Portugal viveu, nos últimos anos, uma polarização baixa, quase sem campanhas na desinformação, mas na campanha das eleições legislativas, em 10 de março, foram detetados, pela primeira vez, “indícios de interferência externa” em anúncios ‘on-line’, resultado de um projeto do ISCTE com a Lusa.
E investigadores do observatório Iberifier alertaram que há agora motivos preocupantes pelo risco de utilização das redes sociais por partidos pequenos e radicalizados.
Na Europa, nos últimos meses, multiplicam-se as iniciativas de alerta para o risco de desinformação durante este período eleitoral em 27 países.
Em 12 de abril, numa entrevista à Lusa, a vice-presidente da Comissão Europeia, Vera Jourová, admitiu que a Europa vive num terreno fértil para a manipulação política em ano de eleições europeias. E apontou as ameaças ao processo eleitoral europeu: “o ambiente na sociedade”, “um estado de espírito”, de “medo, ansiedade e incerteza” devido à guerra na Ucrânia e ao pós-pandemia.
Ainda em Bruxelas, o gabinete estatístico da União Europeia, Eurostat, lançou um serviço específico sobre verificação de factos e dados.
Para estas europeias, a Comissão Nacional de Eleições (CNE) e a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) fizeram protocolos com universidades para acompanhar o fenómeno durante a campanha eleitoral.
Também o Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) alertou para os riscos do uso da Inteligência Artificial em “conteúdos fraudulentos” em tempos de eleições, mantendo a “cooperação com as diferentes autoridades nesta matéria”.
E o Polígrafo já tem uma parceria com a Comissão Europeia, com uma produção quase diária.
No início de maio, a CNE e o ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa assinaram um protocolo para “monitorizar e despistar desinformação política” na campanha eleitoral para as europeias de 09 de junho.
O ISCTE, através do MediaLab, já tinha feito um projeto idêntico, com a Lusa, para as legislativas de março. Um dos objetivos era identificar os conteúdos desinformativos atribuídos aos partidos ou candidatos pelos ‘fact-checkers’ nacionais credenciados pela International Fact-Checking Network (IFCN), Polígrafo, Observador Fact Check e Público – Prova dos Factos, e avaliar o impacto nas redes sociais, medido em interações e visualizações.
Já a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) vai ter um sistema para identificar e dar o alerta para situações de desinformação até às eleições europeias de 09 de junho.
Em declarações à Lusa, Telmo Gonçalves, membro da ERC, afirmou que o regulador tem uma parceria com a Labcom, unidade de investigação de comunicação da Universidade da Beira Interior, na Covilhã (Castelo Branco), para “monitorizar e identificar ações de desinformação que surjam nas plataformas digitais”, como o Facebook, Instagram ou TikTok, relacionadas com as eleições europeias, “mas com impacto em Portugal”.
A nível externo, disse Telmo Gonçalves, está ainda prevista a cooperação da ERC com o Grupo de Reguladores Europeus do Audiovisual (ERGA e “apoiar a Comissão Europeia na identificação de situações de desinformação”.
Na área da cibersegurança, o CNCS admite que desinformação é “uma ameaça importante” no atual contexto geopolítico internacional e avisa para os riscos do uso da Inteligência Artificial em “conteúdos fraudulentos” em tempos de eleições.
Em resposta a questões enviadas pela Lusa, o CNCS, que é autoridade nacional para a cibersegurança, afirma que, neste período, “mantém-se ativo na cooperação com as diferentes autoridades nesta matéria, no que diz respeito a eleições e outros eventos críticos”.