Mais de 500 pessoas, incluindo líderes da oposição, foram detidas em Daca após os protestos violentos nos últimos dias contra as quotas de recrutamento para a função pública, declarou esta segunda-feira a polícia bengali.
“Pelo menos 532 pessoas foram detidas após os atos violentos“, disse à agência de notícias AFP, o porta-voz da polícia de Daca, Faruk Hossain.
“Entre esses, estão líderes do BNP“, acrescentou o Partido Nacional do Bangladesh, uma formação política da oposição.
O número três do BNP, Amir Khosru Mahmud Chowdhury, e um dos seus porta-vozes, Ruhul Kabir Rizvi Ahmed, estavam entre os líderes da oposição detidos, anunciou. Segundo o porta-voz da polícia, pelo menos três polícias foram mortos durante os distúrbios na capital e cerca de mil pessoas ficaram feridas, pelo menos 60 das quais estão em estado crítico.
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Um antigo capitão da seleção nacional de futebol que se juntou ao BNP, Aminul Huq, e Mia Golam Parwar, secretária-geral do maior partido islâmico do país, o Jamaat-e-Islami, também foram detidos, disse o responsável.
Um porta-voz do BNP, A.K.M Wahiduzzaman, disse à AFP que “várias centenas de líderes e ativistas do BNP foram detidos nos últimos dias” em todo o país.
O Supremo Tribunal do Bangladesh anulou no domingo uma decisão judicial que permitia a atribuição de empregos públicos aos filhos dos veteranos de guerra, um privilégio que provocou grandes protestos de estudantes e uma onda de violência.
Numa audiência especial, realizada devido à violência nas ruas que já causou mais de uma centena de mortos, o Supremo Tribunal decidiu anular a decisão do Tribunal Superior de Daca, proferida no mês passado, que permitia ao governo conceder um terço dos empregos aos descendentes dos combatentes da guerra de libertação do Bangladesh (1971), informaram vários canais de televisão do país.
O principal grupo de estudantes responsável pelos protestos no Bangladesh anunciou que vai manter o movimento contra as quotas de recrutamento na função pública, apesar da revogação feita pelo Supremo Tribunal.
“Não vamos parar as nossas manifestações até que o governo tome uma decisão que tenha em conta as nossas exigências”, declarou à AFP um porta-voz da associação Estudantes contra a Discriminação, sob condição de anonimato.
No domingo, o governo do Bangladesh decidiu prolongar o recolher obrigatório, enquanto as comunicações no país continuam cortadas, numa tentativa de conter os distúrbios decorrentes dos protestos estudantis.
As manifestações quase diárias convocadas no início de julho principalmente por estudantes destinam-se a obter o fim das quotas de admissão no funcionalismo público, que favorecem as elites próximas do poder.
Os protestos subiram de tom nos últimos dias e representam o maior desafio para a primeira-ministra, Sheikh Hasina, desde que conquistou o quarto mandato consecutivo, em janeiro, num ato eleitoral boicotado pelos principais grupos de oposição.