O último jogo da temporada, o último desafio da temporada, a última noite da temporada. O Benfica visitava o Rio Ave num formato quase inglório, na derradeira jornada da Primeira Liga e já sem qualquer objetivo prático, e tudo o que pretendia alcançar era a continuidade depois da goleada ao Arouca há uma semana e um sentimento pseudo positivo no fim da época.
Ainda assim, no universo da Luz, tudo o que se sentia estava muito longe das sensações pseudo positivas. Numa semana em que Rui Costa voltou a ser ouvido pelo Ministério Público e foi considerado suspeito de estar na génese de um plano que tinha como objetivo desviar fundos da SAD encarnada, o presidente do Benfica garantiu que sempre foi “totalmente leal” ao clube. E ainda ouviu Roger Schmidt, dias depois de ser intensamente criticado no próprio estádio, não ter a capacidade de garantir a continuidade no cargo.
Ficha de jogo
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Rio Ave-Benfica, 1-1
34.ª jornada da Primeira Liga
Estádio dos Arcos, em Vila do Conde
Árbitro: David Silva (AF Porto)
Rio Ave: Miszta, Pantalon, Aderllan Santos, Patrick William, Costinha, João Graça (Fábio Ronaldo, 45′), Mateo Tanlongo (Adrien Silva, 45′), Amine, Vrousai, Ukra (Joca, 20′), Boateng
Suplentes não utilizados: Jhonatan; Miguel Nóbrega, Vítor Gomes, Úmaro Embaló, Hélder Sá, Zé Manuel
Treinador: Luís Freire
Benfica: Samuel Soares, Fredrik Aursnes, Otamendi, Morato, Álvaro Carreras (Juan Bernat, 87′), Florentino, João Neves, Rollheiser, Kökçü (Gianluca Prestianni, 87′), João Mário, Tengstedt
Suplentes não utilizados: Trubin, Leo Kokubo, António Silva, Tiago Gouveia, Diogo Spencer, João Rêgo, Gustavo Varela
Treinador: Roger Schmidt
Golos: Kökçü (32′), Costinha (gp, 90+3′)
Ação disciplinar: cartão amarelo a João Graça (23′), a Tengstedt (39′), a Patrick William (45′), a Adrien Silva (86′), a Kökçü (86′)
“Este não é o momento para sobre isto. No final, o mais importante é o Benfica. Haverá assuntos a serem discutidos depois de a temporada acabar, isso é bastante claro. Foi uma época dura e, como disse no domingo, falaremos sobre isso depois de acabar. Já respondi tantas vezes a esta pergunta… Não vou falar mais sobre isso. Vamos tentar fazer um bom jogo e levar os três pontos. Foi uma época muito exigente, mas queremos ir de férias com boas sensações”, explicou o treinador alemão na antecâmara da partida desta sexta-feira.
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Assim, em Vila do Conde e quando se esperava a derradeira despedida de Rafa e Di María, ambos ficavam de fora e nem sequer surgiam no banco. Schmidt lançava Samuel Soares, Morato e Rollheiser, com Kökçü nas costas de Tengstedt, e tinha os jovens Prestianni, Diogo Spencer, João Rêgo e Gustavo Varela como suplentes. Do outro lado, num Rio Ave tranquilo e sem perder há três meses, Luís Freire dava a primeira titularidade da temporada a Ukra, que realizava também o último jogo da carreira.
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Os vilacondenses acabaram por protagonizar a primeira oportunidade do jogo, com Vrousai a rematar por cima de fora de área (3′). O Benfica respondeu pouco depois através de Tengstedt, que ficou na cara de Miszta mas permitiu a defesa do guarda-redes (6′), e o avançado dinamarquês ainda teve outra ocasião para inaugurar o marcador que foi intercetada pelo guardião polaco (17′). Nesse instante, porém, surgiu um dos momentos da jornada: Ukra foi substituído por Joca, recebendo uma ovação brutal no Estádio dos Arcos e passando por um corredor de honra composto por colegas e adversários.
Os encarnados iam dominando o jogo, ainda que nunca de forma absoluta e sufocante, e o Rio Ave procurava responder à superioridade contrária: exemplos disso foram o remate de Patrick William, para defesa de Samuel Soares (22′), e o cabeceamento ao lado de Boateng (25′). Logo depois, contudo, o Benfica conseguiu abrir o marcador: Aursnes lançou Tengstedt, o avançado temporizou e deixou em Kökçü, que atirou colocado para bater Miszta (32′).
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Era precisamente assim que os encarnados iam causando perigo. Com bolas longas de Aursnes, essencialmente, Tengstedt explorava as costas do adversário e tinha muito espaço para correr sem que a defesa do Rio Ave demonstrasse capacidade para travar as investidas com ou sem bola do avançado dinamarquês.
Já pouco aconteceu até ao intervalo, à exceção de um remate perigoso de João Mário que Miszta voltou a parar (40′), e o Benfica foi mesmo a vencer o Rio Ave para os balneários. Os encarnados eram naturalmente superiores aos vilacondenses, mas a margem mínima permitia a Luís Freire implementar uma estratégia que tivesse como objetivo ir atrás do resultado.
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Só Luís Freire mexeu ao intervalo, lançando Fábio Ronaldo e Adrien, e o Benfica poderia ter aumentado a vantagem logo nos instantes iniciais da segunda parte com um remate de Kökçü que passou por cima (50′) e outro de Rollheiser que saiu contra um adversário (53′). A lógica mantinha-se, com os encarnados a terem o jogo aparentemente controlado, mas sem que o Rio Ave abdicasse por completo de procurar chegar perto do último terço contrário.
Já depois de Tengstedt ter uma enorme oportunidade para marcar, com um remate forte que Miszta parou (61′), Roger Schmidt fez a primeira substituição e trocou Rollheiser por Tiago Gouveia. Do outro lado, Freire voltou a mexer e lançou Úmaro Embaló. O jogo ia perdendo algum nexo e critério, com o Benfica a manter a superioridade, mas já com muita displicência no último terço e a noção clara de que o resultado para nada servia.
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Os encarnados tiveram várias oportunidades para aumentar a vantagem nos últimos 20 minutos, através de um quase autogolo de Patrick William (73′) e um remate por cima de Otamendi (74′), e Roger Schmidt aproveitou para estrear os avançados Gustavo Varela e Gianluca Prestianni. Boateng ainda bateu Trubin, com um remate rasteiro e cruzado, mas o lance foi prontamente anulado por fora de jogo (77′) e o empate só surgiu já perto do apito final. Florentino tocou com a mão na bola na área do Benfica e Costinha, na conversão da grande penalidade, igualou a partida (90+3′).
No fim, apesar de todas as ocasiões desperdiçadas, o Benfica não foi além de um empate em Vila do Conde contra o Rio Ave e corre o risco de terminar a temporada a dez pontos da liderança do Sporting se os leões vencerem o Desp. Chaves este sábado. Na última jornada da época, a equipa de Roger Schmidt não conseguiu afastar uma noite cinzenta que é clara moldura de um quadro negro que já ninguém é capaz de disfarçar no universo encarnado.
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