“O ano é 2002 e o maior caso de pedofilia institucionalizada em Portugal está prestes a ser desvendado” — é este o ponto de partida para Piedade, série de ficção portuguesa, realizada por Justin Amorim e com produção da Promenade, que deverá começar a ser rodada em 2025.

Ao Observador, o realizador avança que está a trabalhar no projeto há cinco anos. “Tinha uma grande vontade de contar esta história na ficção. É uma temática super importante e continuam sempre e surgir casos de pedofilia institucionalizada por todo o mundo, ainda é totalmente relevante falar sobre isto”, diz Justin Amorim, autor do filme Leviano (2018) e da série da RTP Play 5Starz (2021).

Piedade é baseada em eventos reais que remontam a 2002, ano em que rebentou o escândalo de abusos sexuais de alunos na centenária instituição de ensino de Lisboa, pelos quais foram condenados Carlos Silvino, o médico João Ferreira Diniz, o diplomata Jorge Ritto ou o apresentador Carlos Cruz.

O caso, que fez correr muita tinta na comunicação social portuguesa e internacional, veio a público a 23 de novembro desse ano com uma notícia da jornalista Felícia Cabrita publicada no semanário Expresso. A peça dava conta que um motorista da Casa Pia da Lisboa, Carlos Silvino da Silva, conhecido pela alcunha “Bibi”, teria sofrido abusos como aluno da instituição e que, mais tarde, ele próprio teria vindo a abusar de alunos. Além disso, a mesma notícia revelava que Silvino funcionaria também como angariador de rapazes para atos sexuais com figuras de destaque da sociedade portuguesa.

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[Já saiu o sexto e último episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui o primeiro episódio, aqui o segundo, aqui o terceiro, aqui o quarto episódio e aqui o quinto episódio.]

“A parte da investigação jornalística é o núcleo central da série”, diz Amorim. Aliás, “a Felícia Cabrita está na equipa de pesquisa e desenvolvimento [da série] como consultora. É talvez a pessoa mais fundamental do caso”.

Com seis episódios de 50 minutos, e argumento de Justin Amorim e Joana Patrício, Piedade tem apoio do programa Ibermedia e do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), como se verifica no site do organismo, onde o projeto consta “em desenvolvimento” e com um financiamento do ICA de 590 mil euros. Sobre a exibição da série, Justin Amorim aponta para a “possibilidade de ser numa plataforma de streaming“.

Se a rodagem de Piedade não começará antes de 2025, o realizador e fundador da produtora Promenade já se debruçou sobre “o universo Casa Pia” na curta Tapete Voador, atualmente em pós-produção, e que tem no elenco Inês Castel-Branco, Ivo Arroja, Joana Bernardo, Pedro Caeiro, Rui Pedro Silva, Valdemar Brito, Rúben Simões ou Filipe Vargas.

“A curta não tem um lado de investigação. É só uma história isolada de um relato que ouvimos da Felícia, de dois irmãos”, explica. Sobre a possibilidade de elementos do elenco da curta-metragem participarem na série, Justin Amorim diz apenas: “Quero que haja elenco que transita, sim”.