O primeiro-ministro, Luís Montenegro, deixou esta quinta-feira — dia da Europa — uma série de avisos sobre o uso dos fundos europeus e a posição que Portugal deve assumir na UE, criticando a “situação de dependência” e o uso pouco “criterioso” das verbas europeias.
Na conferência “Europa, que futuro?”, Montenegro pediu mais “ambição”. “Temos mesmo de fixar como objetivo nacional deixarmos de ser um país da coesão. Temos de ter como ambição para Portugal sermos um contribuinte líquido da UE. Se não vamos estar a eternizar uma situação de dependência, de estarmos sempre à espera de uma ajuda e não a sermos contribuintes do espírito de solidariedade para com aqueles que mais necessitam”, avisou. Portugal deve, em resumo, ambicionar estar no “pelotão da frente” da Europa.
E, para isso, defendeu o primeiro-ministro, “precisamos de fazer um uso muito criterioso dos fundos que temos à nossa disposição”. E fazer uma autocrítica à forma como essa utilização tem sido feita. “Temos de fazer essa autocrítica: não aproveitámos suficientemente. Devíamos ter hoje melhores resultados face aos apoios que tivemos nos últimos anos. É com esse espírito de autocrítica que temos de olhar para os próximos anos”, avisou, passando a repetir as críticas que o Governo tem deixado à execução dos fundos que herdou do Executivo anterior: “Temos de olhar para o PRR, hoje com taxa de execução de 20% mais ou menos a meio do tempo do programa; o PT2030, com 0,5% de execução e muitos regulamentos que ainda não estão feitos”.
Semanas depois de o Governo ter assumido como prioridade uma série de medidas para acelerar e fiscalizar a execução dos fundos, Montenegro insistiu: “Temos de ter as candidaturas aprovadas com muito mais rapidez, menos burocracia, mais capacidade de confiança nos agentes económicas e até nas instituições. Investir de forma estratégica e não apenas a pensar no efeito democrático e quase “onde é que vamos gastar o dinheiro, porque temos de gastar senão vamos perdê-lo”. Essa mentalidade não é a de quem quer estar no pelotão da frente”, atirou, defendendo mesmo que os países que entraram depois de Portugal na UE “vão questionar-se por que continuamos na mesma posição e eles, que entraram 20 anos mais tarde, conseguiram ter desempenho mais rápido e eficiente”.
Montenegro apela a comunicação social que assuma responsabilidade em “combate ao extremismo”
Na mesma conferência, Montenegro deixou ainda avisos sobre os perigos da “desinformação e interferência nos processos democráticos dos Estados membros” e deixou um apelo específico à comunicação social, pedindo que combata esses fenómenos.
O “combate político ao extremismo, ao populismo excessivo, à desinformação” deve ser também um combate em que os órgãos de comunicação social devem “assumir grande responsabilidade”, defendeu, antes de criticar os órgãos tradicionais por “irem atrás” de outras agendas.
“Os órgãos de comunicação social também têm um papel crucial na salvaguarda do interesse de uma informação que proteja o interesse público. Quando os órgãos ditos tradicionais vão atrás das agendas daqueles que querem precisamente minar, seja através das fake news ou de mecanismos ainda mais sofisticados, e alimentam essas agendas, estão indiretamente a contribuir para produzir o resultado que aqueles outros querem obter”, alertou.
Montenegro aproveitou ainda a ocasião para apelar ao voto nas europeias e dar o seu “exemplo”: vai votar antecipadamente e pede aos portugueses que “façam todos os esforços possíveis e utilizem todas as ferramentas à disposição” para votarem.