Cerca de duas dezenas de enfermeiros da hospitalização privada estiveram concentrados ao final da manhã desta terça-feira, em Lisboa, num protesto que assinala o início uma greve de dois dias para reivindicar melhores condições de trabalho.
No protesto convocado pelo Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP) em frente à Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP), os manifestantes gritavam palavras de ordem como “É urgente e necessário o aumento do salário”, “Têm lucros aos milhões para os enfermeiros só tostões” ou “35 horas para todos sem demora”.
À frente da concentração, enfermeiros exibiam uma faixa em que resumem as suas exigências: “Salários + compensação turnos + 35 horas”, enquanto outros seguravam bandeiras do SEP e cartazes a afirmar “Não concordo! Faço greve”.
Durante o protesto foi aprovada por “unanimidade e aclamação” uma resolução que o dirigente sindical do SEP Rui Marroni entregou na APHP a afirmar “que o SEP está disponível para negociar”, disse à agência Lusa.
Se não houver negociação, naturalmente que vão prosseguir ações de lutas e ações reivindicativas porque os enfermeiros estão insatisfeitos e a prova disso são os bons níveis de adesão que estamos a ter na greve“, adiantou Rui Marroni, que ainda não tinha os dados compilados de adesão à paralisação.
Disse, por exemplo, que na CUF Tejo o piso 4 está em greve e que no Hospital Lusíadas Lisboa apenas um enfermeiro não aderiu à paralisação, estando apenas a ser asseguradas as cirurgias urgentes pelos colegas que estão a garantir os serviços mínimos.
Segundo Rui Marroni, “há muita indignação, muita insatisfação, não só porque a APHP não negoceia como está manter uma situação de horários desregulados, mais longos, penosos e sem compensações monetárias”.
O líder sindical observou que esta situação acontece num setor que tem “publicitado lucros exponenciais”, sendo os enfermeiros um “fator determinante” para esses lucros, defendendo justas valorizações remuneratórias para os profissionais.
Além de aumentos dos salários e restantes remunerações, são também exigência dos enfermeiros horários regulados às 35 horas semanais, a compensação pelo trabalho por turnos e o aumento dos valores das horas penosas, no período noturno e aos fins de semana.
O que se pretende num setor que tem tido lucros exponenciais é que haja melhores condições para os enfermeiros”, permitindo também “uma melhor segurança na prestação de cuidados”, defendeu, adiantando, com base nos dados da APHP, que trabalham no setor privado cerca de 4.300 enfermeiros.
A trabalhar num hospital privado a tempo parcial, Luís Morais disse à Lusa que uma das dificuldades mais presentes “é o ritmo de trabalho elevado”, porque há sempre “o interesse do lucro, que é do que vivem estes grupos privados”.
Luís Morais sublinhou que “quem fica a perder são sempre as pessoas”, uma vez que, “não havendo tempo para cuidar delas, a enfermagem passa a ser um ato basicamente administrativo, em vez de ser a sua própria essência”.
Os enfermeiros exigem a revisão do seu Contrato Coletivo de Trabalho (CCT) tendo por base a proposta com eles construída e apresentada pelo SEP.
A APHP adiantou esta terça-feira em comunicado que chegou a acordo com cinco sindicatos de enfermeiros, tendo o SEP interrompido “inesperadamente as negociações” e convocado uma nova greve.
Sublinhando que conduz todas as negociações laborais com “abertura e disponibilidade”, a associação afirma que “os aumentos atribuídos este ano traduzem e confirmam” a atitude de respeito pelos enfermeiros e outros profissionais, estranhando por isso os motivos para a paralisação convocada.
Adianta que no acordo alcançado com os cinco sindicatos foi atualizada a tabela salarial de 2022 com “aumentos bastante expressivos”, entre os 7,8% e os 15,7%, e acrescenta que o subsídio de alimentação passou para 6,10 euros.