Depois da conquista da Taça dos Campeões Árabes, com um bis que selou no prolongamento a vitória, tudo apontava para um Cristiano Ronaldo a lutar por todos os títulos nacionais e continentais pelo Al Nassr. Essa luta existiu, os resultados ficaram aquém. A equipa de Riade não conseguiu contrariar um super Al Hilal que não deu qualquer hipótese no Campeonato e ficou na segunda posição, perdeu a final da Supertaça também contra a formação de Jorge Jesus e acabou por cair nos quartos da Liga dos Campeões asiática frente a um Al Ain de Hernán Crespo que surpreendeu com a conquista do troféu. Sobrava, agora, a Taça do Rei saudita, no último encontro oficial da temporada. E sobrava essa motivação extra, se ainda fosse necessário, de mais uma série de recordes batidos na primeira época completa no Médio Oriente após deixar Manchester.

Os deuses são mesmo eternos: Ronaldo bisa, marca seis golos em cinco jogos e conquista Taça dos Campeões Árabes pelo Al Nassr

A derradeira partida no Campeonato, que terminou com uma vitória por 4-2 diante do Al-Ittihad, foi mais um exemplo disso mesmo. Ao contrário de jogadores como Brozovic, Otávio, Laporte ou Alex Telles (Talisca está lesionado), Ronaldo foi titular num encontro que em termos coletivos pouco ou nada tinha em disputa e alcançou aquilo que estava em “jogo”. Ou seja, além de carimbar o título de melhor marcador da competição, tornando-se o primeiro jogador a alcançar o feito em quatro países diferentes (Inglaterra, Espanha, Itália e Arábia Saudita), o avançado conseguiu também bater o recorde de golos numa só edição da prova, superando o recorde que pertencia a Abderrazak Hamdallah, quando estava também no Al Nassr (35-34).

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Confirmou um recorde, bateu outro recorde: Ronaldo bisa na última jornada e torna-se o melhor marcador numa edição da Liga saudita

“Orgulhoso por fazer história como melhor marcador em quatro países. Um enorme obrigado a todos os clubes, colegas de equipa e staff que me ajudaram ao longo do caminho”, escreveu o número 7 nas contas oficiais nas redes sociais. “Estou muito feliz. Em primeiro lugar pela vitória da equipa e por ter acabado bem o campeonato. E depois bater um recorde de golos da Liga… Vou confessar que fico muito feliz. Não estava à espera e é importante para mim. O mais importante é sempre a equipa. Estamos em boa forma… Estamos a melhorar. Acabámos bem a Liga e agora é ganhar a Kings Cup. O que posso esperar é que a equipa possa jogar bem, que possa ser uma final bem disputada e que seja justa. É o que mais peço”, destacara antes na zona de entrevistas rápidas após o triunfo com o Al-Ittihad que fechou o Campeonato saudita.

Todas as atenções estavam assim focadas na Taça do Rei. As do Al Nassr e também as do Al Hilal. Ao longo de 52 encontros desde essa final da Taça dos Campeões Árabes, entre Campeonato, Taça, Supertaça e Liga dos Campeões Asiática, a equipa de Jorge Jesus, que renovou esta semana por mais uma temporada com o clube de Riade, sofreu apenas uma derrota frente ao Al Ain e somou dois troféus, podendo agora fazer o pleno de títulos nacionais depois de uma última jornada onde poupou também os habituais titulares. Mais uma vez, o Al Hilal não perdeu nem no tempo regulamentar nem no prolongamento, numa final que parecia ter na mão antes de os dois centrais perderem a cabeça e serem expulsos. Tudo ficaria adiado para as grandes penalidades na decisão em Jeddah que começou a 31 de maio e acabou a 1 de junho na Arábia Saudita, com Ronaldo, que não marcou qualquer golo e foi apanhado inúmeras vezes em fora de jogo, a terminar a chorar no relvado como se tivesse acabado de perder o primeiro troféu da carreira…

Um pouco à semelhança dos últimos encontros entre os dois conjuntos, que tinham terminado em empate ou vitória do Al Hilal, a eficácia começou por ser o fator diferenciador e bastou um minuto para que a diferença ficasse espelhada: numa primeira jogada, Alkhaibari conseguiu isolar Sadio Mané na área mas o remate saiu por cima da trave; na jogada seguinte, quando Luís Castro estava ainda a tentar perceber como não estava em vantagem, Malcolm fez a diagonal da esquerda à direita, combinou com Michael, cruzou ao segundo poste e Mitrovic desviou de cabeça para o 1-0 (6′). Se a equipa de Jesus partia com favoritismo por tudo o que fez até aqui, em vantagem esse cenário adensava-se ainda mais perante o desalento dos adeptos do Al Nassr.

A partir daí, e até à pausa para hidratação, houve pouco ou nenhum futebol. Seguiram-se os passes errados, as faltas para três amarelos num par de minutos, as bolas longas em busca de uma profundidade que nunca trouxeram frutos. Quando os jogadores voltaram, voltou também o futebol, neste caso com Ayman Yahya a surgir isolado pela direita para um remate travado por Bono que seria depois anulado por fora de jogo (32′) e Ronaldo a aparecer também sozinho para nova defesa a fazer a “mancha” do marroquino (35′). Bono era a grande figura da primeira parte, travando mais uma tentativa de Ronaldo num remate cruzado a partir da esquerda (41′), antes de o Al Hilal terminar por cima mas sem aumentar a vantagem mínima de 1-0.

O segundo tempo começou com mais um momento de magia de Ronaldo, que respondeu a um cruzamento de Brozovic da direita com uma bicicleta ao poste que seria anulada mas que, entrando, seria revista mesmo ao milímetro pelo VAR (47′). No entanto, a estratégia para o Al Nassr chegar ao empate não iria demorar a ruir: numa saída rápida em transição com três/quatro toques, Malcolm apareceu isolado, Ospina defendeu a bola com as mãos fora da área e acabou expulso, deixando a equipa reduzida a dez ainda aos 55′. O ambiente iria aquecer sobretudo depois de um lance em que Al-Faraj poderia ser expulso (Jesus tirou-o logo de campo), Bono voltou a tirar o golo a Yahya (83′) mas tudo iria dar uma volta inesperada.

Depois de um lance em que Mitrovic perdoou o 2-0 isolado na cara de Waleed Abdullah, Ali Albulayhi perdeu a cabeça perante um Rúben Neves desesperado com o que estava a ver, agrediu um adversário, deixou o Al Hilal reduzido também a dez e Ayman Yahya aproveitou um lançamento lateral para fazer o empate (88′). E não ficaria por aí: já com amarelo, Koulibaly atingiu de forma desnecessária Abdullah, viu o segundo amarelo e deixou a equipa de Jesus reduzida a nove antes do prolongamento (90′), numa reviravolta impensável que colocava o Al Nassr com meia hora para resolver a final. Essa era a teoria, não foi assim na prática e, apesar da vantagem numérica, o visível desgaste físico foi um travão para grandes ideias que pudessem desfazer o 1-1 entre uma série de foras de jogo de Ronaldo que provavelmente arriscavam chegar aos seus máximos de carreira, o que levou a decisão para as grandes penalidades com a vitória para o Al Hilal por 5-4 depois de o Al Nassr ter a oportunidade de fechar o desempate mas ver Bono brilhar mais uma vez na baliza.