Cerca de 300 trabalhadores da indústria da cortiça concentram-se esta quarta-feira junto à sede do Grupo Amorim, em Mozelos, reivindicando aumentos salariais para todo o setor e o fim da “tortura psicológica” que, dizem, os pressiona a prescindirem de direitos.
O protesto foi organizado pelo Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, que representa cerca de 6 mil dos 8 mil trabalhadores do setor e, tal como a Amorim, tem sede no concelho de Santa Maria da Feira, no distrito de Aveiro e Área Metropolitana do Porto.
“Corticeiras em luta — Não nos roubem mais”, “Para uns há milhões; Para outros nem sequer há tostões” e “Basta de tortura psicológica — Há que respeitar os trabalhadores” eram algumas das mensagens que se liam nas faixas do protesto, que contou ainda com bandeiras pretas e um caixão negro transportado a pé, numa caminhada de 20 minutos, por cerca de 100 operários da Amorim Cork Flooring que, na freguesia vizinha de São Paio de Oleiros, está em processo de remodelação.
Marcos Sousa é porta-voz da comissão de trabalhadores dessa empresa e explicou à agência Lusa o “luto” dessa comitiva: “Éramos uns 300 funcionários na fábrica e começámos a ser pressionados para sair. Neste momento a empresa já negociou a saída de 103 pessoas e agora quer alterar os horários das que sobram, para deixar de ter turnos rotativos e pagar menos pelo trabalho noturno”.
Segundo esse representante dos operários, caso a Amorim Cork Flooring avance para turnos fixos e implemente as novas remunerações que vem propondo, “cada operário vai perder, em média, 310 euros por mês“.
Alírio Amorim, presidente do Sindicato dos Operários Corticeiros do Norte, diz que esse tipo de pressão é comum em diferentes empresas do setor, mas realça que a prioridade, nesta fase, é fechar as negociações do novo contrato coletivo de trabalho para o período de 1 de junho de 2024 a 31 de maio de 2025, de forma a garantir “um salário justo a todos os trabalhadores da indústria da cortiça”.
Quando as conversações tiveram início, em abril, o Sindicato reivindicava um aumento mensal de 72 euros no salário e 1,46 euros no subsídio de alimentação. Entretanto, a Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR) — que representa 230 empresas do setor, 80% da produção nacional dessa matéria-prima e 85% das respetivas — contrapropôs um aumento de 21 cêntimos nas refeições e de 36 euros nos salários até dezembro e 60 euros nos seguintes.
“Não aceitamos isso. O mínimo que estamos disponíveis a aceitar é 60 euros de aumento mensal, que é valor da atualização que houve em janeiro para o salário mínimo nacional, estipulado por decreto”, afirma Alírio Amorim.
Esse dirigente sindical defende que “não é a crise a impedir os aumentos” — nota que a Amorim está inclusivamente a pedir horas extras aos funcionários da Champcork e da Socori para atender a encomendas no período de férias — mas admite pressões desse líder mundial da indústria sobre empregadores mais pequenos. “Só ainda não chegámos a acordo porque a Amorim pressiona as outras empresas a não aceitarem”, explica.
Contactada pela Lusa, a APCOR informa que não comenta negociações em curso. Questionada a Amorim, inclusive sobre a situação na Cork Flooring, a corticeira pede “que as questões sejam encaminhadas para a APCOR”.
A manifestação desta quarta-feira contou com a presença de deputados e outros representantes do PS, BE e PCP, assim como de dirigentes da FEVICCOM — Federação Portuguesa dos Sindicatos da Construção, Cerâmica e Vidro; da União de Sindicatos de Aveiro; da CGTP —Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses; e das delegações Centro e Norte do SITE – Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente.
Ao protesto também se associou o Sindicato dos Professores do Norte, “em solidariedade” com os operários corticeiros.