O Governo já tinha indicado na segunda-feira as razões que levavam a exonerar toda a mesa da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, incluindo a provedora, a qual acusa, no despacho de exoneração, de atuação “gravemente negligente”. Esta terça-feira foram publicadas as exonerações em Diário da República, produzindo efeitos neste 30 de abril. A mesma acusação é feita no despacho de exoneração dos restantes elementos.

Governo justifica exoneração na Santa Casa com incapacidade para enfrentar graves problemas financeiros

De acordo com os diplomas publicados em Diário da República, Ana Jorge é exonerada como provedora e os restantes membros João Correia, Nuno Alves, Sérgio Cintra e Teresa do Passo seguem o mesmo caminho. Ana Vitória Azevedo também sai, mas a exoneração é dada a seu pedido, sendo “dispensada do cumprimento do pedido de pré-aviso”. Já era conhecida a pretensão de Ana Vitória Azevedo sair e fica claro que sai porque pediu. Ao contrário dos restantes elementos.

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No despacho de exoneração de Ana Jorge é explicada a exoneração:

  • pela não prestação de informações essenciais ao exercício da tutela, nomeadamente, a falta de informação à tutela sobre o relatório e contas de 2023, mesmo que em versão provisória, e sobre a execução orçamental do primeiro trimestre de 2024, bem como a ausência de resposta de todos os pedidos de informação até agora solicitados;
  • atuações gravemente negligentes que afetam a gestão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, nomeadamente a ausência de um plano de reestruturação financeira, tendo em conta o desequilíbrio de contas entre a estrutura corrente e de capital, desde que tomou posse até agora.

As mesmas acusações e razões são referidas no despacho de exoneração dos restantes elementos.

Ana Jorge desiludida” com a forma “rude e caluniosa” como foi afastada

Depois destas exonerações, Ana Jorge escreveu aos trabalhadores da Santa Casa, falando da forma “rude e caluniosa” como foi afastada.

Nessa mensagem, a que o Observador teve acesso, Ana Jorge revela-se “desiludida” com a forma “rude e caluniosa” com que foi justificada a sua exoneração da administração da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa , decisão tomada pelo Governo esta segunda-feira que recebeu “com surpresa”.

Em mensagem aos trabalhadores da instituição, a provedora diz que o tempo que passou no cargo foram “11 meses muito duros”, e contraria os argumentos usados para a afastar do cargo. Diz que tinha um plano de reestruturação sólido e que queria implementar.

Santa Casa: Provedora Ana Jorge fica em funções de gestão corrente até nomeação de nova equipa

“É por isso – pelo tanto trabalho, desenvolvido em tão pouco tempo e pelo plano de reestruturação sólido que desenhámos e que queríamos implementar – que hoje não me sinto tão triste. Por isto, só por isto.”

Nesta mensagem a que o Observador teve acesso, Ana Jorge defende o trabalho feito na Santa Casa pela sua gestão. “Avançámos rumo à sustentabilidade financeira, à motivação dos colaboradores e mais importante, no compromisso social que assumimos com milhares de pessoas”.

A ex-provedora diz ainda que vai contar a sua verdade “em tempo e em sede própria” — já foi chamada por vários partidos ao Parlamento — e considera que “hoje, mais do que nunca, tal como na vida, não vale tudo”.

Garante que serviu a SCML com a mesma entrega e espírito de missão com que desempenhou funções públicas e cívicas ao longo da sua carreira. Ana Jorge foi ministra da Saúde e presidente da Cruz Vermelha.

E deixa a “última palavra para todos os colaboradores da SCML. Não houve tempo para fazermos o que estava planeado, mas, por favor, não desistam da SCML, que necessita de cada um de Vós para cumprir a sua ação junto dos mais vulneráveis”.