A escalada do conflito em Cabo Delgado, Moçambique, aumentou em 10% o número de casamentos infantis em 2023, sendo que as raparigas estão a ser forçadas a casar com membros de grupos terroristas, denunciou esta terça-feira a Save the Children.

A Save the Children constatou um aumento de 10% nos casos registados de casamentos de crianças em 2023, em comparação ao período homólogo do ano anterior” e receia “que os números estejam a aumentar ainda mais à medida que o conflito impede as crianças de receberem a proteção e o apoio necessários”, lamentou a organização não-governamental (ONG), em comunicado.

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Segundo a ONG, “cada vez mais crianças manifestam a preocupação de que isto lhes possa acontecer, à medida que o conflito se aproxima do seu oitavo ano sem fim à vista”.

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Uma vaga de ataques em Cabo Delgado, na região norte de Moçambique, desde janeiro deste ano, levou ao encerramento de escolas, impedindo assim mais de 22.700 crianças de estudar, disse.

De acordo com dados de junho das Nações Unidas, mais de 189.000 pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas desde o final do ano passado, a maior deslocação desde o início do conflito, que matou mais de 4.000 pessoas e provocou mais de 700.000 deslocados desde 2017, lamentou a ONG.

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Segundo declarações das crianças locais, os casamentos infantis têm aumentado, assim como as gravidezes na adolescência.

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Este aumento deve-se, por um lado, ao rapto de raparigas que são forçadas a casar com membros de grupos terroristas e, por outro, à procura do dote por parte dos familiares, que são compensados monetariamente pelos raptos e usam esse dinheiro para alimentar a sua família, até porque “o conflito reduziu rendimentos”, explicou a ONG, com base nos testemunhos locais.

Algumas práticas e tradições culturais também estão a alimentar o aumento dos casamentos prematuros”, disseram as crianças inquiridas.

As raparigas jovens casadas têm muito menos probabilidades de permanecer na escola e correm maior risco de sofrer violência física e sexual, sendo que também correm um maior risco de sofrer complicações durante a gravidez e o parto, alertou a ONG.

A Save the Children apelou a uma rápida resolução do conflito em Cabo Delgado e para que sejam disponibilizados mais fundos para prestar cuidados e assistência às raparigas e rapazes que enfrentam um risco crescente de casamentos infantis e outras preocupações de proteção.