Pode uma tiara também ter o seu conto de fadas? Ora vejamos, esta joia foi comprada num leilão para ir parar à cabeça de uma princesa, brilhou num casamento real e quando a sua dona morreu foi como se o feitiço se tivesse quebrado e a peça voltou novamente a ser leiloada. A tiara Poltimore foi criada em 1870, entre 1959 e 2002 foi um dos tesouros da princesa Margarida de Inglaterra, e ficou eternizada em inúmeras fotografias. Depois de ser uma das estrelas de um leilão com pertences da irmã da Rainha Isabel II, nunca mais foi vista e não se sabe quem a usará hoje. Quando o martelo da Christie’s bateu a 13 de junho de 2006, há precisamente 18 anos, a tiara Poltimore já tinha ultrapassado há muito o valor previsto e começou um novo capítulo de sua longa história.
A joia foi feita em 1870 pela casa Garrard, joalheira da coroa durante décadas, para lady Florence Poltimore que era a mulher do segundo barão Poltimore. Este, por sua vez, foi tesoureiro da casa real no tempo da Rainha Victoria. A tiara terá passado de geração em geração na família e até foi usada na coroação do Rei Jorge V e da rainha Mary em 1911. Chegou ao seu primeiro leilão a 29 de janeiro de 1959, no qual foi vendida à época por 5.500 libras (que hoje equivaleriam a qualquer coisa como mais de 195 mil euros).
Na altura foi descrita como “uma tiara muito importante” que tinha pertencido ao honorável lord Poltimore, neste caso já o quarto barão Poltimore (1882-1965), neto da primeira dona da joia. A peça foi comprada em nome da casa real britânica, mas não se sabe ao certo se terá sido sob instruções da própria princesa Margarida ou da rainha mãe. Haverá também quem acredite que a tiara foi comprada por recomendação de lord Plunket, que era à época uma figura de relevo na casa real, tendo em vista um possível noivado para breve.
De facto, o noivado da princesa Margarida com o fotógrafo Antony Armstrong-Jones foi anunciado pela Rainha Isabel II em fevereiro de 1960, um ano mais tarde. Antes disso já Margarida tinha estreado a sua joia nova num evento na Royal Opera House, mas convertida em colar. O casamento aconteceu a 6 de maio de 1960 e foi quando a princesa usou a tiara pela primeira vez. Rompeu com a tradição que todas as noivas da família seguiram de usar uma tiara da coleção real e usou a sua própria joia. Na cabeça de Margarida a tiara parecia ainda mais imponente, sobre o cabelo escuro e em total harmonia com o vestido de linha princesa e saia muito ampla desenhado por Normal Hartnell.
Antony Armstrong-Jones foi nomeado Earl Snowdon e Visconde de Linley em outubro de 1961. O casal viria a separar-se em 1975 e o divórcio aconteceu três anos depois. A princesa Margarida morreu em 2002, com 71 anos, e quatro anos mais tarde, cerca de 800 pertences seus foram vendidos num leilão organizado pela Christie’s. Os dois filhos do casal, o novo earl Snowdon e lady Sarah Chato, decidiram vender uma série de bens da mãe. Uma decisão que, contou o próprio ao Telegraph, foi muito difícil, mas havia um imposto sobre a herança que ascenderia aos três milhões de libras para pagar. O pai morreu em 2017 e ainda assistiu ao leilão dos pertences da ex-mulher, que o terá deixado “destroçado”, segundo foi revelado na série “Secrets of the The Royals”, noticiou a Tatler no ano passado.
Em 2006, o badalado leilão de peças da irmã da Rainha Isabel II contou com 192 joias que juntas alcançaram um valor que ultrapassou os 9.5 milhões de libras (mais de 11.233 milhões de euros). A joia que atingiu o valor mais elevado neste leilão foi um relógio de secretária russo, com assinatura Fabergé e em ouro, por um milhão e 240 mil libras (mais de um milhão 460 mil euros, em valores atuais). Em segundo lugar ficou em colar riviére, que consiste numa sequência de diamantes redondos, que tinha pertencido à rainha Mary e foi vendido por 993,600 libras (mais de um milhão 174 mil euros, atualmente). O pódio fica completo com a famosa tiara Poltimore.
Esta foi a única tiara da coleção de joias da princesa a ir a leilão. Estimava-se que fosse vendida por um valor entre as 150 mil e as 200 mil libras, mas ultrapassou largamente as expectativas. Foi vendida por 926.400 libras (mais de um milhão de euros hoje) a um comprador privado que permaneceu anónimo. A tiara conta com uma série de diamantes a formarem motivos florais e espirais montados em prata e ouro. Além de poder ser usada como colar, também é desmontável em peças que se tornam em 11 pregadeiras, segundo se pode ler na descrição técnica no site da Christie’s.
Em 2006, Armstrong-Jones partilhou uma fotografia da princesa Margarida dentro de uma banheira com a tiara na cabeça. A imagem remonta a 1962, dois anos depois do casamento de ambos e ficou tão famosa que foi recriada na série “The Crown”, com a atriz Helena Bonham-Carter a usar uma réplica da tiara numa banheira e a posar para fotografias. O retrato perfeito da mistura de graciosidade e irreverência que caracterizava a princesa Margarida.
Princesa Margarida. Uma diva real entre o dever e o amor, em busca do seu final feliz