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Desde as eleições presidenciais venezuelanas do passado domingo, em que Nicolás Maduro foi proclamado vencedor, que o tema de uma possível fraude eleitoral tem levantado vozes pelo mundo inteiro. Muitas não reconhecem o resultado do Conselho Nacional Eleitoral e defendem a vitória declarada pela oposição — como é o caso dos Estados Unidos. Neste país, há uma voz que recusa parar as suas críticas a Maduro: Elon Musk. E o contestado Presidente venezuelano não se tem coibido de responder.

Ao longo da última semana, o presidente executivo da Tesla e da SpaceX tem recorrido à rede social que detém, o X (antigo Twitter), para comentar dezenas de vezes a situação política na Venezuela. A primeira publicação foi feita no passado sábado, véspera das eleições. Musk partilhou uma publicação da líder da oposição, María Corina Machado, escrevendo que “é tempo do povo da Venezuela ter a oportunidade de um futuro melhor”. “Apoiem Maria Corina”, apelou.

Depois do anúncio dos resultados, o dono da Tesla partilhou e comentou vários vídeos dos protestos contra Maduro. Num vídeo em que dezenas de pessoas derrubam uma estátua do Presidente, respondeu em espanhol “Adeus ditador Maduro”. Noutra publicação, repetiu que “Maduro não é um bom tipo. A Venezuela merece muito melhor”.

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As críticas online escalaram até às declarações de Nicólas Maduro na terça-feira, em que considerou Musk o seu arqui-inimigo e o desafiou para lutar, numa referência aos desafios que o norte-americano já tinha feito a Mark Zuckerberg e Vladimir Putin, ameaças que nunca foram cumpridas. “Queres uma luta? Vamos a isso, Elon Musk. Como dizemos aqui: Se tu quiseres, eu quero!”, propôs.

No dia seguinte, chegou a resposta: “Eu aceito”, escreveu Musk. A partir daí, as suas publicações passaram a referenciar a suposta luta, dizendo que caso ganhasse, “ele demite-se de ditador da Venezuela”. Já no caso de uma vitória do Presidente venezuelano, o dono da SpaceX oferecer-lhe-ia “uma viagem grátis a Marte”.

A partir daí, as mensagens tornaram-se mais absurdas. Primeiro, disse que “Maduro é um tipo grande e deve saber lutar, por isso esta seria uma luta a sério”. Do lado do Presidente venezuelano, acusou Musk de financiar os protestos que se multiplicam da capital ao resto do país. A crítica começou com uma notícia da agência AFP, em que se pode ler que “os protestos começaram depois de uma reeleição questionável”.

“Protestos? São ataques criminosos, emboscadas criminosas, preparadas e financiadas pelos gringos [um termo jocoso para descrever americanos não latinos], Elon Musk e o narcotráfico colombiano”, corrigiu Maduro, depois de ler a notícia num encontro com o sindicato dos trabalhadores da indústria alimentar.

A referência ao nome de Musk não passou despercebida entre os seus fãs e o visado respondeu rapidamente. “Por favor perguntem-lhe que tamanho é que ele quer para o macacão laranja em Gitmo [abreviatura para a prisão de Guantánamo]”. Esta não foi a primeira menção de Musk à conhecida prisão dos Estados Unidos em Cuba.

Na quinta-feira, já tinha respondido a um vídeo, partilhado com uma legenda falsa sobre soldados que supostamente recebiam ordens de Maduro para manter Musk afastado. A resposta de Elon Musk: “Estou a chegar, Maduro! Vou carregar-te para Gitmo num burro“. A mensagem inclui um emoji de uma nave espacial e uma bomba, numa insistência do dono da SpaceX em enviar o venezuelano para o espaço.

Entre dezenas de outras publicações, Elon Musk ainda sugere que Maduro está “pedrado no seu próprio abastecimento de drogas”, partilha os resultados apresentados pela oposição como legítimos e reage com satisfação ao reconhecimento norte-americano dos mesmos e de uma vitória de Edmundo González.

Enquanto Musk deixa mensagens na sua rede social, Maduro faz conferências de imprensa no palácio presidencial. Na quarta-feira, para além de o acusar de financiar os protestos, classificou-o como um “assassino”. “Quem se mete comigo, sai derrotado”, ameaçou o Presidente venezuelano.

Mas afinal por que está um cidadão norte-americano, magnata da tecnologia e um dos homens mais ricos do mundo a defender tão vincadamente a democracia na Venezuela? “Para marcar pontos políticos muito fáceis”, justifica uma especialista em participação política e desinformação ao New York Times.

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Segundo Eugenia Mitchelstein, Elon Musk está a utilizar a vitória das forças de esquerda na Venezuela para argumentar que todas as forças socialistas e de esquerda estão a contribuir para destruir a sociedade tal como a conhecemos. Antes do passado sábado, só era possível encontrar uma única publicação de Musk sobre a Venezuela, nota a professora universitária.

Entre os políticos corruptos que vão levar ao colapso da economia, Elon Musk conta também Joe Biden. Foi este padrão que o levou a apoiar Donald Trump como candidato presidencial para as eleições norte-americanas. O milionário já chegou a argumentar que não votar no republicano em novembro vai deixar os Estados Unidos na mesma situação política que a Venezuela. Logo, as críticas anti-Maduro ajudam-no a construir este argumento, explica Mitchelstein.

*Texto editado por Cátia Andrea Costa