O cineasta David Lynch, de 78 anos, anunciou que foi diagnosticado com enfisema pulmonar devido a muitos anos de tabagismo, mas diz estar “cheio de felicidade” e sublinha que nunca se reformará.

O realizador de Twin Peaks e Veludo Azul sentiu necessidade de vir a público esclarecer o que dissera numa entrevista à revista Sight and Sound, em que foi capa da edição de setembro. Na conversa, que já está online, revela que tem um enfisema (doença pulmomar) que o impede de sair de casa devido ao risco de ser contagiado pela Covid-19 ou uma “gripezinha”.

“Desenvolvi um enfisema por ter fumado durante muito tempo e, por isso, estou preso em casa, quer queira quer não. Não posso sair. E só consigo andar uma pequena distância antes de ficar sem oxigénio”, explicou.

Por esse motivo, adiantou na entrevista, não deverá voltar a realizar um filme presencialmente. “Gosto de estar no meio das coisas e ter ideias no local. Mas tentaria fazer [um filme] remotamente, se for o caso”, destacou.

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A afirmação levou a que muitos pensassem que o famoso autor de filmes de culto como Mulholand Drive ou Coração Selvagem deixaria de trabalhar. “Nada disso”, clarificou esta segunda-feira Lynch no canal X.

“Estou feliz e nunca me vou reformar”, escreveu, depois de confirmar a doença pulmonar que causa falta de ar, tosse e cansaço.

“Sim, tenho enfisema devido aos meus muitos anos de fumador. Devo dizer que gostava muito de fumar e que adoro o tabaco — o seu cheiro, acender os cigarros, fumá-los — mas há um preço a pagar por esse prazer e, para mim, esse preço é o enfisema. Já deixei de fumar há mais de dois anos. Recentemente, fiz muitos exames e a boa notícia é que estou em excelente forma.”

À revista Sight and Sound o cineasta também sublinhara o gosto pelo tabaco:

Para mim, fazia parte da vida artística: sentar-me e fumar e olhar para o meu trabalho ou a pensar em coisas, não há nada neste mundo que seja tão bonito. Mas estava a dar cabo de mim. Por isso, tive de deixar de fumar.”

O realizador, músico e ator norte-americano é conhecido por um estilo distante do cinema mainstream americano, mais surrealista, e tornou-se conhecido após ter lançado a longa-metragem No Céu Tudo é Perfeito em 1977 (Eraserhead, no original). O caminho para a fama foi-se consolidando com Veludo Azul (1986), Um Coração Selvagem (1990), Twin Peaks (1990) LostHighway: Estrada Perdida (1997) ou Uma História Simples (1999).

Em 1981, com o filme O Homem Elefante, foi nomeado para os Óscares de Melhor Argumento Adaptado e o de Melhor Realizador, nomeação que repetiu em 1987 com o filme Veludo Azul e em 2002 com o filme Mulholland Drive. Em 2019 o  realizador e artista visual foi premiado com um Óscar de Honra, na 11.ª cerimónia dos Governors Awards, em Los Angeles.

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A mais recente produção completa de Lynch foi terceira temporada da série Twin Peaks: O Retorno , que estreou no Showtime em 2017, e a sua longa-metragem Inland Empire, lançado em 2006.

Na semana passada, Lynch juntou-se makis uma vez à cantora Chrystabell para um novo álbum colaborativo chamado Cellophane Memories , que foi acompanhado por vários videoclipes dirigidos por Lynch.