A administração cessante da Inapa afirma que existia um investidor interessado na empresa. Numa carta de despedida enviada aos colaboradores, e a que o Observador teve acesso, é referido o interesse “por parte de uma empresa global de referência nosso setor” para a tomada de posição como parceiro estratégico na empresa de distribuição de papel.

Na referida carta, Frederico Lupi indica que estava previsto um calendário de trabalhos “que resultaria na aquisição do grupo no segundo semestre de 2024”. Sem referir o comprador, o presidente executivo acrescenta que terá sido a “única demonstração de interesse jamais apresentada para a aquisição do capital acionista do grupo, e logo por parte de um player do setor de escala mundial”.

O gestor volta a apontar as baterias à Parpública, a empresa pública que era a maior acionista da Inapa, que acusa de “falta de apoio ao longo destes anos na viabilização da reestruturação da dívida”. E destaca os mais de 50 contactos realizados com o principal acionista público feitos entre 2020 e 2023, “entre telefonemas, mails e reuniões, procurando uma solução de longo prazo que permitisse afirmar a Inapa como um líder europeu na distribuição de papel sólido e rentável”. Tal como o Observador já tinha revelado, um despacho de 2022 do anterior secretário de Estado das Finanças tinha dado instruções à Parpública para não realizar transferências para a Inapa.

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A Inapa apresentou um pedido de insolvência na semana passada depois de não ter conseguido evitar o incumprimento por parte da sua participada alemã, a sua principal principal operação, o que obrigou a pedir a falência na Alemanha, precipitando a queda de todo o grupo. Esta situação desenrola-se depois da Parpública (secundada pelo Ministério das Finanças) ter recusado dar um apoio financeiro que Frederico Lupi esclarece agora que seria temporário (a três meses) e remunerado à taxa de juro do mercado.

Esse empréstimo, acrescenta, estava garantido por fontes alternativas de financiamento “suportadas nomeadamente por propostas de aquisição de empresas do nosso portfolio em diferentes geografias, acionáveis no quarto trimestre, o que foi comunicado e explicado detalhadamente à Parpública”.

Corrigindo dados avançados pelo Ministério das Finanças, os quais referem um pedido de apoio urgente de 12 milhões de euros à Parpública, a gestão cessante da Inapa diz que seriam 8,5 milhões de euros de empréstimo, proporcional à participação da holding do Estado na empresa, de 44,5%. O gestor refere que esta solução de curto prazo “mereceu o apoio expresso dos acionistas privados Novo Banco e Nova Expressão que destacamos e agradecemos”.

A solução também terá tido também o apoio dos credores que terão aceite uma “redução muito significativa, na ordem dos 80%”. O presidente executivo do BCP, que é o maior credor da Inapa, não quis comentar a situação específica da empresa, mas Miguel Maya sinalizou que o banco estava disponível para apoiar empresas viáveis com problemas de financiamento.

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“Infelizmente, e mais uma vez, faltou o apoio da Parpública para a concretização de uma solução equitativa já suportada pelos acionistas privados, que teria evitado a insolvência na Alemanha e o contágio imediato e inevitável Inapa IPG e a todo o grupo”.

A Parpública, realça nesta carta aos colaboradores,”foi também alertada para o facto de a insolvência súbita, mas evitável, da Inapa impactar diretamente 1.400 trabalhadores, dos quais mais de 200 em Portugal, bem como inviabilizar a operação de aquisição da Inapa por parte do grupo mundial de distribuição de papel, em discussão”.

A administração liderada por Filipe Lupi apresentou demissão no dia em que se soube da recusa da Parpública em conceder o financiamento e será agora substituída pelo gestor judicial nomeado pelo tribunal, Bruno Costa Pereira. O valor do grupo será agora “sempre inferior ao valor que tinha antes, sem falar nos postos de trabalho, nos parceiros, nos demais stakeholders”, o que representa, “uma destruição de valor massiva falsamente evitável”.

A holding do Estado tem-se mantido em silêncio sobre o tema da Inapa até agora suscitou apenas um esclarecimento do Ministério das Finanças.

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