, e que já está a ver começar a esgotar-se o filão dos filmes de super-heróis, a julgar pelos maus resultados de bilheteira dos mais recentes.

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[Veja uma entrevista com o elenco:]

Em Caça-Fantasmas: O Império do Gelo, reencontramos a filha e os dois netos de Egon Spengler (Harold Ramis, o único dos quatro Caça-Fantasmas originais que morreu), e o novo marido daquela, agora em Nova Iorque, instalados na velha estação bombeiros do grupo onde tudo começou em 1984, e substituindo-os na deteção e caça às criaturas sobrenaturais. São financiados por Winston Zeddemore (Ernie Hudson), que enriqueceu e abriu um ultra-moderno laboratório de pesquisas paranormais em Brooklyn, onde colaboram ocasionalmente os outros dois veteranos Caça-Fantasmas, Ray Krantz (Dan Aykroyd), que abriu uma loja dedicado ao oculto e ao esotérico, e Peter Venkman (Bill Murray).

Tal como sucedia com Caça-Fantasmas: O Legado, este novo título da série quer manter a fidelidade daqueles que viram os dois filmes originais quando se estrearam na década de 80 e ficaram à espera de mais aventuras do quarteto original de combatentes de espectros, a cultivar uma nostalgia sempre frustrada; e manter o público mais jovem, que nunca os viu ou só ouviu falar neles, e descobriu a franquia graças à terceira fita, assinada por Jason Reitman, filho de Ivan Reitman, o realizador das duas primeiras e já falecido (a série Caça-Fantasmas é um negócio de família e de velhos amigos).  

[Veja uma entrevista com o realizador Gil Kenan:]

Não há muito a dizer sobre Caça-Fantasmas: O Império do Gelo, de tal forma tudo é reconhecível, previsível, feito de acordo com uma receita comprovada e segura, que procura satisfazer gregos (os fãs nostálgicos da série) e troianos (a nova geração de jovens espectadores). A família de Caça-Fantasmas substitutos continua a não ser especialmente entusiasmante e cómica, Slimer, o fantasma verde, viscoso e comilão, e os minúsculos e irritantes homens de marsmallow voltam a picar o ponto para protagonizarem gags laterais ao enredo (um dos quais a fechar o filme, após a ficha técnica) e há um novo comparsa, Nadeem (Kumail Nanjiani), que se vai revelar precioso no combate ao demónio que quer gelar o mundo, a começar por Nova Iorque.

A exemplo do que acontecia em Caça-Fantasmas: O LegadoCaça-Fantasmas: O Império do Gelo só se anima nos 20 minutos finais, quando os três Caça-Fantasmas originais voltam à cena, vestem os seus uniformes e empunham os lançadores de protões (agora muito melhorados em potência e eficácia) para ajudar os mais jovens a enfrentar o tenebroso e frígido Garraka. Ao qual o Venkman de Bill Murray dispara um par de piadas secas com aquele ar imperturbável e pachola que lhe é característico, depois de beber uns goles de whisky da garrafa que tinha escondida na estação de bombeiros há 40 anos. De resto, Caça-Fantasmas: O Império do Gelo deixa-nos assim para o frio. Já é altura de deixar a série transitar para o Além.