As “Canárias não aguentam mais” a pressão a que a chegada contínua de embarcações a estas ilhas impõem aos seus serviços de acolhimento de menores, alertou esta segunda-feira o porta-voz do governo local, Alfonso Cabelo.
Numa conferência de imprensa após uma reunião do Conselho do Governo, Cabello sinalizou que está a ser considerada a remodelação de escolas abandonadas para acolher as crianças e adolescentes migrantes não acompanhados, tendo ainda apelado ao Estado para que mobilize todos os recursos necessários para fazer face ao aumento de chegadas de migrantes previsto para os meses de verão porque “a rota das Canárias está completamente aberta”.
As Canárias já mobilizaram todos os recursos disponíveis, razão pela qual pedem agora ao Estado que faça o mesmo, sublinhou o porta-voz, considerando que o delegado do Governo nas ilhas, Anselmo Pestano, “vive numa realidade paralela” ao ter referido que existem dispositivos suficientes.
A “pressão é muito elevada”, disse, tendo chegado às ilhas 19 mil migrantes desde o início do ano, sendo que nos últimos quatro dias chegaram à costa das Canárias 1.790 pessoas, havendo ainda indicação de que pelo menos duas dezenas de pessoas estão desaparecidas no mar.
De acordo com Alfonso Cabello, os esforços que estão a ser feitos para impedir essas chegadas “não estão a funcionar ou não estão a ser percebidos”.
Só nos primeiros nove dias deste mês, as autoridades contabilizaram a chegada de 200 menores não acompanhados, estando a comunidade autónoma a atender 5.671 nos 80 centros criados para o efeito e que já são insuficientes, acrescentou o porta-voz, referindo que a questão da migração foi analisada pelo Conselho do Governo.
Por isso, pede ao Estado que, “a partir de agora”, disponibilize todos os meios para dar resposta à chegada destas pessoas em pequenas embarcações e botes provenientes da costa africana, se quiser evitar a repetição do sucedido no verão de 2000 e que ficou conhecido como “o cais da vergonha”, em Arguineguín.
Cabello afirmou ainda que a medida excecional que está a ser estudada para adaptar infraestruturas escolares para alojar os menores “não é a mais adequada”, mas salientou que é a única opção disponível após terem solicitado, sem sucesso, ao Ministério da Defesa três instalações na ilha.
O responsável disse também que, na reunião da Conferencia Setorial sobre a Infância, as Canárias vão solicitar a distribuição a outras comunidades autónomas de 300 novos menores migrantes.
Na sua opinião a comissão interministerial coordenada pelo ministro da Política Territorial e ex-presidente das Canárias, Ángel Víctor Torres, deveria tratar da alocação dos recursos que são reivindicados.