Jonas Abrahamsen voltou a saltar para a frente com a capa de herói, Jonas Abrahamsen voltou a ver adiado o sonho de conquistar uma etapa neste Tour. Não é propriamente fácil levar mais de 450 quilómetros em fugas para no final não ter mais do que o prémio da combatividade mas o norueguês voltou a ser “vítima” de toda a imprevisibilidade que a Volta a França pode trazer em qualquer tirada. O gaulês Kévin Vauquelin, na chegada a Bolonha, teve um dia de glória, da mesma forma como podia ter sido Abrahamsen, da mesma forma como Biniam Girmay beneficiou do contexto da etapa de Colombey-les-Deux-Églises para recolocar a Eritreia no mapa do ciclismo mundial com a segunda vitória na edição de 2024. Agora, fechava a primeira semana.

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A nona etapa em Troyes, com vários segmentos em gravilha e subidas que não sendo “paredes” podiam ser propícias para ataques mais inesperados, fechava o primeiro terço de um Tour que prometia muito e que não está a defraudar em nada. Tadej Pogacar está um patamar acima da concorrência também por ter sido aquele chefe de fila que beneficiou da etapa em que uma equipa conseguiu ser mais superior às restantes (em Valloire), Jonas Vingegaard foi aquele que melhor resposta foi conseguindo dar aos ataques do esloveno, Remco Evenepoel brilhou no contrarrelógio mas deixou também sinais de resiliência dignos de Grande Volta, Primoz Roglic sentiu mais dificuldades entre os Quatro Mosqueteiros. Depois, havia João Almeida.

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Juan Ayuso até ocupa um lugar acima do sexto na geral do português com um segundo a menos de diferença para Pogacar mas é no corredor de A-dos-Francos que têm entroncado as atenções pela imagem que está a deixar na estreia na Volta a França, tendo como ponto alto essa etapa com chegada em Valloire em que foi puxando o grupo da frente, deixou toda uma concorrência de “segunda linha” para trás e chamou ainda a atenção de braço no ar a Ayuso quando estava a chegar a altura de assumir a frente. O espanhol não achou grande piada, a imagem que ficou é que o português deu o salto como corredor a agarrar nos objetivos da equipa que neste caso passavam por desgastar ainda mais os adversários para Pogacar conseguir fazer.

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Era por isso que, perante uma etapa sinuosa e com potencial para surpresas (que começou com a sentida homenagem a André Drege, ciclista norueguês de 25 anos que sofreu uma queda fatal na Volta à Áustria este sábado), João Almeida era um dos nomes potencialmente a ter em conta mesmo que apenas na sombra, com o português a 200 quilómetros de fechar um primeiro terço de Tour a superar todas as expetativas.

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Os ataques começaram cedo na etapa, de novo com Jonas Abrahamsen a tentar vir para a frente como se não houvesse amanhã e o próprio Rui Costa a espreitar um lugar numa fuga que, quando se formou de início, teve Romain Grégoire (Groupama), Neilson Powless (EF Education), Jarrad Drizners (Lotto), Derek Gee (Israel-Premier Tech) e Paul Lapeira (Ag2r). Pouco depois, Mathier van der Poel também se mostrou numa tirada com as suas feições mas no primeiro troço de terra o grupo já era formado por Elmar Reinders (Jayco), Jasper Stuvyen (Lidl-Trek), Gianni Vermeersch (Alpecin), Neilson Powless (EF Education), Maxim Van Gils (Lotto), Derek Gee (Israel-Premier Tech), Oier Lazkano, Javier Romo (Movistar), Alexey Lusenko (Astana) e Anthony Turgis (Total Energies). Estava a chegar o primeiro “susto” para um candidato.

Entre os ataques e as tentativas de tentar colar à fuga, Primoz Roglic ficou cortado do grupo dos restantes líderes numa zona onde andava também Juan Ayuso. Ficava a dúvida sobre se alguma equipa iria atacar para tentar deixar o esloveno de fora, logo à cabeça a própria UAE Team Emirates, mas o chefe de fila da Red Bull-Bora lá voltou a juntar-se, ficando apenas o susto e uma energia extra usada para reentrar onde tinha de andar. Antes de mais um troço de terra, com muito pó a levantar pelo meio, a equipa de Pogacar com João Almeida a ter de acelerar de novo até à frente assumiu o controlo da corrida a pedido do carro da equipa. Jan Tratnik foi também importante na Visma ao ficar com a bicicleta com problemas de Jonas Vingegaard.

Mais à frente, Pogacar também quis sair lançado após novo troço de terra e levou consigo Remco Evenepoel, o que obrigou a novo acelerar do pelotão já com alguns cortes onde continuava um Vingegaard a rodar com a bicicleta que não era a sua e Primoz Roglic. Foi apenas um “abanão”, com o trabalho da Visma e da Ineos a anular essa pequena vantagem dos dois primeiros da geral com pouco menos de 90 quilómetros para a meta, mas não o único depois de Remco Evenepoel sair mais uma vez em subida num troço de terra para ganhar um avanço superior a dez segundos com Pogacar a dar resposta logo de seguida levando Vingegaard. A saída foi anulada, Roglic voltou a mostrar que era o mais frágil dos quatro grandes candidatos ao triunfo e a diferença chegou aos 20 segundos numa fase em que o grupo se colava à fuga a 75 quilómetros do final.

O ritmo teve depois um abrandamento mas os “sustos” continuavam a surgir, desta feita com Remco a ter grandes dificuldades num troço de terra com muita gravilha e a ser forçado a um maior desgaste para colar de novo num grupo que tinha Pogacar e Vingegaard entre os elementos da frente. Já Aleksandr Vlasov teve a pior notícia do dia, com uma avaria e posterior queda que o atrasou e muito na classificação. Havia mais um grupo a sair em busca da fuga, desta vez com Rui Costa também lá no meio com hipóteses de poder ter uma palavra a dizer em relação à etapa caso a distância que era inferior a um minuto fosse reduzida de seguida, algo que nunca se acabou por confirmar também pela etapa ziguezagueante de Mathieu van der Poel.

A etapa tinha ainda mais para contar apesar de já levar mais história do que todas as anteriores e foi Pogacar de novo a aparecer, aproveitando o penúltimo troço de terra para atacar com resposta de Vingegaard e uma tentativa de minimizar danos de Remco. O belga tinha um problema chamado Soudal, tendo em conta que a Visma esteve sempre à altura na defesa do seu chefe de fila e Remco muito cedo deixou de ter ajuda (quem ia na sua roda eram dois UAE Team Emirates, João Almeida e Juan Ayuso). Na frente, com a vantagem de um minuto a manter-se quase sempre de forma regular, os ataques para a vitória começavam a ser esboçados ainda antes da chegada ao último setor de terra, com Jasper Stuyven a aproveitar a falta de entendimento nos restantes fugitivos para ganhar vantagem antes da chegada ao sprint que caiu para Anthony Turgis numa etapa que, entre tantos “sustos”, ataques e problemas mecânicos, acabou por deixar tudo na mesma.