Um estudo divulgado nesta quinta-feira mostra que 94,8% dos indígenas de nove aldeias Yanomami da Amazónia brasileira apresentam altos níveis de contaminação por mercúrio, um metal líquido tóxico despejado nos rios por mineradores ilegais que atuam na região.
De acordo com o estudo da Fundação estatal Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Socioambiental (ISA), o mercúrio foi detetado em todas as amostras de cabelo de 287 indígenas recolhidas em outubro de 2022 em nove aldeias Yanomami, cuja indígena reserva é a maior do Brasil.
O território Yanomami, localizado nos estados amazónicos de Roraima e Amazonas, na fronteira do Brasil com a Venezuela, acolhe 31 mil indígenas que vivem em 370 comunidades.
“Esse cenário de vulnerabilidade aumenta exponencialmente o risco de adoecimento das crianças que vivem na região e, potencialmente, pode favorecer o surgimento de manifestações clínicas mais severas relacionadas à exposição crónica ao mercúrio, principalmente nos menores de 5 anos”, explicou o coordenador do estudo, Paulo Basta, em comunicado.
Em 84% das amostras, foram detetados níveis de contaminação por mercúrio acima de 2,0 microgramas, o dobro do índice considerado crítico pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por outro lado, em 10,8% das amostras o nível de contaminação ultrapassou 6,0 microgramas.
Segundo a Fiocruz, os maiores níveis de contaminação foram encontrados nas aldeias mais próximas às áreas de mineração ilegal.
“Os pesquisadores destacam que indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram défices cognitivos e danos em nervos nas extremidades, como mãos, braços, pés e pernas, com mais frequência”, pode ler-se no estudo.
O avanço da mineração ilegal, que polui os rios e destrói a floresta amazónica, causou dezenas de mortes de indígenas Yanomami nos últimos anos em consequência de desnutrição, pneumonia e diarreia.
Uma das primeiras medidas tomadas por Lula da Silva ao assumir a presidência do Brasil, em 01 de janeiro de 2023, foi decretar emergência sanitária na terra Yanomami para enfrentar os graves problemas de saúde e ambientais causados pela invasão de cerca de 30 mil mineradores ilegais.
Apesar das medidas de emergência, como o encerramento temporário do espaço aéreo e a mobilização de forças militares para expulsar os invasores, a situação na reserva continua catastrófica, segundo a organização não-governamental Survival.
De acordo com um relatório divulgado no início deste ano pela organização, muitos mineradores ilegais voltam à reserva, não houve uma resposta clara das forças armadas para afastá-los e vários postos de saúde da reserva deixaram de funcionar.