Julho terminou com mudanças na Bosch de Braga, a principal fábrica da empresa alemã em Portugal. Carlos Ribas, o responsável pela operação em Portugal há cerca de nove anos, foi afastado, assim como outros quatro quadros da fábrica.

A notícia foi avançada pelo Jornal de Negócios: na quarta-feira, 31 de julho, Sven Ost, o administrador da empresa alemã chegou à fábrica e comunicou o afastamento de Carlos Ribas e alguns quadros da fábrica. Segundo o jornal, terá sido retirado o carro e o telemóvel da empresa aos gestores.

A Bosch começou por confirmar ao Negócios a mudança de liderança. “(…) a partir de 1 de agosto de 2024, no âmbito do habitual planeamento de renovação, as responsabilidades assumidas por Carlos Ribas enquanto gestor técnico da fábrica de Braga, passam a ser assumidas por Carlos Jardim, anteriormente responsável pelas operações de produção e engenharia na fábrica de Cluj, na Roménia”, disse fonte da empresa ao jornal, ainda na semana passada.

Na mesma ocasião, a Bosch explicou que “até novas ordens, Javier González Pareja, presidente da Bosch Ibéria, assumirá as responsabilidades de Carlos Ribas na sua função de representante da Bosch em Portugal, para além das suas funções atuais”. Ao Negócios, era referida uma “transição tranquila na gestão da fábrica da Bosch em Braga”.

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Nas declarações iniciais da Bosch não foram avançadas as razões para esta decisão. Mas, ainda segundo informação do Negócios, haverá “suspeitas de falhas graves na condução de candidaturas a fundos europeus”.

Um dia depois de ser noticiado o afastamento, Carlos Ribas rebateu a ideia da tal “transição tranquila” e disse ao Negócios que recebeu “com total surpresa” a notificação de suspensão de funções, alegando que nessa informação “não consta qualquer situação específica”. O gestor afirmou ainda que lutará “até às últimas instâncias” pela defesa” do “bom nome”.

O Observador contactou a Bosch Portugal sobre o tema, nomeadamente para identificar os gestores que terão sido afastados, mas a empresa diz que não é possível adiantar qualquer informação. De acordo com o Negócios, terão sido afastados André Reis, administrador comercial da fábrica de Braga, José Oliveira, e António Pereira.

O Expresso escreveu ainda que a saída de Carlos Ribas da Bosch de Braga estaria prevista para outubro, citando uma fonte com conhecimento do tema. Porém, na declaração escrita enviada pelo gestor ao jornal, foi apenas mencionada a surpresa com o afastamento de funções.

A fábrica da Bosch em Braga é a principal unidade da empresa alemã em Portugal. É na Bosch Car Multimedia que são desenvolvidas e produzidas soluções de multimédia e sensores automóveis e onde também trabalham as equipas ligadas ao desenvolvimento de soluções para mobilidade. A fábrica de Braga é uma das principais empregadoras nesta zona do país — segundo números do fim de 2022, trabalhavam nesta unidade 3.700 pessoas, em que 500 eram engenheiros.

Além da unidade de Braga, a Bosch está também em Aveiro, onde tem uma unidade de água quente e climatização, e em Ovar, dedicada a soluções para sistemas de segurança e comunicação, como alarmes de incêndio. A empresa anunciou em outubro de 2023 que quer vender esta fábrica, na sequência da reestruturação da divisão de “Building Technologies” para se focar no mercado de integração de sistemas. A empresa tem ainda presença na capital, através de um centro de serviços.

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A Bosch tem um total de 7.050 trabalhadores em Portugal e, no ano passado, teve um volume de negócios de 2,1 mil milhões de euros.

Quem são os novos responsáveis pela fábrica de Braga?

A declaração da Bosch sobre a substituição de liderança em Braga menciona dois nomes: Javier González Pareja, que vai assumir as responsabilidades até aqui desempenhadas por Ribas enquanto representante da Bosch em Portugal, e Carlos Jardim, que assumirá funções de gestor técnico da fábrica bracarense.

O espanhol Javier González Pareja trabalha na Bosch há 30 anos e é atualmente presidente da Bosch Ibéria. Acumulará, “até novas ordens”, a função de representante em Portugal com as suas atuais responsabilidades. González Pareja entrou na filial espanhola através de um programa de gestores júnior, em fevereiro de 1994, segundo o seu perfil no LinkedIn.

Durante mais de cinco anos, entre 1999 e 2005, foi diretor financeiro e administrativo da Bosch Portugal. Tem no currículo uma passagem pela Bosch Hungria, onde foi representante do grupo alemão no país. Desde janeiro de 2017 que é presidente da multinacional alemã no mercado ibérico.

A gestão técnica da Bosch de Braga está, desde 1 de agosto de 2024, a cargo de Carlos Jardim, que até aqui era responsável pela produção e engenharia na fábrica da Bosch em Cluj, na Roménia.