A Organização Meteorológica Mundial (OMM) estima, num novo relatório divulgado esta quarta-feira, que entre 2024 e 2028 existe 80% de probabilidade de pelo menos um ano exceder o limite do aquecimento de 1,5ºC face à era pré-industrial.

Segundo as previsões da OMM, a temperatura média global anual próxima da superfície terrestre entre 2024 e 2028 oscilará de 1,1°C a 1,9°C acima do nível pré-industrial (1850-1900).

O relatório da agência da ONU, divulgado no dia Mundial do Ambiente, estima em 47% a probabilidade de a temperatura média global exceder 1,5ºC em todo o período 2024-2028.

Em fevereiro, o programa europeu Copernicus, de observação da Terra, já tinha confirmado que o mundo ultrapassara pela primeira vez durante 12 meses consecutivos o limite do aquecimento de 1,5ºC face à média da era pré-industrial.

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Entre fevereiro de 2023 e janeiro de 2024, a temperatura média do ar à superfície do planeta foi 1,52ºC acima da registada no período 1850-1900, de acordo com o Copernicus.

No período de junho de 2023 a maio de 2024, a temperatura média global foi 1,63ºC acima do nível pré-industrial, segundo o mesmo programa europeu.

O facto de a temperatura média do ar no mundo ter ultrapassado o limite do aquecimento não significa que a meta estabelecida no Acordo de Paris de 2015 – de limitar até ao fim do século o aumento da temperatura média global em 1,5ºC em relação ao nível pré-industrial – tenha ficado por cumprir.

Na verdade, será necessário que o limite de 1,5ºC seja superado de forma estável durante várias décadas para que o acordo climático de Paris seja, efetivamente, um fracasso.

A OMM avisa, no entanto, que as previsões feitas para 2024-2028 “são um alerta severo”.

O relatório da Organização Meteorológica Mundial estima em 86% a possibilidade de pelo menos um dos anos deste período fixar um novo recorde de temperatura, ultrapassando 2023, considerado o ano mais quente desde que há registos.

A OMM advertiu em janeiro que 2024 poderia bater o recorde de calor ocorrido em 2023 devido ao El Niño, tendo porém assinalado, numa atualização feita na segunda-feira, que o fenómeno está a dar sinais de acabar, sendo provável que haja um retorno ainda este ano às condições características do La Niña.

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O fenómeno La Niña, ao contrário do El Niño, traduz-se no arrefecimento anómalo das águas superficiais do oceano Pacífico. As previsões da OMM sugerem, ainda assim, persistência de temperaturas acima do normal em quase todas as áreas terrestres.

O relatório divulgado esta quarta-feira reforça que o aumento estimado das temperaturas médias globais até 2028 reflete o contínuo aquecimento do planeta causado pela emissão de gases com efeito de estufa.

“Temos que urgentemente fazer mais para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa ou iremos pagar um preço cada vez mais elevado em termos de biliões de dólares em custos económicos, milhões de vidas afetadas por condições meteorológicas mais extremas e danos extensos no ambiente e na biodiversidade”, enfatizou a subsecretária-geral da OMM, Ko Barrett, citada em comunicado.

A comunidade científica tem insistido que um aquecimento superior a 1,5°C poderá desencadear impactos muito mais graves das alterações climáticas e das condições meteorológicas extremas.

Segundo a OMM, já há impactos climáticos devastadores com os atuais níveis de aquecimento global, como ondas de calor, secas e chuvas cada vez mais intensas, redução contínua das camadas de gelo marinho e glaciares e aceleração da subida do nível do mar e do aquecimento dos oceanos.

Estamos a jogar roleta-russa com o nosso planeta, precisamos de uma rampa de saída da autoestrada para o inferno climático. A boa notícia é que temos o controlo do volante. A batalha para limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus estará ganha ou perdida na década de 2020 sob a vigilância dos líderes de hoje”, afirmou, citado no mesmo comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres.