Há quatro dias Luís Montenegro lançou ao independente que tem na primeira linha do combate eleitoral o desafio para se filiar no partido. Há um ano desafiou um antigo líder a “voltar a casa”. Pedro Santana Lopes e Sebastião Bugalho continuam ambos independentes e parecem ter outra coisa em comum: não negam a entrada no partido, mas não podem perder o estatuto de independente agora. Encontraram-se os dois esta quinta-feira, na praia Cova Gala na Figueira da Foz, para trocar cromos de outros pontos em comum e alguma futurologia.

Santana trata Sebatião por tu, o cabeça de lista não larga o “dr.” que se junta num apoio rápido logo pela manhã — muito parecido com o que já tinha acontecido com Montenegro nas legislativas. A entrada do ex-líder na campanha das Europeias fá-lo recuar às europeias de 1987: “Isto faz-me lembrar a minha candidatura. Era mais velho do que tu”. “Tinha 29?”, perguntou Bugalho. “Não, isso foi quando entrei para o Governo. Tinha 31 quando fiz a campanha para o Parlamento Europeu e fui o primeiro deputado eleito por sufrágio universal direto”, respondeu o presidente da Câmara da Figueira.

[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]

Santana Lopes aparece na praia da Figueira da Foz para apoiar Sebastião Bugalho

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Desavindo com o PSD, começou uma aproximação já na liderança de Montenegro e participou até na Convenção da AD antes das legislativas. Quanto à refiliação no partido de sempre, Santana continua a remeter o assunto para o fim do mandato autárquico, quando questionado sobre se vai combinar entrar com Bugalho: “Nunca pensei combinar isso com ele vamos ver… ainda tenho um ano e tal de mandato…”.

Curiosamente, esse termina quando o país entra noutra corrida, a presidencial, com Santana a ser colocado numa das pistas. O próprio não se desvia e é ele mesmo quem puxa o tema à liça, enquanto elogia as qualidades políticas de Bugalho: “Para o ano ainda não tem 35 anos, senão era um perigo.” Foi logo questionado sobre se temia a concorrência, mas desvia o assunto e diz que com Bugalho “era a certeza de que teríamos um bom presidente”. Mais uma insistência dos jornalistas e o autarca dispersa, entre risos: “Vocês gostam muito de conversa… vamos ver o mar.”

Por enquanto são apenas dois independentes próximos da AD, mas ambos com cálculos políticos futuros. O de Sebastião e se passa pela entrada do PSD é estrategicamente deixado de lado neste momento. Montenegro deixou-lhe o desafio, é certo, logo no comício de Évora, mas o cabeça de lista não lhe tocou mais. Afinal, o estatuto de independente tem sido usado pelo próprio — e também pelo líder do partido — como uma vantagem competitiva nesta candidatura às europeias.

Seja como for, Bugalho desperta em Santana — um especialista em ler nas estrelas futuros políticos — uma certeza: terá futuro político. “Não é preciso acreditar, basta a proteção do altíssimo para isso vir a acontecer, é preciso é saúde”, declarou convicto de que o resto o cabeça de lista já terá. Deixou-lhe elogios, sendo o maior “a solidez” e a “correção da postura” que, na sua opinião, estão a fazer “a diferença” na campanha na AD ao ponto de Santana nem sequer ver “razões para castigar” o Governo. Sabe que as Europeias são não poucas vezes um momento para essa avaliação eleitoral, mas desta vez está convencido de que Luís Montenegro não tem motivos para preocupações. Essa ainda não leu nas estrelas.