O Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou a perspetiva de crescimento do Brasil no médio prazo e recomendou, num comunicado divulgado esta terça-feira, um esforço fiscal sustentado e mais ambicioso, com medidas visando tanto a receita como a despesa.
O empenho contínuo das autoridades para melhorar a posição fiscal do Brasil é bem-vindo. Para posicionar a dívida pública numa trajetória firmemente descendente e abrir espaço para investimentos prioritários, o corpo técnico do FMI recomenda um esforço fiscal sustentado e mais ambicioso, apoiado por medidas que visem tanto a receita como a despesa e um quadro fiscal reforçado”, diz o FMI.
A recomendação consta do relatório após uma visita de uma equipa do FMI ao país sul-americano, liderada por Ana Corbacho e Daniel Leigh, em que o corpo técnico do fundo manteve discussões com as autoridades brasileiras e representantes de vários setores em maio.
“A economia brasileira tem mostrado uma resiliência notável com a queda da inflação nos últimos dois anos. As projeções indicam uma moderação do crescimento para 2,1% em 2024 e 2,4% em 2025, frente a 2,9% em 2023″, destacaram os analistas do FMI.
O corpo técnico do FMI prevê que o crescimento da economia brasileira seja moderado no curto prazo, “antes de se fortalecer e alcançar 2,5% no médio prazo — uma correção para cima frente aos 2,0% projetados na ocasião das consultas de 2023″.
“A inflação deve chegar a 3,7%, no fim de 2024, e convergir para a meta de 3% na primeira metade de 2026. O défice em conta corrente diminuiu em 2023, graças ao forte excedente comercial e foi financiado pelo [investimento direto estrangeiro] IDE robusto”, acrescentou.
O FMI menciona que os riscos para as perspetivas de crescimento atenuaram-se desde as consultas de 2023, contudo, “as estimativas dos efeitos macroeconómicos e fiscais adversos da calamidade das enchentes no Rio Grande do Sul ainda são incertas“, referindo-se as inundações que devastaram o estado mais ao sul do país, que já deixaram 170 mortos e afetaram pelo menos 2,3 milhões de pessoas.
A equipa do FMI diz que o Brasil possui um sistema financeiro sólido, reservas cambiais suficientes, baixa dependência de endividamento em moeda estrangeira, grandes reservas de caixa do Governo e taxa de câmbio flexível, condições que continuam a apoiar a resiliência do país e considera que o ritmo cuidadoso do relaxamento da política monetária, desde agosto de 2023, tem sido adequado e compatível com as metas de inflação.
“Com vista ao futuro, dadas as fortes condições do mercado de trabalho e as expectativas de inflação acima da meta de 3%, é prudente manter a flexibilidade do ciclo de redução dos juros”, destacou o FMI.
Os técnicos realçam ainda que “a implementação do Plano de Transformação Ecológica está acelerando, com o compromisso do Governo [brasileiro] de acabar com o desflorestamento ilegal até 2030”, e citaram a emissão do primeiro título público sustentável global ESG, no valor de dois mil milhões de dólares (1,8 mil milhões de euros), lançado pelo Governo brasileiro no ano passado.
“Face aos consideráveis défices de financiamento climático, louvamos o progresso na criação de instrumentos para atrair financiamento verde de longo prazo“, refere a equipa técnica do fundo, instando o Brasil a “investir em oportunidades de crescimento verde”, que podem “aumentar ainda mais o potencial económico”.