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Mais de 200 dias depois do ataque de 7 de outubro que espoletou a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza, e depois de várias tentativas falhadas de atingir um acordo para um cessar-fogo, o grupo extremista Hamas, que controla aquele território palestiniano, anunciou esta segunda-feira que aceitou os termos propostos pelos mediadores (Egipto e Qatar) para um acordo com vista a um cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Ao longo das últimas semanas, os países ocidentais foram classificando como “generosas” as ofertas feitas por Israel e consideraram que a bola estava do lado do Hamas: caberia ao grupo palestiniano a decisão sobre a continuação ou não da guerra.
No dia em que começaram a avolumar-se as notícias sobre a iminência de um ataque terrestre a Rafah (cidade no sul da Faixa de Gaza onde estão refugiadas centenas de milhares de pessoas, último reduto do território), com Israel a decretar uma ordem de evacuação da parte leste daquela cidade, o Hamas comunicou que aceitava um acordo para um cessar-fogo.
A informação surgiu perto das 18h de Lisboa através de um curto comunicado: “O irmão mujahid Ismail Haniyeh, líder do gabinete político do movimento Hamas, teve uma conversa telefónica com o primeiro-ministro do Qatar, xeque Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani, e com o ministro das Informações do Egipto, Abbas Kamel, e informou-os da aprovação do movimento Hamas à sua proposta para um acordo de cessar-fogo.”
Num primeiro momento, não houve detalhes sobre o acordo em questão, mas a imprensa israelita começou a avançar alguns dados relativamente às negociações das últimas semanas, levantando o véu sobre o que poderá ser o acordo aceite pelo Hamas.
Tratar-se-ia de um acordo em três fases: em primeiro lugar, uma trégua de 40 dias durante os quais seriam libertados 33 reféns israelitas e centenas de prisioneiros palestinianos; em segundo lugar, uma nova trégua de 42 dias, para a libertação dos restantes reféns e de mais centenas de prisioneiros, para a saída das forças israelitas de Gaza e para o início dos preparativos para um plano de reconstrução da Faixa de Gaza com a duração de cinco anos; em terceiro lugar, uma última trégua de 42 dias, com a troca dos corpos dos reféns que morreram em cativeiro e dos corpos dos prisioneiros palestinianos que morreram em Israel.
Os detalhes não foram confirmados, mas as várias fontes que falaram esta segunda-feira sobre o acordo mencionaram sempre a possibilidade de um cessar-fogo por fases, com cada fase a durar cerca de 40 dias.
Embora o anúncio da aceitação de um acordo tenha sido recebido com festejos na Faixa de Gaza, a partir de Israel foi de imediato colocada água na fervura. De forma anónima, várias fontes israelitas fizeram chegar à imprensa internacional a ideia de que o acordo aceite pelo Hamas não agradava a Telavive. Um responsável israelita disse mesmo à Reuters que o Hamas tinha aceitado uma versão “suavizada” do acordo proposto pelo Egipto. “Parece um estratagema concebido para fazer com que Israel pareça a parte que está a recusar um acordo”, assinalou a mesma fonte.
A resposta oficial de Israel chegou uma hora depois, pelo porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Daniel Hagari, que garantiu que, em termos operacionais, Israel prosseguiria os planos que tem em curso, apesar do anúncio recente de que o Hamas aceitou os termos para um acordo de cessar-fogo. O gabinete de guerra de Benjamin Netanyahu, reunido esta segunda-feira, acabaria por decidir unanimemente a continuação da operação em Rafah.
A ala mais radical do governo israelita, representada pelo ministro da Segurança de Israel, Itamar Ben Gvir, ultranacionalista que tem tido posições radicais em defesa de uma guerra sem tréguas contra os palestinianos, pediu a continuação da guerra contra o Hamas.
“Os exercícios e os jogos do Hamas só têm uma resposta: uma ordem imediata para ocupar Rafah! Aumentar a pressão militar e continuar a derrota do Hamas, até à derrota completa”, afirmou no Twitter.
O ministro Benny Gantz, do gabinete de guerra israelita, também criticou a proposta de cessar-fogo aceite pelo Hamas, classificando-a como “inconsistente com o diálogo mantido com os mediadores até ao momento”.
Já os Estados Unidos reagiram pelo porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, que confirmou que Washington está a “analisar” o posicionamento do Hamas. Miller também voltou a frisar que os EUA não apoiam uma operação militar em Rafah.
Ao final do dia de segunda-feira, porém, as forças armadas israelitas confirmaram estar a conduzir ataques direcionados a alguns alvos do Hamas na zona oriental de Rafah — ataques que os EUA não consideraram constituir uma “operação militar de grande escala”.