A TAP conseguiu o seu primeiro trimestre de lucro com condições operacionais normais, ou seja, sem o efeito dos cortes salariais que ajudaram a empresa a recuperar a rentabilidade no pós-covid.

Apesar de ter apresentado um resultado modesto até junho de 400 mil euros, sobretudo quando comparado com o alcançado nos primeiros seis meses do ano passado em que os lucros tinham atingido os 22,9 milhões de euros, a transportadora lucrou 72,2 milhões de euros no segundo trimestre. Este desempenho é conseguido com a reposição total dos custos salariais normais concretizada totalmente no último trimestre do ano passado.

Custos com pessoal da TAP dispararam e levaram a prejuízos no último trimestre de 2023

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Quando comparados com o primeiro semestre de 2023, os custos com a pessoal da TAP subiram 99 milhões de euros, mais 35%. Já entre abril e junho, essa subida foi mais moderada e ficou-se pelos 18%. A ajudar do lado dos custos esteve a evolução em baixa dos combustíveis que custaram menos 4,7% no semestre e menos 0,8% no trimestre. Isto apesar do aumento da capacidade no segundo trimestre e de um crescimento no número de passageiros transportados de 2,4% e de voos operados, face ao mesmo período de 2023.

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As contas conhecidas esta quinta-feira apontam para uma redução dos custos operacionais de 1,2% no trimestre, graças também a outros fatores como a diminuição das faturas de irregularidades (resultantes de voos cancelados ou atrasos que obrigaram a TAP a pagar compensações ou alojamento a passageiros), e um menor recurso à contratação de serviços a terceiros. A poupança com estes fatores ajudou a compensar o impacto do aumento dos custos com pessoal.

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Do ponto de vista financeiro, a empresa beneficiou de um efeito não repetível que foi a reversão da imparidade referente à participação na Groundforce, na sequência da confirmação do plano de reestruturação para a empresa de handling que ser afetada por dias de greve no próximo fim de semana, convocada por um dos sindicatos.

Mas foi prejudicada por perdas cambiais de mais de 20 milhões de euros, devido à desvalorização do real, moeda na qual são feitas muitas das vendas da TAP.

O segundo trimestre é tradicionalmente mais forte no setor da aviação do que o primeiro que normalmente está associado a prejuízos. Para o presidente executivo da TAP, “houve um forte desempenho no segundo trimestre” que permite “um resultado positivo líquido no semestre, que, apesar de reduzido, é atingido pela segunda vez, mas agora sem cortes salariais”.

No comentário aos resultados, Luís Rodrigues assinala ainda o crescimento da área da manutenção e engenharia “que começa a realizar o seu potencial”, tendo alcançado uma receita de 71,8 milhões de euros no segundo trimestre. Já o setor da carga que ajudou a TAP nos anos do Covid registou uma queda de 10% na receita, o que é atribuído à normalização das yields (receitas por carga) registadas neste segmento após a pandemia.

As receitas da operação cresceram 3,4% neste segundo trimestre, em linha com a subida verificada em todo o semestre, com as operações de manutenção e engenharia a atingirem um crescimento robusto de 71,4% no segundo trimestre, e acumulando um acréscimo de 36,7% nos primeiros seis meses do ano.

Apesar de continuar a aumentar a oferta, o nível desse reforço tem sido limitado, acompanhando a tendência de algum arrefecimento sentido no mercado de aviação e que já é visível no resultado de algumas grandes companhias concorrentes da TAP (e também potenciais interessadas na companhia portuguesa). A Lufthansa anunciou queda nos lucros trimestrais de 47%, a Air France/KLM registou uma descida de 80%, enquanto o lucro da IAG (que inclui a British Airways e a Iberia) recuou 10%. O lucro trimestral da TAP baixou 10% face ao mesmo período de 2023.

Entre os indicadores que refletem algum arrefecimento está o PRASK (a receita por passageiro dividida pelo número de lugares por quilómetro) que caiu 0,3% de 2023 para 2024 no primeiro semestre, tendo encolhido 1,2% no segundo trimestre. Esta evolução traduz também uma tendência para a compressão nos preços.

Para o segundo semestre, a TAP indica que o nível de reservas está em linha com o verificado no ano passado, mas sinaliza “alguma pressão sobre as yields” (ganhos por passageiro/quilómetro). A transportadora vai reforçar a aposta no mercado brasileiro com duas novas rotas: Florianópolis e Manaus, o que lhe permitirá servir 13 destinos com 15 rotas naquele mercado.

A TAP destaca ainda “a forte posição de liquidez” de mais de mil milhões de euros final do primeiro semestre, na sequência da execução em janeiro de mais uma tranche do aumento de capital pelo Estado. A empresa ainda tem a receber 340 milhões de euros, no quadro do plano de reestruturação e recapitalização aprovado pela Comissão Europeia.

O terceiro trimestre que inclui o verão é o mais forte na indústria da aviação e deverá marcar também o relançamento da privatização da TAP do qual pouco se sabe.