O grupo José de Mello lucrou, em 2023, 95 milhões de euros, um crescimento de 3,2% face aos 92 milhões um ano antes. Em conferência de imprensa, Salvador de Mello assume um crescimento nos resultados consolidados, mas também em cada um dos negócios em que está presente. Mas prefere não dar as projeções para este ano em termos de resultados.
É um momento desafiante, admite. “A instabilidade geopolítica internacional tem marcado os últimos anos e vai continuar a marcar 2024 e os próximos”. Acresce “a instabilidade política interna” que “também é uma realidade”. Salvador de Mello concretiza: “O que saiu das eleições não foi uma situação que garanta a estabilidade e a tranquilidade que nos deixe a todos sossegados”.
Neste cenário de instabilidade, a inflação elevada — “que está a decrescer” — “teve impacto significativos em custos”, além da subida das taxas de juro. Ou seja, um “cenário desafiante” também resultado da desaceleração do crescimento económico a nível europeu. Apesar disso, “2023 teve resultados muito positivos”, assumindo o presidente do grupo José de Mello que foi reforçado “o posicionamento de liderança em todos os setores em que estamos investidos”, com “resiliência para resistir e ultrapassar as condições de contexto”.
Ainda assim, o grupo José de Mello anunciou um aumento de lucros, por via também do crescimento do negócio. Em termos consolidados, o volume de negócios atingiu os 1.319 milhões de euros, mais 5% que os 1.255 milhões do ano anterior. A rentabilidade traduzida pelo EBITDA também cresceu para 204 milhões de euros, face aos 192 milhões de euros em 2022.
A CUF, na área da saúde, é um dos principais negócios do grupo José de Mello. Mas Salvador de Mello não quis pronunciar-se sobre o plano que o Governo apresenta esta quarta-feira. E também não comentou o eventual regresso das PPP (parcerias público-privadas) na área da saúde que este Governo poderá pretender fazer, remetendo as questões sobre o tema para o próprio Executivo. “A CUF tem o seu projeto traçado e o seu projeto naturalmente, neste momento, não passa por PPP”, disse Salvador de Mello, que recordou os investimentos que o grupo está a fazer com o lançamento, em 2023, do Hospital Internacional dos Açores, a abertura da CUF Leiria, que é o primeiro passo para a abertura de um hospital, e o anúncio de um hospital nos próximos anos na Covilhã. “A CUF continua a ter um conjunto de crescimentos importantes”, salienta Salvador de Mello.
O responsável pela holding José de Mello não aprofundou os comentários sobre a situação política, recordando apenas os grandes anúncios sobre o aeroporto, terceira travessia sobre o Tejo (em Lisboa) e alta velocidade. “A instabilidade política é um dado, e temos de ter agilidade de trabalhar nessas circunstâncias” e há decisões que estão a ser tomadas.
Uma que será tomada nos próximos tempos tem a ver com a nova área de negócio ligada ao lítio. O grupo criou, com a Bondalti (a sua empresa química), a Lifthium para os projetos de lítio verde. Salvador de Mello, mais recuado do que o presidente da Bondalti e o presidente da própria Lifthium, diz que depois da verificação de produção que foi feita em instalações de terceiros no Canadá, será feito um piloto numa escala mais pequena antes de se passar para um piloto mais reforçado. Só a seguir é que haverá a decisão do investimento e da localização da fábrica de refinação. Salvador de Mello diz que a localização não está decidida. Embora recentemente Duarte Braga, que foi escolhido para liderar o projeto, tenha revelado a jornalistas internacionais, segundo o Jornal de Negócios, que a produção na primeira fábrica de refinação em Portugal começará em 2027. Já teria traçada a localização — Estarreja, onde está o pólo industrial da Bondalti.
Nessas declarações indicava-se ainda que, além desta unidade, estaria prevista uma segunda fábrica. Salvador de Mello diz que as localizações não estão decididas, devendo ser escolhida entre Portugal e Espanha, dependendo dos incentivos, das condições para uma rápida execução, do licenciamento. Há a hipótese, por isso, de “fazer tanto em Portugal como em Espanha”.
E também não avançou com valores de investimentos previstos, embora nessa notícia se indique um valor de 500 milhões para cada unidade. E já antes João de Mello, da Bondalti, tinha apontado uma intenção de investir no lítio verde até 1.200 milhões.
Para já o grupo está sozinho neste projeto, mas Salvador de Mello não descarta ter parceiros. “Veremos com bons olhos naturalmente trazer parceiros para o projeto, provavelmente mais à frente”. O responsável pelo grupo realçou, em conferência de imprensa, “o entusiasmo em relação ao objetivo de virmos a ser um player relevante na refinação de lítio a nível europeu”.
Um dos maiores investimentos em curso pelo grupo decorre neste momento, com a OPA lançada pela Bondalti à espanhola Ercros, que pode significar uma despesa de 330 milhões de euros, estando a aguardar desenvolvimentos regulatórios.
A estrutura do balanço da José de Mello é hoje confortável, tendo em 2023 voltado a descer a dívida para 721 milhões de euros.