Muitas vezes não basta parecer, é preciso ser. Portugal foi. A despromoção à Liga B foi um obstáculo extra no caminho em ascensão da Seleção feminina, que pela primeira vez na história participou em duas fases finais de Europeus e uma do Campeonato do Mundo, mas nem por isso o caminho que estava a ser feito sofreu um qualquer desvio. Mudava o contexto e, nesta nova realidade, o conjunto nacional partia como favorito no grupo B3 de qualificação para o Campeonato da Europa de 2025. Favorito na teoria, favorito na prática nos dois primeiros encontros realizados frente à Bósnia e em Malta. Agora seguia-se um duplo confronto com a Irlanda do Norte que, em caso de duplo triunfo, fechava as contas do primeiro lugar.

Há sempre uma Jéssica para animar a Malta: Portugal volta a vencer e lidera grupo de qualificação para o Europeu feminino

“Não olhamos desse modo, como se fosse decisivo. O caminho está bem trilhado, sabemos da importância destes dois jogos. Cada encontro são três pontos, assim como foi a partida de Malta. Queremos estar focados, o adversário está em segundo lugar e ainda não perdeu. Cabe-nos fazer tudo para vencer o jogo e ir para o jogo fora com uma vantagem ainda maior. Temos de ser muito competentes, o jogo não será fácil”, apontava Francisco Neto antes da partida em Leiria frente a um conjunto britânico que, depois do nulo com Malta, protagonizou a única surpresa do grupo até agora com um triunfo fora diante da Bósnia.

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“A Irlanda do Norte é uma equipa com um grupo de jogadoras muito experiente e com registos e contextos diferentes. Sabemos que a nível internacional não há jogos fáceis. É uma equipa com capacidade tática para se adaptar e que dentro do próprio jogo muda muitas vezes o seu sistema tático para ajustar-se aos adversários. Temos de estar muito atentos a isso e termos a nossa identidade e o caráter que temos mostrado ao longo deste tempo”, acrescentara o selecionador nacional, recusando qualquer tipo de facilitismo e colocando o enfoque no terceiro triunfo que reforçasse a liderança do grupo B3 da Liga B.

À semelhança do que acontecera com Bósnia e Malta, havia quase um “duplo desafio” para Portugal, com um lote de convocadas onde entravam algumas surpresas mas que mantinha a base que tem feito todo o percurso dos últimos anos. Por um lado, e de forma mais visível, existia a questão do jogo e do resultado, importante para manter a Seleção na frente. Por outro, a vontade de manter a identidade construída ao longo dos anos, num futebol positivo de cariz ofensivo que se tornou uma imagem de marca das Navegadoras, contra equipas sem tantos argumentos como aquelas que fizeram “crescer” Portugal. Foi isso que voltou a acontecer com os dois objetivos concretizados e uma noite especial para Lúcia Alves: depois de ter sido fundamental na decisão da Taça de Portugal no dia em que perdeu a avó materna, a lateral voltou a marcar com um fantástico chapéu, bisou no final e teve outro momento de homenagem que deixou o Municipal de Leiria de pé.

A Seleção não demorou a acercar-se com perigo da baliza norte-irlandesa, a ponto de ter ficado muito perto de marcar com apenas 25 segundos de jogo num cabeceamento de Telma Encarnação após cruzamento de Jéssica Silva que bateu nas costas de uma adversária quando seguia para a baliza. Jéssica teria também uma boa oportunidade para marcar depois de um passe de Ana Borges (11′) mas seria de bola parada que chegaria o primeiro golo do encontro, com Lúcia Alves a ser empurrada na área após um livre direto descaído sobre a direita de Joana Marchão defendido para a frente por Jacqueline Burns e Carole Costa, com a frieza habitual, a fazer o 1-0 de grande penalidade (25′). Joana Marchão, Telma Encarnação e Lúcia Alves ainda teriam remates com perigo para aumentar a vantagem mas o intervalo chegaria sem mais golos.

Faltava esse 2-0 para a equipa se soltar mais em campo e não demorou a chegar após o reatamento: depois de um passe longo de Andreia Jacinto a explorar a profundidade, Lúcia Alves viu o adiantamento da guarda-redes da Irlanda do Norte e fez um chapéu fantástico que deixou o Municipal de Leiria em festa pelo grande momento da lateral do Benfica (49′). Portugal tinha a vitória na mão e com margem para poder aumentar a expressão dessa superioridade, o que só não aconteceu pouco depois porque o desvio de Andreia Norton após livre de Joana Marchão bateu na trave (51′). No entanto, e com o passar dos minutos, o ritmo foi caindo até Catarina Amado, acabada de entrar, subir bem pelo flanco direito e aparecer para fazer o 3-0 numa jogada com muitas semelhanças à que tinha dado o 2-0 no início do segundo tempo (83′). Já em período de descontos, em mais uma insistência na área, Lúcia Alves surgiu ao segundo poste e fez o 4-0 final (90+6′).