O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, anunciou, esta segunda-feira, que não se demite da presidência do governo espanhol. “Assumo a decisão de continuar com mais força se possível. Este não é o destino de um dirigente particular. Trata-se de decidir que tipo de sociedade que queremos ser”, afirmou o socialista.

“Não me demito. Decido continuar”, afirmou Pedro Sánchez aos jornalistas desde o Palácio da Moncla, sublinhando que as “demonstrações de solidariedade” — com as manifestações em toda a Espanha este fim de semana —, influenciaram que ficasse à “frente da presidência”. “Exigir resistência incondicional é pôr o foco nas vítimas e não nos agressores”, denunciou, referindo-se ao que diz ser uma “campanha de descrédito” contra o nome da mulher, Begoña Gómez.

Num apelo aos espanhóis, Pedro Sánchez pediu que a sociedade “volte a ser exemplo” e que não permita que a campanha de assédio contra a mulher continue. “Mostremos ao mundo como se defende a democracia”, pediu o secretário-geral de Espanha.

No discurso, Pedro Sánchez reiterou o que diz ser o “bullying” que a sua família sofre “há dez anos”. “Se aceitamos todos o ataque indiscriminado, não vale a pena. Se o confronto partidário torna-se num exercício de ódio, não vale a pena. Se há mentiras grosseiras sem evidências, não vale a pena.”

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Neste cenário, Pedro Sánchez “necessitava de parar e refletir sobre tudo” durante cinco dias, assegurando que não se tratou de um “cálculo político”. Admitindo que este movimento podia “desconcertar” os espanhóis, o chefe do governo espanhol salientou que nunca se tratou “questão ideológica”. “Não é sobre o legítimo debate de opiniões políticas, é sobre as regras de jogo. Se consentimos que as mentiras deliberadas dirijam o debate político, vamos ser vítimas dessas mentiras.”

Consciente de que o nome da mulher continuará a ser alvo de uma “campanha de descrédito”, Pedro Sánchez assumiu que isso é “grave, mas não é o mais relevante”. “Podemos com ela.”

O chefe do governo espanhol esteve reunido antes de tomar a decisão com o Rei Felipe VI e comunicou-lhe a decisão. Antes do discurso, Pedro Sánchez esteve ainda reunido com María Jesús Montero, vice-primeira ministra, ministra das Finanças e número dois no PSOE, Santos Cerdán León, secretário de Organização do PSOE, e Félix Bolaños, Ministro da Presidência.

Feijóo diz que este discurso foi “o mais perigoso” de sempre

Em reação ao discurso de Pedro Sánchez, o líder da oposição e presidente do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, voltou ao ataque: “Espanha não tem um presidente à altura dos seus cidadãos”. Lamentando a “instabilidade política”, o popular nota uma “Espanha indignada” por o socialista “enganar uma nação de 48 milhões de espanhóis”. “Não participo nessa forma de política. Demitiu-se durante cinco dias por pura estratégia eleitoral, judicial ou ambas, mas pelos problemas dos espanhóis não.”

Citado pelo El Mundo, o presidente do PP atirou contra a imprevisibilidade de Pedro Sánchez e considera que o seu discurso desta segunda-feira é o “mais perigoso de todos o que fez”. “A reflexão de Sánchez termina com a confissão que todos conhecíamos. Que não aceita a diferença. Quer um país à sua medida e a seu serviço”, atacou.

“Chegou a usar o Rei como ator secundário no seu último filme”, prosseguiu Alberto Núñez Feijóo, que disse que Espanha “precisa de um tempo novo” e de um “novo governo com um presidente que esteja à altura”.

Atacando novamente o “teatro” de Pedro Sánchez, o líder da oposição espanhola avisou-o que a “realidade não mudou”, indicando que não vai tolerar qualquer pressão judicial por parte do socialista. “Continua a haver uma investigação na procuradoria europeia, duas investigação [em Espanha] e comissões de investigação que não controlam a alegada corrupção do seu partido, do seu governo e do seu entorno”, afirmou.

Apesar de tudo, Alberto Núñez Feijóo rejeitou apresentar uma moção de censura. No entanto, continua a acreditar que Pedro Sánchez “perdeu uma fantástica oportunidade” para demitir-se. “Procurava a vitimização para não dar explicações.”

A carta e o processo judicial da mulher

Na passada quarta-feira, Pedro Sánchez escreveu uma “carta à cidadania”, em que anunciava que se ia submeter a um “período de reflexão” de cinco dias para ponderar a sua decisão. Em causa esteve, segundo o chefe do governo de Espanha, uma “campanha de assédio” elaborada pelos partidos de direita para explorarem politicamente o caso judicial que envolve a mulher.

Begoña Gómez, mulher do presidente do governo de Espanha, está a ser investigada, por um tribunal de instrução, após denúncias de alegado tráfico de influências e corrupção. Em causa estão suspeitas de favorecimento de uma empresa através de contratos públicos.

De acordo com a denúncia, divulgada pelos jornais espanhóis, Begoña Gómez terá assinado uma carta, enquanto co-diretora do Mestrado em Angariação de Fundos da Universidade Complutense de Madrid, a validar a mais-valia de uma empresa de Carlos Barrabés, num concurso público, que acabou por ganhar.

Espanha. Mulher de Pedro Sánchez investigada por alegado tráfico de influências e corrupção