É um barril de pólvora em risco de explodir. Ainda antes da campanha para as legislativas, e à boleia de um protesto pela revisão das condições salariais que mobilizou de forma expressivo os elementos da PSP e da GNR, as associações de militares decidiram, de uma forma muito pouco comum, falar abertamente na possibilidade de também os membros das Forças Armadas saírem à rua para mostrar o seu descontentamento. “Para nós, militares, a troika ainda está em Portugal. Pode não estar para a generalidade dos portugueses, felizmente, mas para nós ainda está”, dizia ao Observador o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas.

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Os problemas não são, por isso, uma novidade. Longe disso. O maior deles será, porventura, o da grave escassez de militares em todos e cada um dos ramos das Forças Armadas, que há anos veem decair, de forma quase ininterrupta, o número de efetivos do Exército, da Marinha e da Força Aérea.

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E as reivindicações salariais têm, como se perceberá, tudo a ver com isto. “Não é possível que um soldado ou grumete ganhe o salário mínimo, porque se sabe que não há horários, que há horas extraordinárias, que pode ser colocado a centenas de quilómetros de casa de um dia para o outro e depois não tem dinheiro para transportes e para vir a casa”, dizia ainda o tenente-coronel António Mota. “Qualquer modelo [de organização das Forças Armadas] falha com uma base remuneratória como esta”, apontava o dirigente da AOFA.

O novo ministro, Nuno Melo, e os seus secretários de Estado, Álvaro Castello-Branco (Adjunto e da Defesa Nacional) e Ana Isabel Xavier (secretária de Estado da Defesa Nacional), iniciam-se nas novas funções com uma ameaça, dita e repetida já depois de 10 de março, a pairar sobre as suas cabeças: a de ter os militares em massa em frente à Assembleia da República. “O Governo vai ter de prestar uma atenção muito especial às Forças Armadas”, avisava recentemente António Mota.

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A nova composição do Ministério da Defesa Nacional pode servir para dar alguns sinais de que a mensagem foi recebida. À equipa bicéfala Helena Carreiras (ministra)+Carlos Pires (secretário de Estado) sucede um trio com um peso mais político que os antecessores.

Depois de Luís Montenegro ter confiado a pasta da Defesa ao seu número dois na coligação que venceu as eleições legislativas, agora, Nuno Melo — uma referência mais política que militar — decidiu chamar para a sua equipa Álvaro Castello-Branco, um experiente deputado centrista (soma década e meia nos corredores do Parlamento, entre 1999 e 2009 e, depois, entre 2015 e 2019), a que se junta Ana Isabel Xavier, uma figura mais ligada ao universo académico e à formação na área da Defesa.