O primeiro-ministro britânico, o trabalhista Keir Starmer, advertiu esta terça-feira que o próximo orçamento geral, cuja divulgação está prevista para 31 de outubro, será “doloroso” devido às decisões “impopulares” que o governo terá que tomar para fazer a economia crescer.

Num discurso proferido esta terça-feira nos jardins de Downing Street, a sede do executivo, Starmer prometeu que vai apostar na criação de riqueza e no crescimento económico nacional, embora, para isso, tenha de tomar “medidas duras”.

O líder trabalhista disse que o seu governo tomará “decisões impopulares se isso beneficiar o país a longo prazo”.

Entre as medidas polémicas está a retirada de um subsídio para ajudar a pagar as contas de energia durante o inverno aos pensionistas em melhor situação económica, uma decisão que, segundo Starmer, “teve de ser tomada” e que justificou com o facto de “estar a custar uma fortuna ao país” e ser inviável para o crescimento da economia.

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“Não temos escolha, dada a situação em que nos encontramos: aqueles que têm os ombros mais fortes terão de suportar o fardo mais pesado”, sublinhou, ao delinear cortes nas despesas públicas ou aumentos de certos impostos.

Os trabalhistas fizeram campanha insistindo na reorientação económica e prometendo uma gestão rigorosa das despesas públicas, com escolhas drásticas.

Mas o governo avisa agora que terá de ir ainda mais longe do que o previsto, desde que a ministra das Finanças, Rachel Reeves, acusou os conservadores, em julho, de “encobrirem” um buraco orçamental de 22 mil milhões de libras (cerca de 26 mil milhões de euros).

“A situação é pior do que alguma vez imaginámos”, acrescentou Keir Starmer, no mesmo discurso.

O político responsabilizou os conservadores pelo “caos e ruína” que deixaram nos cofres públicos e para os quais não há soluções rápidas.

“Herdámos não só um enorme buraco negro económico, mas também um buraco negro na sociedade e é por isso que tomámos medidas para fazer as coisas de forma diferente”, afirmou.

O governante afirmou ainda que a mudança não acontecerá “de um dia para o outro”, embora tenha sublinhado que os trabalhistas “conseguiram mais em sete semanas do que o último governo conseguiu em sete anos”.

No seu discurso, Starmer aludiu também aos recentes tumultos ocorridos no país, referindo que aqueles que neles participaram conseguiram “explorar as fraturas da sociedade após 14 anos de populismo e fracasso”.

Estes motins “expuseram o estado do país” e revelaram “uma sociedade profundamente insalubre”, observou.

A violência eclodiu depois de um ataque com faca em Southport (noroeste de Inglaterra), em 29 de julho, ter matado três raparigas, incluindo uma menina portuguesa de 9 anos, durante uma aula de dança.

Os motins foram alimentados por agitadores de extrema-direita, tendo como pano de fundo rumores que falsamente descreviam o suspeito como um requerente de asilo muçulmano.

“É por isso que temos de agir e fazer as coisas de forma diferente. Isso significa ser honesto com as pessoas (…) e, francamente, as coisas vão piorar antes de melhorarem”, admitiu.