O exército israelita afirmou esta quinta-feira ter encontrado explosivos em sacos com o logótipo da agência da ONU para os refugiados palestinianos, UNRWA, em Rafah, no sul da Faixa de Gaza.

Num comunicado, as forças israelitas incluíram imagens dos sacos, alegadamente localizados perto de uma escola no bairro de Tal al-Sultan. Afirmaram também ter encontrado armas, documentos dos serviços secretos e coletes à prova de bala na zona.

Israel tem visado a agência da ONU por alegadas ligações ao movimento islamita palestiniano Hamas e, em janeiro, acusou 12 funcionários de envolvimento nos ataques de 7 de outubro, embora não tenham sido apresentadas provas.

Na semana passada, o Departamento de Assuntos Internos das Nações Unidas revelou que nove dos funcionários da UNRWA apontados por Israel “podem” ter estado envolvidos no ataque do Hamas em Israel, pelo que foram despedidos, mas a agência especificou que não podia verificar “independentemente” as provas sob custódia israelita.

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O diretor da UNRWA, o suíço Philippe Lazzarini, ainda não reagiu diretamente ao anúncio desta quinta-feira do exército israelita, mas avisou que seria “um precedente perigoso” para o Estado de Direito se Israel declarasse a agência uma organização terrorista.

Para Lazzarini, expulsar a agência de Jerusalém e declará-la uma organização terrorista, como é intenção de Israel, “não é um ataque apenas contra a ONU, mas contra todos os que apelam à adesão ao Direito internacional ou promovem uma solução pacífica para este conflito de longa duração”.

A UNRWA, insistiu, “tem sido uma força de estabilidade” em Gaza durante os 75 anos em que tem estado a operar e “não uma parte do problema”.

O responsável atribui esta “campanha de desinformação” a uma tentativa de retirar “unilateralmente” o estatuto de refugiado aos palestinianos para “alterar os parâmetros de uma futura solução política”, uma visão que considera “inocente e míope” porque “se a UNRWA desaparecesse, esse estatuto manter-se-ia”.

Lazzarini falava durante a sua participação no curso “Quo Vadis Europa XII. A Europa entre guerras e eleições”, dirigido na Universidade Internacional Menéndez Pelayo, na cidade espanhola de Santander, pelo chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, que manifestou o seu apoio a esta agência, considerando que, sem ela, “a situação dos palestinianos seria muito pior”.

Borrell insistiu no apelo a um maior empenhamento dos países europeus afirmando que “o futuro da Europa também vai ser decidido em Gaza”.

“Até agora limitámo-nos a passar cheques de ajuda humanitária”, lamentou.

O alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança reconheceu também que “infelizmente, no conflito palestiniano [a UE] está demasiado dividida para desempenhar o papel que lhe cabe”.

O diretor da UNRWA insistiu na necessidade de libertar os reféns e de um cessar-fogo para ajudar a população, um caminho que não prevê ser fácil devido à situação em Gaza.

“A salvaguarda do papel da UNRWA como principal fornecedor de educação e cuidados de saúde será fundamental para uma transição bem-sucedida”, afirmou Lazzarini.

Lazzarini sublinhou que a única forma de alcançar a paz israelo-palestiniana é através de um roteiro político.

“Se falharmos, seremos cada vez mais cúmplices”, advertiu.

O conflito na Faixa de Gaza foi desencadeado em 7 de outubro de 2023 por um ataque sem precedentes do Hamas em Israel, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Israel lançou então uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 40 mil mortos, na maioria civis, e um desastre humanitário, desestabilizando toda a região do Médio Oriente.

Os mediadores do conflito — Egito, Qatar e Estados Unidos — procuram alcançar uma trégua no enclave palestiniano e a libertação dos mais de 100 reféns ainda em posse do Hamas, mas as partes ainda não chegaram a acordo.