Três gravatas, um casaco e calções. Foi assim que há alguns meses Fidias Panagiotou disse ao mundo que queria ser candidato ao Parlamento Europeu. O anúncio surgiu num vídeo, claro, ou não fosse este cipriota um youtuber com 2,6 milhões de subscritores e um tiktoker com 161,7 mil seguidores. Depois de 9 de junho estes números devem disparar: ficou em terceiro lugar no Chipre nas eleições para o Parlamento Europeu. Foi uma das surpresas da noite e vai sentar-se no hemiciclo onde se vai estrear um partido espanhol com nome, no mínimo, sugestivo: Se acabó lá Fiesta. São duas vitórias das redes sociais.

“Eu tenho 23 anos e nunca votei na minha vida, e uma noite disse a mim próprio que se eu nunca votar e nunca me interessar, os mesmos cromos vão estar sempre no poder, e disse ‘basta'”, explicou Fidias Panagiotou, filho de um sacerdote ortodoxo, nascido em Meniko, uma aldeia de Nicósia.

Com um ar cândido confessou que não percebia nada de política, nem da Europa, mas prometeu que iria fazer o trabalho de casa: ler muito, fazer muitas perguntas, aprender muito. No domingo, já depois das primeiras projeções que o colocaram a seguir aos dois maiores partidos do Chipre, o conservador DISY e o partido de esquerda AKEL, lá disse coisa diferente. Afinal, no passado, tinha apoiado o partido de extrema-direita ELAM.

Fidias abriu o seu canal de YouTube em 2019, ano das anteriores eleições europeias, e no domingo à noite depois de dizer que tinha sido um “milagre”,  deu o crédito às redes sociais: as sondagens à boca das urnas davam-lhe 15,7 a 18,3% dos votos.

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“Esta é talvez a primeira vez que um candidato completamente independente é eleito, sem ter qualquer ligação a um partido político, mas com as redes sociais como única arma, e nada mais” afirmou, citado pelos órgãos de comunicação social cipriotas.

E declarou o dia que o catapultou para o Parlamento Europeu como “um dia importante, não só para Chipre, mas possivelmente também para o mundo inteiro”.

Tendo servido no comando de Demolição Submarina do exército cipriota Fidias Panagiotou tornou-se famoso quando abraçou Elon Musk, no seu projeto de abraçar as 100 maiores celebridades do mundo. Com vários vídeos e entrevistas a personalidades importantes, sempre num tom divertido, Fidias ganhou reconhecimento online, dentro e fora fronteiras e usou a sua popularidade numa campanha ativa. Quais são as suas posições políticas e o que que é que vai defender exatamente no Parlamento Europeu, ou com que grupo vai alinhar ainda é uma incógnita.

No vídeo em direto que fez no Tik Tok no domingo à noite, depois das projeções, não fez qualquer declaração política. Disse que ia fazer a maior festa de sempre do Chipre e desafiou os seus seguidores para escolherem o local.

A Fiesta do Bukele espanhol que conseguiu

Festa foi literalmente a palavra que saltou dos resultados que deram a vitória ao PP em Espanha. Se Acabó la Fiesta, o partido que nasceu este ano pela mão de Alvise Pérez, que fez do Telegram a sua rampa de lançamento para o Parlamento Europeu. Luis Pérez Fernández, de alcunha Alvise (Luis em italiano) não é como Fidias. Analista político, já passou por alguns partidos como o Ciudadanos, e foi considerado o “Bukele espanhol”, referência ao carismático líder salvadorenho Nayib Bukele, e comparado a Milei, o polémico presidente argentino. Truculento, apresenta-se como aquele que persegue “corruptos e criminosos” e afirma-se como anti-sistema.

Acusado de ser um mero “agitador político” e personalidade das redes sociais em Espanha, Alvise foi surpreendendo desde que criou o partido cujo símbolo é uma máscara dos Anonymus com uma cauda de esquilo e chegou à noite eleitoral com um resultado supreendente: 4,59% dos votos, (quase 800 mil votos), elegendo três eurodeputados. Ficou à frente do Podemos, do Junts, da coligação PNV e Coalición Canaria e a morder os calcanhares do Sumar — teve os mesmos lugares que o partido de Yolanda Dias.

De extrema direita, nascido para competir com o Vox, fazendo da luta contra a corrupção o seu mantra, demorou apenas quinze dias para reunir as 15.000 assinaturas necessárias para concorrer às eleições europeias. Como? Mobilizou milhares de seguidores através dos seus canais Telegram, X e Instagram onde congrega dois milhões de seguidores. Os seus vídeos polémicos, que publica há anos, com cinco milhões de visualizações diárias, acabaram por criar uma enorme comunidade online que foi a sua base de apoio.

“As pessoas financiaram-se em pequenos grupos, organizaram-se”, explicou Alvise Pérez à Euronews, elogiando a participação ativa dos seus seguidores na campanha. “Decidi criar um partido político porque a alternativa era ir viver para o mato. A sociedade podre das grandes cidades europeias não nos encoraja a fazer outra coisa”, disse Pérez.

Coerente e transparente, Alvise, nascido em Sevilha em 1990, e que ainda passou pelo Ciudadanos em Valência, escolheu a lista de candidatos a partir da sua comunidade virtual e prometeu sortear todos os meses o seu salário de eurodeputado entre os colegas. Depois de conhecer as projeções publicou um vídeo onde uma multidão o aplaude, dizendo “800 mil espanhóis vão dormir felizes esta noite: acabou-se a festa” com um emoji de um esquilo.