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"The Bear", terceira temporada: o mesmo prato, diferentes temperos

Com 10 novos episódios (esta quarta, dia 17, Disney+), a série é a mesma, mas também é bastante diferente. Conversámos com os atores que interpretam "Marcus" e "Richie" e adiantamos o que aí vem.

Jeremy Allen White (Carmy) e Ayo Edebiri (Sydney Adamu) estão de regresso à cozinha mais popular da televisão contemporânea
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Jeremy Allen White (Carmy) e Ayo Edebiri (Sydney Adamu) estão de regresso à cozinha mais popular da televisão contemporânea

Jeremy Allen White (Carmy) e Ayo Edebiri (Sydney Adamu) estão de regresso à cozinha mais popular da televisão contemporânea

Existem duas ou três cenas na terceira temporada de The Bear com algumas personagens frustradas por ninguém ter espalmado as embalagens de cartão. Resultado? Não há espaço no caixote do lixo e agora têm que se colocar em cima delas, a perder mais tempo, para as espalmar à pressão e em frustração. Há um momento num dos primeiros episódios em que Carmy (Jeremy Allen White) faz uma lista de regras para o restaurante, transformado no final da temporada anterior em fine dining, para este funcionar melhor. Uma delas: espalmar todas as embalagens de cartão após serem esvaziadas.

Receber caixas de cartão com coisas é o dia-a-dia de muitos negócios. Espalmá-las para facilitar a arrumação ou o transporte parece algo básico. Até porque se assume que toda a gente faz isso em casa. Mesmo assim, Carmy coloca a regra por escrito, para, pouco tempo depois, constatar que não está a ser cumprida. Este é um pequeno detalhe que serve de grande prova do óbvio: o caos, a desordem e a falta de comando em The Bear — o restaurante — ao longo da terceira temporada.

Se nas duas partes anteriores da história a filosofia da narrativa foi “andar para a frente” (por vezes muito rápido), nesta terceira The Bear não o pode fazer, tem de assumir o risco daquilo a que se propôs logo no início: como funcionaria um restaurante de fine dining com aquelas pessoas? À terceira temporada falta a vertigem das duas anteriores, ou seja, o nervo de um objetivo claro, como se estivéssemos constantemente a mastigar o que aconteceu no último episódio da segunda temporada: o pior vem ao de cima durante o jantar inaugural. Esta que se estreia esta quarta-feira, 17 de julho, é uma temporada de ressaca, que parte do público não gostará porque quer mais vertigem sobre o abismo e que uma outra adorará porque, novamente, The Bear volta a relembrar que é sobre pessoas. E não sobre restaurantes.

[o trailer da terceira temporada de “The Bear”:]

Via Zoom, Lionel Boyce, ou seja, Marcus, o pasteleiro fascinado com o que aprende e cuja mente e gestos existem numa toca de coelho cada vez mais pequena, coloca as coisas da seguinte forma: “A série está constantemente a explorar quem são estas pessoas. Na primeira temporada entras na vida delas de forma abrupta, tudo acontece muito rápido e é sempre a andar para a frente. Vês quem são na cozinha. Na segunda vês o que se passa na vida delas para lá da cozinha. A terceira é algo que vai mais ao interior das personagens, vês quem elas são dentro e fora da cozinha. Por isso, sinto que estás sempre a andar para a frente e para trás.”

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O “para a frente e para trás” lembra que o passado parece pesar cada vez mais no presente das personagens. Daí Fishes, aquele momento poderoso a meio da segunda temporada, em que se entra num jantar de Natal da família Berzatto e, ao longo de uma hora, pensa-se que se está, afinal, numa sequela de Uma Mulher Sob Influência, de John Cassavetes. Ou Napkins, o sexto episódio desta nova temporada, que revisita o passado de Tina (Liza Colón-Zayas), como esta conheceu Mikey e começou a trabalhar no Original Beef, o restaurante que antecipou The Bear.

