Quando a chamada “Geração de Ouro” do futebol português começou a deixar a Seleção entre 2002 e 2006, entre Luís Figo, Rui Costa, João Vieira Pinto, Fernando Couto ou Vítor Baía, entre outros, o futebol nacional foi questionando sobre a liderança da Seleção sem aqueles que foram durante mais de uma década os pesos pesados do balneário. Agora, quase duas décadas depois, esse é um ponto que não se coloca. Logo à cabeça porque existe Cristiano Ronaldo, capitão e expoente máximo da equipa. Depois porque há jogadores que cresceram a saber liderar com características diferentes, casos de Bruno Fernandes, Bernardo Silva e Rúben Dias. Entre eles, sendo o mais velho de todos, está Pepe. E Pepe, com ou sem braçadeira, é um exemplo paradigmático de como Portugal tem hoje uma base capaz de aguentar impactos como o da derrota frente à Geórgia e foi também por essa razão que surgiu logo na primeira conferência depois desse insucesso.
Com uma conversa sempre descontraída e sem preocupações sobre um futuro que o próprio não decidiu nem irá decidir enquanto decorre o Campeonato da Europa (e que tem várias possibilidades em cima da mesa aos 41 anos, até em consonância com as “respostas” que o corpo lhe dará), o central que irá deixar de ter ligação ao FC Porto a partir da próxima segunda-feira falou sobre o rendimento da Seleção ao longo da fase de grupos e foi refutando as críticas à avaliação apenas à luz daquilo que foi a exibição na última derrota.
“Não sei se vocês já tiveram oportunidade de ver a estatística da fase de grupos, Portugal é das melhores seleções a nível estatístico. Essa nota artística de que falam… Desde o primeiro jogo aqui na Alemanha, como na última derrota, os adeptos estiveram sempre connosco. Contra a Rep. Checa estivemos a perder quando não merecíamos e os adeptos continuaram a apoiar a nossa equipa. Se calhar foi essa confiança que fez com que pudéssemos ter dado a volta ao resultado. Contamos com os nossos adeptos, vamos dar o nosso melhor para poder eliminar a Eslovénia. Sabemos que vai ser um jogo muito difícil, até pelo passado recente. É não voltar a cometer os erros que fizemos nesse jogo para podermos sair vencedores”, referiu o central.
“Menos esperança depois da derrota com a Geórgia? Não concordo com o que acaba de me dizer. Mesmo com a derrota, sentimos o carinho dos nossos adeptos. Tenho a certeza que eles vão estar connosco contra a Eslovénia. Vamos dar o nosso melhor, vamos trabalhar. Sabíamos que esta caminhada não ia ser fácil, por mais que muitos de vocês dissessem que já estava ganho. Não é assim e nós sabíamos isso. É preciso jogar os 90 e, se for preciso, os 120 minutos. Queremos dar o melhor pelo nosso país e é isso que vamos fazer no próximo jogo”, assegurou Pepe, que começou a conferência a enviar condolências à família de Manuel Fernandes num dia em que a Seleção cumpriu um minuto de silêncio antes do início do treino.
Em paralelo, o jogador que não falhou qualquer fase final por Portugal desde o Europeu de 2008 falou da questão dos sistemas táticas, entre o 4x3x3 e o 3x4x3, e também de António Silva, um dos jogadores com pior rendimento contra a Geórgia. “Falei com ele, sim. Como em várias ocasiões dizemos que somos uma família, temos de cuidar dos que fazem parte da nossa família. Mas claro que não vou relevar o conteúdo da conversa”, referiu. “Acho que há muita dúvida sobre os três centrais e a linha de cinco e de quatro. O mais importante é que, quando atacamos contra uma equipa fechada, ter flexibilidade. Trabalhamos muito para isso. É muito difícil atacar contra uma equipa com 11 jogadores atrás da linha da bola e cabe-nos continuar a acreditar no processo, continuar a trabalhar cada vez mais para poder encontrar os espaços que há no jogo e poder explorá-los da melhor maneira possível”, comentou também o jogador a esse propósito.
Por fim, Pepe voltou também a falar dos “segredos” para se apresentar a este nível aos 41 anos .”A paixão que tenho pelo futebol. Já disse várias vezes que é um privilégio poder levantar-me e fazer o que mais gosto com muita concentração e competitividade, que é o que tenho. O amor que coloco em cada ação, tanto no treino como no jogo. É isso… Boa forma? Até brincam comigo porque estou sempre perto da máquina do gelo, da recuperação. Os nossos fisioterapeutas dizem que sou quase dono das máquinas mas é para poder recuperar o mais rápido possível. Sei que não o faço tão rápido como os jovens”, concluiu o central.