Em 2020 sabia-se que, pela primeira vez em três décadas, o maior iceberg do mundo tinha entrado em movimento, atingindo uma intensidade tal que chegou a preocupar a comunidade internacional. Mais de um ano depois, o chamado A23a mantém-se à deriva, mas desde abril, devido a um vórtice com o nome Taylor Colum, está “preso” no mesmo local. Esta gigante massa de gelo ficará por tempo indeterminado retido neste local a girar 15 graus por dia.
Em abril deste ano, o maior iceberg do mundo entrou na Corrente Circumpolar Antártica (ACC), detalha a BBC, que explica que esta é uma espécie de “rolo compressor” que movimenta grande massas de água. Seria esperado, portanto, que este iceberg — com o nome A23a — fosse “empurrado” para águas mais quentes, onde deveria derreter. Mas não foi isso que aconteceu.
O bloco de gelo, com 4 mil quilómetros quadrados de área (40 vezes acima do tamanho da cidade de Lisboa) e 400 metros de profundidade, ficou no mesmo lugar e está neste momento a norte das Ilhas Órcades do Sul, no Oceano Atlântico sul, preso num vórtice, uma espécie de cilindro aquático em rotação. Agora, o iceberg está apenas a girar em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio, movimentando-se cerca de 15 graus por dia.
De acordo com a BBC, a existência deste vórtice foi mencionada pela primeira vez na década de 1920, pelo físico e matemático Geoffrey Ingram Taylor e foi apelidado pelo oceanógrafas de Taylor Colum. O especialista Geoffrey Taylor percebeu que, quando uma corrente se depara com uma obstrução no fundo do mar, pode separar-se em dois fluxos distintos, se houver condições para tal. Quando isto acontece, é gerada uma massa de água que fica em rotação no fundo do mar.
No caso do A23a, a obstrução com que a corrente se deparou é uma espécie de saliência no fundo do oceano conhecida por Pirie Bank, com 100 quilómetros de amplitude. Uma vez que o vórtice se formou no topo desta saliência, o A23a ficou “preso” ao passar por esse local.
Durante quanto tempo ficará preso a rodar?
A resposta é simples: não se sabe, este fenómeno é imprevisível. No entanto, numa das suas experiências, o professor Mike Meredith, do Serviço Antártico Britânico (British Antarctic Survey, em inglês), colocou uma boia científica em cima de outra saliência na mesma região e, quatro anos mais tarde, este instrumento ainda estava preso no seu lugar a rodar, conta a BBC.
“O oceano tem muitas surpresas e esta característica dinâmica é uma das mais engraçadas de sempre”, partilhou o especialista com a BBC, acrescentando que “o A23a é o iceberg que se recusa a morrer”. “Normalmente pensamos em icebergs como sendo coisas temporárias que se fragmentam e derretem. Mas este não.”
De facto, a história de vida deste que é o maior iceberg do mundo é longa. Já existe há muito, mas só no final da década de 1980 se separou da costa da Antártida. Pouco tempo depois fixou-se no mar de Weddell (região disputada entre o Reino Unido e a Argentina) e passou a ser uma espécie de “ilha de gelo”.
Mas 30 anos depois, por volta de 2020, foram registados — com surpresa — os primeiros movimentos da plataforma, cuja intensidade aumentou significativamente em 2023 e acabou por reocupar a comunidade internacional. Foi o caso do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, que deixou o alerta: “A Antártida está a acordar, e o mundo tem de acordar com ela”.