O escritor João Luís Barreto Guimarães venceu, esta segunda-feira, o 11.º Prémio Literário Glória de Sant’Anna com o livro “Aberto todos os dias”, que a organização do concurso considera uma reflexão poética íntima sobre situações quotidianas geradoras de ansiedade.

O livro editado pela Quetzal destacou-se assim entre as 51 obras que se candidataram ao prémio atribuído pelo Grupo de Ação Cultural de Válega e pelos herdeiros da escritora portuguesa que, natural de Lisboa, onde nasceu em 1925, viveu em Moçambique na época colonial e morreu em 2009 na referida freguesia do município de Ovar, no distrito de Aveiro.

Com um prémio de 3.000 euros e pela primeira vez aberta ao universo lusófono, a 11.ª edição da iniciativa recebeu inscrições de autores radicados em Portugal, Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha e Moçambique, todos com livros de Poesia publicados em língua portuguesa no período de 01 de janeiro de 2022 a 01 de março de 2024.

Entre essas obras, o trabalho de João Luís Barreto Guimarães, já distinguido em 2022 com o Prémio Pessoa, diferenciou-se por um conteúdo que a organização do concurso considera “uma reflexão sobre o valor íntimo das coisas à luz de uma ansiedade atual”.

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O júri da presente edição foi composto pelo crítico literário galego Xosé M. Eyré, pela escritora e tradutora italiana Anna Fresu, pela poeta e ourives portuguesa Andrea Paes, pelo escritor e professor moçambicano Álvaro Carmo Vaz e ainda por Jacinto Guimarães, membro do GAC.

Para Álvaro Carmo Vaz, o livro “Aberto todos os dias” começa por fazer no próprio título uma observação crítica “sobre o descanso semanal sacrificado ao deus sacrossanto do consumismo” e avança depois para versos reveladores de “uma ironia, quase sátira, mesclada de tristeza por certos aspetos da atual evolução tecnológica acelerada, que, mais do que ser oferecida, é imposta por uma certa desumanização da Humanidade”.

Como exemplo disso, o escritor moçambicano aponta o poema “Gostaria de partilhar comigo o resto da sua vida?”, que retrata uma situação que os leitores encontram repetidamente no seu dia-a-dia, face a “máquinas impessoais substituindo a interação com pessoas, sem dar hipótese a uma qualquer rebelião”.

Natural do Porto, onde nasceu a 3 de junho de 1967, João Luís Barreto Guimarães é licenciado em Medicina pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e é atualmente cirurgião plástico no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho.

Desde 2021, o médico e escritor leciona ainda no ICBAS a unidade curricular opcional de Introdução à Poesia e Medicina — Reflexões para uma abordagem interdisciplinar, enquanto parte do plano de estudos do Mestrado Integrado em Medicina desse estabelecimento de ensino superior.

A nível literário, é autor de 12 livros de poesia publicados em várias línguas, os primeiros sete compilados em “Poesia Reunida” (Quetzal, 2011). Depois disso, assinou ainda: “Você está Aqui”, publicado pela mesma editora em 2013; “Mediterrâneo”, que, sob a mesma chancela, venceu o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa em 2017 e o Willow Run Poetry Book Award de 2020; e “Nómada”, que, igualmente lançado pela Quetzal em 2018, foi distinguido como Livro de Poesia do Ano pela Bertrand e venceu o Prémio Literário Armando da Silva Carvalho.

Mais recentemente, o médico e escritor lançou “O Tempo Avança por Sílabas” (2019) e “Movimento” (2020), que conquistou o Grande Prémio de Literatura dst e contribuiu para que o jornal Expresso, com o patrocínio da Caixa Geral de Depósitos, atribuísse ainda ao autor o Prémio Pessoa 2022.