As pessoas com mais carências económicas e maior dificuldade em pagar contas têm menos confiança nas instituições, como partidos ou governo, o que leva a economista Susana Peralta a alertar que essa desconfiança é “terreno fértil” para projetos antidemocráticos.
A análise consta do relatório “Portugal, Balanço Social 2023”, tendo por base uma pergunta do Eurobarómetro, e que dá conta de que 97% das pessoas com dificuldades económicas não confiam nos partidos políticos, 82,5% não confia na Justiça e 66% não confia no Governo ou câmaras municipais.
“As pessoas que vivem numa situação económica mais confortável declaram maior satisfação com a democracia do que aqueles que têm quase sempre dificuldade para pagar as contas”, lê-se no relatório.
Refere que a satisfação com a democracia é menor ao nível nacional do que europeu, apontando que “mais de um em cada dois indivíduos que têm dificuldades manifesta-se insatisfeito com a democracia em Portugal”.
Em declarações à agência Lusa, a economista e investigadora Susana Peralta, uma das autoras do relatório, salientou que são as pessoas que reportam dificuldade em pagar as contas aquelas que têm a menor confiança nas instituições.
“Julgo que o que acontece é que as pessoas sentem-se privadas e sentem-se até, de certa forma, excluídas, no sentido em que observam à sua volta pessoas que têm formas de viver mais confortáveis e [isso dá] a perceção de que o sistema de alguma forma não lhes vale tanto quanto elas entendiam que mereciam e tanto quanto elas veem que o sistema vale aos seus concidadãos”, apontou a professora da Nova School of Business & Economics.
Para Susana Peralta, os elevados números da desconfiança devem fazer a sociedade e as próprias instituições questionarem-se, apontando que são “ilustrativos de um certo terreno fértil para projetos que questionam as bases do sistema”.
“Estas pessoas, que se sentem de alguma forma excluídas do mapa institucional que nós criámos para gerirmos a nossa sociedade, poderão aderir a projetos que questionam as bases destas instituições e isso é problemático”, alertou.
Lembrou, a propósito, o cientista político holandês Cas Mudde, especialista em projetos na extrema-direita populista, que refere que “a extrema-direita traz soluções fáceis para problemas difíceis”.
“Este desligar das pessoas mais frágeis das instituições é um risco para nós em democracia“, enfatizou.