Em 2012 o Ecce Homo, uma pintura da autoria de Elías García Martínez, que se encontra no Santuário da Misericórdia de Borja, em Saragoça, Espanha, sofreu uma tentativa falhada de restauro por parte de uma paroquiana octogenária, Cecilia Giménez, que disse na altura ter agido com o consentimento do padre daquela paróquia. O resultado do fraco trabalho, que estragou a pintura original, tornou-se viral e correu o mundo.

Agora parece que Espanha volta a viver uma situação parecida. A ermida de Nossa Senhora do Mirón, de 1725, na localidade de Soria, concentra por estes dias todas as conversas da população da região. O Coletivo Património Soria foi quem lançou o alerta. “O que fizeram à ermida do Mirón?”, questionou-se.

Alguém repintou o interior da igreja e retocou as figuras ornamentais da nave central, com um resultado que os especialistas descrevem como desastroso e desrespeitoso para com o valor patrimonial do templo.

Francisco Manuel Espejo, presidente da Associação de Conservadores e Restauradores de Espanha (ACRE), deixa duras críticas ao trabalho realizado. “Não estamos a falar de um restauro falhado, mas sim de um ataque ao património”, afirmou, em entrevista ao El Confidencial.

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Espejo sublinha ainda que, embora não seja classificada como Bem de Interesse Cultural (BIC), a igreja de Nossa Senhora do Mirón está inventariada e, por isso, goza de proteção para evitar intervenções como a que aconteceu desta vez, sublinhando que a ermida está catalogada quer pela Junta de Castela e Leão, quer pela Câmara Municipal de Soria no Plano Geral de Urbanismo, que protege a igreja.

“Este grau de proteção é estabelecido para aqueles edifícios que, pela sua idade, raridade, valor arquitetónico, coerência interna ou integração paisagística, devam ser mantidos no seu estado atual, tanto no que diz respeito aos seus aspetos estruturais, como aos seus aspetos decorativos ou aspetos de acabamento”, refere o documento intitulado “Revisão e adaptação do Plano Geral de Urbanismo de Soria”, datado de 2006 e onde está inventariada a igreja, segundo o El Confidencial.

O presidente da ACRE refere ainda que, como está inventariado, é preciso que seja apresentado à Câmara Municipal um projeto em caso de intervenção e que esta tem que dar autorização e examiná-lo com um especialista, não podendo as alterações ser realizadas simplesmente por iniciativa do padre ou dos paroquianos. “Não creio, dado o resultado, que algum especialista técnico autorizasse que algo do género fosse feito”, afirmou.

No entanto, a diocese de Osma-Soria, à qual a igreja pertence, assegura que a intervenção foi realizada “com todas as licenças em ordem”, lamenta que haja descontentamento com os acabamentos e diz que estes são “uma questão de gosto”.

Fontes oficiais da Câmara Municipal não especificam se a intervenção foi realizada sem projeto, como apontam os especialistas, mas alertam que a área do Urbanismo deve fazer uma posterior “fiscalização” para determinar se o resultado é ou não adequado.