Portugal realizou mais de um milhão de testes às hepatites B e C em 2023, um dado considerado positivo, mas o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais (PNHV) defende a importância de testar ainda mais.

Somos dos países da Europa que mais testa. Isto são doenças silenciosas, doenças que as pessoas não sabem que têm e podem ter durante 20/30 anos. Toda a gente devia fazer os testes de hepatite B, hepatite C e da SIDA pelo menos uma vez na vida”, disse Rui Tato Marinho.

Em entrevista à Lusa, o diretor do PNHV salientou a importância da testagem porque permite “identificar pessoas que não sabem que têm a doença, vacinar, curar e proteger a família e outras pessoas”, uma vez que estão em causa doenças infecciosas.

Esta é uma das recomendações do Relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais 2024, que é apresentado esta quinta-feira às 11h00 na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.

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O PNHV é um dos programas de saúde prioritários da Direção-Geral da Saúde (DGS) e este documento procura caracterizar a atual situação das hepatites virais em Portugal.

Nele estão descritas as características, clínicas e sociais, e sintetizadas as principais atividades de vigilância epidemiológica, prevenção, diagnóstico e tratamento desenvolvidas no ano passado, sendo traçado um roteiro de ação para 2025.

Os dados de vigilância epidemiológica sobre hepatites A, B (incluindo a Delta), C e E foram obtidos a partir da plataforma de suporte ao SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica), sendo salvaguardado que os dados referentes a 2023 são ainda provisórios.

No documento lê-se que “os testes para o diagnóstico de VHB [vírus da hepatite B] e VHC [Vírus da hepatite C] prescritos e realizados anualmente em contexto hospitalar e nos cuidados de saúde primários têm demonstrado uma tendência globalmente crescente”.

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Os autores do relatório acreditam que este aumento seja “provavelmente fruto da maior atenção dirigida às hepatites virais B e C nos últimos anos, apoio às populações-chave e grupos vulneráveis, bem como, no contexto da vigilância de saúde global das pessoas”.

Ao nível dos cuidados de saúde primários, em 2023, foram prescritos e realizados 289.959 testes de AgHBs (antigénio de superfície do vírus da hepatite B) e 218.566 testes de anti-VHC (anticorpo contra o vírus da hepatite C), verificando-se um aumento de 4% e 8%, respetivamente, quando comparados com 2022.

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No entanto, salvaguardam os autores, “estes resultados podem estar subestimados em termos de intervenção diagnóstica pois, em muitas unidades de saúde, há possibilidade de realização de testes rápido para VHC [vírus da hepatite C], não existindo, à data, um procedimento padronizado e validado para a sua monitorização a nível nacional”.

“Ou seja, o aumento é positivo, mas queremos mais”, resumiu, à Lusa, Rui Tato Marinho.

O relatório também aponta que, de acordo com a plataforma Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários (BI-CSP), se constatou desde 2021 um crescimento sustentado das hepatites virais, registando-se em dezembro de 2023 uma proporção de 0,61% na população utilizadora dos Cuidados de Saúde Primários com o diagnóstico de hepatite viral (55.927 casos).

“Verificou-se o registo de 1.661 novos casos em relação a 2022”, lê-se no documento.

Encontram-se mais pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino com hepatites virais como problema ativo, na sua maioria entre os 45 e os 64 anos, sendo a região de Lisboa e Vale do Tejo a que tem mais utentes.

Outra das recomendações passa pela sensibilização dos clínicos e pelo reforço da formação das equipas de cuidados de Medicina Geral e Familiar sobre a importância dos registos, da atualização periódica da Lista de Problemas e da notificação através da plataforma de suporte ao SINAVE, mesmo que “se trate de um caso provável”.

Rui Tato Marinho vai mais longe e pede que “a filosofia do PNHV seja colocada em prática mais ativamente, até porque essa é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que escolheu Portugal, em abril, para realizar a World Hepatitis Summit 2024, uma reunião que juntou governos e profissionais de saúde, organizações da sociedade civil, decisores políticos, académicos e pessoas que vivem ou viveram com hepatites de mais de 100 países.

“A filosofia do programa há muitos anos é integrar os cuidados hospitalares, a Medicina Geral e Familiar, os cuidados de saúde primários, a saúde pública e o mundo social”, disse o diretor, que lidera este programa há três anos.

O diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais (PNHV) destacou esta quinta-feira a intervenção no terreno de organizações não-governamentais (ONG) que ajudam a promover modos de prevenção e contribuem, indiretamente, para a pacificação social.

“Portugal na área das hepatites virais é dos melhores do mundo. Não é perfeito, mas está entre os que faz as coisas mais bem feitas. Uma das coisas que em Portugal se tem feito muito bem é a atividade das ONG no terreno que estão muito perto de algumas pessoas que têm comportamentos de vida que aumentam a suscetibilidade para hepatite C”, disse Rui Tato Marinho.

Em 2023, foram realizados 28.596 testes de AgHBs (antigénio de superfície do vírus da hepatite B) e 42.739 testes de anti-VHC (anticorpo contra o vírus da hepatite C), com uma prevalência de 1,74% e de 0,98% de resultados reativos, respetivamente.

Num capítulo dedicado a este tema, a equipa que fez o relatório refere, ainda, que em Portugal se encontram em funcionamento três programas de consumo vigiado, dois em Lisboa (um móvel e um fixo) implementados em abril de 2019 e maio de 2021, respetivamente, e um no Porto (amovível) com início em agosto de 2022.