Um grupo de investigadores do norte-americano Arc Institute documentou uma nova técnica de edição genética que promete ser mais precisa e abrir a porta à cura de diversas doenças.

A edição genética permite reescrever o genoma, a informação hereditária de um organismo e que está codificada numa molécula complexa conhecida como ADN (ácido desoxirribonucleico). Nos últimos anos, tornou-se conhecida a sigla CRISPR, que representa uma técnica para edição genética de organismos, que torna possível isolar a parte da cadeia de ADN que é responsável por uma doença e alterar essa característica.

A questão é que, até aqui, esta técnica pode ter vários efeitos secundários e problemas de precisão – por exemplo, afetar de forma indesejada algum ponto da sequência ou gerar instabilidade genética.

A descoberta do grupo, que é composto por investigadores das universidades de Berkeley, Stanford e de Tóquio, é a demonstração em bactérias de uma técnica que promete ser mais precisa. Embora reconheçam que a CRISPR “revolucionou a edição genética”, para questões de “larga escala de design de genoma, os cientistas precisam de uma forma mais precisa e programável para reordenar grandes segmentos de ADN”, é explicado pelo Arc Institute na rede social X.

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A descoberta é um “novo tipo compacto e integralmente novo de sistema molecular programável”, explica o instituto norte-americano, capaz de “evoluir para inserir novas sequências de ADN no genoma usando pontes de RNA”, referindo-se a enzimas diretas. Estas pontes podem ser recombinadas, inseridas, extraídas ou invertidas, explicam os investigadores.

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As tais pontes podem ser reprogramadas de forma independente para os efeitos pretendidos pelos cientistas, permitindo uma “manipulação mais ágil em relação à CRISPR”. Em comparação, a técnica anterior obriga à “reparação do ADN celular depois de se fazer um corte, enquanto a ponte pode assegurar a recombinação de ADN sem precisar de mecanismos de reparação”, explicou o investigador Patrick Hsu.

Veja o vídeo com a explicação da descoberta científica

Esta quarta-feira, a equipa de investigadores liderada por Patrick Hsu publicou dois artigos na conhecida revista científica Nature onde documentam a colaboração entre cientistas feita ao longo de mais de dois anos e meio. Os testes foram feitos em várias bactérias – em alguns casos, com uma precisão de edição de 94%, nota o jornal El País.

Esta nova técnica precisará de ser testada em animais mamíferos até chegar ao ponto de testes com humanos.

Patrick Hsu, professor da Universidade de Berkeley, o cientista do Arc Institute Matthew Durrant e o estudante de bioengenharia de Berkeley Nicholas Perry são os autores líderes desta descoberta. A investigação foi desenvolvida em colaboração com Silvana Konermann, da Universidade de Stanford, e Hiroshi Nishimasu, professor de biologia estrutural da Universidade de Tóquio.

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