Título: Talassa. O Mar afinal não é azul 
Texto: Judite Canha Fernandes 
Ilustrações: Yara Kono 
Editor: Pato Lógico, Imprensa Nacional e Aquário Vasco da Gama 
Páginas: 48 
Preço: 10 € 

Depois de Mar Atividário de Ricardo Henriques e André Letria (2012), Verdade?! de Bernardo P. Carvalho (2015), Barriga de Baleia de António Jorge Gonçalves (2017), Os  Peixes que Fugiram da História de Maria João Freitas e Mariana Rio e Pequeno e Precioso: O Cavalo-Marinho de Joana Bértholo e Mariana Malhão (2021), a editora Pato Lógico lança  este livro de Judite Canha Fernandes e Yara Kono, insistindo na literacia ambiental dos  seus leitores de palmo e meio ou já de dois palmos e tanto. Nunca é de mais, de facto,  dar aviso — sob todas as formas abertas pela imaginação — às gerações do futuro sobre o estado actual do mundo e o que cada um de nós pode e deve fazer para travar a corrida desenfreada para o suicídio planetário. Não é lícito dizer «quem cá estiver para ver que se  amanhe». A prodigiosa maravilha de ecossistemas complexos em que a vida humana se  inseriu — e ela própria — merece muito mais que isso.

Mostrar que gestos e boas práticas no quotidiano, por pequenas que sejam ou  aparentem ser, são a quota-parte individual de cada um como parcela duma solução, conservadora e revolucionária ao mesmo tempo, que nunca chegará apenas por virtuosa porém improvável habilidade de autarquias, governos e instituições internacionais, é  dizer, e bem, que estamos diante de um enorme imbróglio que todos interpela e desafia.  Explicar o que se passa de forma clara e com dados actualizados já é algum caminho andado para se alcançar uma literacia ambiental tão precoce quanto possível. E o tema oceano, ou mar, pela fácil, imediata percepção que em qualquer ponto do globo é dada  pela sua fluidez ininterrupta afigura-se como o mais sugestivo e adequado para transmitir  o carácter global da urgência climática. «Alguma vez pensaste que a saúde do planeta  depende da saúde dos oceanos? Além de ser fundamental para a regulação do clima e do cuclo da água, os oceanos também são muito importantes na produção de oxigénio e na  absorção de gases com efeito de estufa, nomeadamente o carbono. Metade do oxigénio  do planeta é produzido pelos oceanos», lê-se a dado momento.

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Judite Canha Fernandes escolheu abordar o tema imaginando uma Grande Reunião  dos Oceanos para discutir tudo isto, exibindo diferenças de carácter ou de humor entre eles, mas o que fica é um discurso dum só com variantes que têm como finalidade cativar a atenção — diria mesmo a perplexidade — dos pequenos leitores para o que vai sendo de 201z4.

dito, e vai explicado ou desenvolvido em breves mas elucidativas didascálias, à maneira de  verbetes de dicionário ou enciclopédia, quer ao longo livro quer já no fim, como «bolas de  Neptuno», «Fitoplâncton», «Redes de arrasto», «Antropoceno», «Efeito de Coriolis», e  outras, como «Peixe-lua», «Baleia-de-bossa» e «Peixe-diabo-negro». Surge então, de  repente, Círia, uma menina de 7 anos nascida em Santa Maria, Açores, sabichona da história dos oceanos, que saiu a plantar ilhas, corais, plantas e filoplâncton e foi dar, já  perdida, à Terra Nova, intrometendo-se no fórum dos irmãos oceanos («Uma humana!  Não estávamos nada à espera!»). E com ela aparece o Tempo — Cronos, na figura duma  ursa-polar («Nós também estamos a desaparecer). A conclusão é pragmática e pró-activa,  como convém: a dupla página que informa sobre «O que se está a fazer» e «O que podes  fazer» (dez coisas, que «podes fazer tu» ou «podes propor ou conversar com a família»).

E uma vez que, logo depois, o programa educativo Geração Azul é invocado, cabe  perguntar porque é que livros como este — e não apenas este, obviamente — não são  adaptados aos sistemas audiovisuais das salas de aula no primeiro e segundo ciclos,  generalizando a literacia ambiental, em particular esse «O que podes fazer» tão  indispensável ao bom regulamento dos dias de amanhã? Para isso apontam, aliás, a capa e  sobrecapa que, abertas, se desdobram em mapas-síntese de bom efeito pedagógico. Até  quando se esperará para que estes temas sejam introduzidos como prioridade na  instrução e ilustração dos pequenos portugueses, para que os comecem a ter em devida  conta nos seus gestos diários? País atlântico, estamos desde o início fortemente  condicionados pela nossa condição marítima, que agora tem desafios de alcance  imprevisível, para os quais conviria estarmos minimanente preparados. Um pequeno  esforço, portugueses!