A Automotive Cells Company (ACC), uma joint venture formada pela Stellantis e pela Total Energies, a que se juntou numa segunda fase a Mercedes, anunciou a suspensão da construção de duas das fábricas de células para baterias que tinha programado instalar na Europa. Apenas uma das gigafábricas planeadas está construída, num investimento que, originalmente, estava previsto rondar 7,1 mil milhões de euros até 2030.

As instalações destinadas à produção de células para produzir baterias para automóveis deveriam ser localizadas na Alemanha (em Kaiserslautern), Itália (Termoli) e França (Douvrin), sendo que apenas esta última arrancou, tendo sido inaugurada no passado 30 de Maio. A ACC está ainda a tentar perceber como avançar, justificando a suspensão da construção das outras duas gigafactories à desaceleração na venda de veículos eléctricos na Europa.

Segundo avançou o CEO da Stellantis, Carlos Tavares, a decisão de travar a fundo a construção das duas fábricas visa “ajustar o plano de investimentos” ao ritmo a que a Europa vai adquirir modelos eléctricos. “Se o volume de vendas aumentar, nós investiremos mais rapidamente. Caso isso não aconteça, investiremos mais lentamente”, garantiu ainda o gestor português, em declarações à Bloomberg. De recordar que cada uma das três fábricas tinha projectada uma capacidade de produção instalada anual de 40 gigawatts hora (GWh), valor que deverá alimentar a construção média de 600.000 veículos eléctricos. Entretanto, a fábrica francesa, cuja construção é modular, tem apenas concluída uma capacidade de 13 GWh, o que não lhe permite ir além de 195.000 veículos eléctricos/ano.

A inauguração da primeira fábrica da ACC, em Douvrin, resultado de uma joint venture entre a Stellantis (que detém 45% da sociedade), a Mercedes (30%) e a Total Energies (25%)

O CEO da ACC, Yann Vincent, sublinhou que as vendas de modelos eléctricos não só desaceleraram, como a procura por este tipo de locomoção passou a apontar mais para veículos mais pequenos e mais baratos que, por isso mesmo, optam por baterias com uma química LFP (de fosfato de ferro-lítio), em vez das NMC (níquel, manganês e cobalto) que as gigafactories da ACC estão preparadas para produzir. Daí que Yann Vincent preveja que a fábrica alemã venha a conhecer a decisão sobre o seu futuro em finais de 2024 ou no início de 2025.

Vincent admite que Kaiserslautern venha a ser transformada para produzir células LFP, que possuem menos densidade energética, obrigando-as a serem maiores e mais pesadas para a mesma energia armazenada. Porém, as baterias com este tipo de química têm a vantagem de serem mais baratas, não arderem com facilidade (devido à ausência de níquel) e, como se isto não bastasse, não necessitarem de cobalto — este último o metal mais caro do acumulador, minerado no Congo, mas controlado por empresas estatais chinesas. Sucede que, antes de optar pela produção de células LFP, a ACC (onde a Mercedes detém 30%, contra 25% da Total e 45% da Stellantis) tem de investir largos meses (ou anos) no desenvolvimento desta tecnologia, que ainda lhe é estranha.

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