Nesta frequência cabe também o episódio inaugural desta terceira temporada, com o título provocador Tomorrow, quase sem diálogos, em que se vai revisitando o passado de Carmy, com uma edição estupenda, que inquieta e aquece. A dúvida sobre o que se está a passar, para onde vai e se se vai ficar no mesmo sítio. A resposta é mais provocadora e, pior, inconclusiva: é difícil de saber. Tudo isto é consequência de se ter subido tão alto tão rapidamente, do fenómeno em que a série se tornou ao ritmo frenético com que desenvolveram as personagens. Um belo exemplo é o que acontece em Forks — sétimo episódio da segunda temporada — quando Richie (Ebon Moss-Bachrach) é exposto por uns dias à realidade de um restaurante de fine dining e tem de aprender em modo expresso as suas delicadezas.

Ebon Moss-Bachrach (à direita): "Somos a soma das nossas experiências, para o bem e para o mal. E há muitas personagens a tentar superar um trauma"

Ao convidar o público a perceber que aquelas personagens podem encontrar um propósito bruscamente, também “foi dado ao Richie [e não só] corda suficiente para se enforcar. Neste processo de reinvenção, dele e do restaurante, ele está a lutar contra si próprio, a fazer as coisas por instinto, a cometer erros”, diz-nos agora Ebon Moss-Bachrach, no mesmo encontro à distância com os jornalistas. A personagem dele não é a única a fazer malabarismo com mais bolas do que consegue. A habilidade revela-se uma constante nesta terceira temporada.

Porquê? Porque Carmy quer puxar a carroça para a frente. Ele próprio quer assumir, colocar-se na corrida para a estrela Michelin, ainda que mal tenha aberto o restaurante. Quer desafiar-se, desafiar toda a gente, colocar em prática, em simultâneo, aquilo que aprendeu com outros chefs (daí o primeiro episódio, Tomorrow; daí a lista com mandamentos que faz para o restaurante). Quer ter uma ementa nova todos os dias. Quer produtos frescos, caros. Quer não olhar a custos (e quem tem de olhar para eles está em cima de Carmy, a dissuadi-lo, a alertá-lo para o comboio em rota de colisão). Quer superar-se enquanto enfrenta os seus demónios, quer pensar no futuro para não ter mais de enfrentar o passado: como se recomeça uma conversa com uma ex-namorada (Claire, interpretada por Molly Gordon) depois dela ter ouvido que era um empecilho para a sua vida?

Lionel Boyce: "A terceira é algo que vai mais ao interior das personagens, vês quem elas são dentro e fora da cozinha. Por isso, sinto que estás sempre a andar para a frente e para trás"

Ao contrário das outras duas temporadas, a terceira não anda a mil à hora. Talvez por isso não se sinta como um bloco de dez episódios com curvas apertadas e longas retas que antecipam uma ideia de final. Sente-se como um episódio único, longo, em que se espalma cartão em cima de um contentor. Lida-se com o passado e com a ideia de como o presente importa porque será passado: “A terceira temporada tem imensa reflexão, olha-se muito para trás. Há muita conversa sobre o legado, de como és a soma das pessoas que te afetaram. O Matty Matheson [que interpreta Neil na série, amigo de infância dos Berzatto e de Richie], que é um chef na vida real, está sempre a dizer que na escola conheceu um chef que estava sempre a dizer ‘eu sou os trinta chefs com quem aprendi’. Somos a soma das nossas experiências, para o bem e para o mal. E há muitas personagens a tentar superar um trauma.”, diz Ebon, quando questionado sobre a ideia de legado nesta temporada.

A terceira temporada lida de uma forma brilhante com o próprio passado de The Bear. A exuberância das duas temporadas anteriores, a ideia constante de nowhere fast, por vezes muito tangível, noutras enfiada nas entrelinhas da série. Não há nada de exuberante em espalmar cartão, contudo, a tarefa tem de ser cumprida. A coragem — e, em grande parte, humildade — de Christopher Storer (o criador) em assumir que a série tinha de ir por aí, aceitar o custo do sucesso e correr este risco, colhe frutos. Não era o que estávamos à espera, mas era o que estávamos à espera. Não há encruzilhada, muito menos uma série à procura dela própria. É The Bear a ser The Bear, mas com outros temperos. O ingrediente principal continua a ser o mesmo: as pessoas.

 
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