O dia de campanha da Iniciativa Liberal começou de forma atípica. João Cotrim Figueiredo ia aproveitar o arranque do dia para alertar para a importância  do voto antecipado. No entanto, a presença de militantes com bandeiras e camisolas do partido junto a uma assembleia de voto numa escola em Faro motivou protestos e uma participação à CNE, o que levou o candidato a optar por cancelar a ação e prestar declarações aos jornalistas longe do local inicialmente previsto. Refeito, e mesmo admitindo não ter a certeza sobre se o partido violou ou não a lei, Cotrim Figueiredo preferiu colocar a questão no plano do senso comum. “Foi contra o bom senso”, lamentou o candidato liberal.

Seja como for, o cabeça de lista da Iniciativa Liberal mostrou-se otimista com o grande número de pessoas que se inscreveram para votar de forma antecipada e com as perspetivas que se podem colocar à Iniciativa Liberal. Otimista mas não ao ponto de se comprometer com a eleição de dois eurodeputados. Para já, pelo menos. “Ainda não estou pronto para o fazer. Sei que a campanha está a correr bem, mas há demasiados imponderáveis. É difícil prever a abstenção e a assimetria da abstenção. Há sondagens muito díspares… Portanto, por muito confiante que estejamos — e estamos — não consigo assumir mais do que um eurodeputado.”

Mais tarde, numa ação de campanha em Almada, Rui Rocha também não agarraria o desafio. “As pessoas têm uma visão muito positiva desta campanha eleitoral e das nossas propostas. Está a correr bem e estamos muito entusiasmados. Penso que a Iniciativa Liberal vai ter um bom resultado, sendo que, para já, nos colocamos nesse objetivo de eleger o primeiro deputado liberal ao Parlamento Europeu”, sugeriu o líder do partido. Importa, neste momento, moderar as expectativas.

De resto, também em Almada, Rocha não deixou de fazer críticas ao Governo de Luís Montenegro, acusando o social-democrata de estar a comprometer a solução que era exigida para a Saúde. “O plano de saúde não vai resolver as questões fundamentais do acesso à saúde dos portugueses, porque pressupõe uma coisa que está errada que é só recorrer aos privados e ao setor social quando o SNS falha. Ora, isso poderia fazer algum sentido num cenário em que o SNS funciona bem normalmente e falha por exceção. Mas, neste caso, temos um SNS que não está a funcionar bem”, começou por criticar Rui Rocha.

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“Portanto, dizer aos portugueses que só podem recorrer a outros prestadores privados ou sociais quando o SNS falha é condenar os portugueses a um acesso limitado à saúde. É dizer-lhes que vão ter que estar em sofrimento, vão ter que estar à espera meses até se chegar à conclusão que o SNS falhou e então sim recorrer à capacidade instalada no sistema. É um mau princípio.”

Quanto à polémico em torno da consultora privada contratada para ajudar o Governo no desenho deste plano, Rocha desvalorizou. “Penso que isso é mesmo uma questão menor. Parece-me que Pedro Nuno Santos está a tentar arranjar aqui um motivo qualquer para retomar uma agenda que tem perdido e uma liderança que tem perdido nesta campanha eleitoral.”

Rui Rocha foi ainda assim desafiado a comentar o plano para imigração que deverá ser em breve apresentado pelo Executivo, e aplicou a mesma lógica: mesmo sublinhando que é preciso esperar para ver que novas regras serão essas, mais importante do que apresentar planos, salvaguardou Rocha, é pôr as coisas que já existem a funcionar. “Há aqui uma tendência deste governo para apresentar muitos planos. Tem que mostrar iniciativa política e apresentam muitos planos. Mas depois olhamos para os planos, como acontece na Saúde, e não há nada que seja suficiente. Muitas vezes são francamente insuficientes.”

“O que é preciso é pôr a AIMA a funcionar. Enquanto não tivermos a AIMA a funcionar, enquanto não tivermos as regras atuais a serem aplicadas, avançar com novas regras é uma discussão que estamos disponíveis para ter. É possível que haja melhorias a fazer, [o novo plano] vai valer de muito pouco se administrativamente não conseguirmos pôr a máquina a funcionar”, rematou Rocha.

Ao lado de ucranianos, Cotrim pede apoio permanente a Kiev. “Receber Zelensky não é suficiente”

Aliás, o encontro em Almada serviu para organizar um piquenique simbólico no Parque da Paz, juntando simpatizantes do partido a alguns elementos da comunidade ucraniana em Portugal, para assinalar a solidariedade da Iniciativa Liberal para com a Ucrânia. João Cotrim Figueiredo foi ouvindo alguns relatos sobre a situação do país, mas também as dificuldades que se vão sentido na regularização dos imigrantes vindos de Kiev. No final, a mensagem de Cotrim era só uma: não basta dizer que se apoia à Ucrânia; é preciso de facto fazê-lo.

“Das várias coisas que gostariam de ver facilitadas em Portugal, há duas que aparecem sempre: a facilidade burocrática de se integrar em termos documentais — portanto isto tem um paralelo direto com o que se passa na AIMA, por exemplo. Existe dificuldade em fazer correspondência dos documentos que possuíam na Ucrânia aos documentos que necessitam em Portugal”, começou por exemplificar o cabeça de lista da IL.

“Depois, todos eles de uma forma muito espontânea dizem que é preciso mais apoio e sobretudo mais apoio militar à Ucrânia. Não podemos estar a esperar que a Ucrânia se defenda sem armas e sem uma defesa eficaz não poderá haver negociações equilibradas. Portanto, esses são os dois principais pedidos que são aqui feitos: a integração depende da velocidade com que consigam legalizar-se e documentar-se em Portugal; e estão preocupados com os familiares que ainda têm na Ucrânia.”

De resto, o candidato da Iniciativa Liberal, que tem por várias vezes defendido um maior empenho da ajuda europeia à Ucrânia, sublinhou que o simbolismo é importante, mas o esforço solidário deve materializar-se em aspetos concretos. “Muitas vezes comparam-se as visitas do Presidente Zelensky a determinados países e os acordos bilaterais que são assinados como se isso fosse uma forma de estruturar definitivamente o apoio à Ucrânia. Não é suficiente, porque se não houver uma coordenação suficiente entre os Estados os acordos bilaterais acabam por não surtir os efeitos desejados”, argumentou o cabeça da Iniciativa Liberal.

Cotrim falaria ainda da necessidade de “ter o Pilar Europeu da NATO devidamente apetrechado para poder prestar apoio militar a aliados que possam necessidade da ajuda”. “Nem todos os países da União Europeia são membros da NATO e nem todos os países europeus membros da NATO são membros da União Europeia. Esta ligeira disfunção tem tornado impossível que haja uma coordenação suficiente. A nossa proposta é que se institucionalize esta relação, que o Pilar Europeu da NATO passe a ser um comando político. Com isso, já podemos ajudar muito mais diretamente a Ucrânia e todos os outros aliados que necessitem de ajuda para preservar a sua liberdade.”