O segundo clássico da época, o terceiro confronto entre ambos os conjuntos entre os últimos seis oficiais com a final da Taça de Portugal da época passada, uma imagem que faz “chocar” perceção e realidade. Além de ter conquistado o Campeonato, o segundo em quatro anos, o Sporting teve uma entrada fortíssima na edição de 2024/25 da Liga, marcou 14 golos em três jornadas como não acontecia há 50 anos na prova e deu mostras de que pode ser o principal favorito à conquista do título. Já o FC Porto, que ainda é muito avaliado à luz das alterações técnicas e das dificuldades financeiras que enfrenta neste início de era André Villas-Boas, foi cumprindo em todos os encontros da Liga com vitórias segurar entre períodos em que a equipa “desligou” da partida. Questão? Além de ambos só terem triunfos e lutarem pela liderança isolada do Campeonato, foram os dragões que levaram a melhor nas últimas duas decisões, algo que também pesaria neste encontro.

Sporting vence FC Porto com golos de Gyökeres e Geny Catamo e lidera isolado a Liga só com triunfos

“O FC Porto joga de forma diferente em relação ao que fez na Supertaça. Foi difícil preparar a parte defensiva mas não podemos tentar adivinhar o que o FC Porto vai fazer. Temos de ser melhores nas bolas paradas mas temos espaço para melhorarmos com a bola. Íamos usar muito da Supertaça neste jogo mas, ao olhar para este FC Porto, dá para ver que mudaram a forma de jogar. Jogando o Pepê e o Galeno no mesmo corredor, a equipa atua de forma diferente. O segredo é melhorar ainda mais com a bola. Derrota na Supertaça? Isso entra no jogo mas não pode entrar demasiado. Temos de pensar que isto é um Campeonato, queremos ganhar e esquecer o que passou. Fomos campeões no ano passado mas isso já não interessa para nada”, destacara Rúben Amorim na antecâmara da partida, desvalorizando sem esquecer o desaire na Supertaça.

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De forma inconsciente, Frederico Varandas, presidente dos leões, acabou por dar o mote para o clássico com os azuis e brancos no discurso feito no Liga Portugal Awards. Aí, o líder recordou a força extra interna que o desaire na Luz para o Campeonato com dois golos nos descontos deu para o resto da temporada e colocou a derrota com reviravolta na Supertaça com o FC Porto como outro ponto para não ser “esquecido”. Ainda assim, e para que esse fosse mesmo um marco de retoma, o Sporting teria de “anular” os desaires recentes frente ao FC Porto, capitalizando aquilo que conseguiu fazer de melhor e minimizando os erros defensivos que custaram dois títulos para tentar fechar o primeiro ciclo de encontros da Liga na frente. Um objetivo que, noutro contexto, poderia funcionar como dínamo para uma equipa azul e branca em crescendo.

“Não há jogos iguais, cada jogo acaba por ter a sua vida própria. São duas equipas que se conhecem bem, que sabem aquilo que podem esperar uma da outra. Teremos de ser sempre muito fiéis àquilo que somos, fiéis àquilo que é o nosso traço identitário principal e preparados para encharcar e inundar o nosso equipamento de suor. Essa é a premissa que terá que estar presente em todos os momentos. A equipa está segura, sólida, confiante mas também desconfiada. Adversário ferido? Pode estar ferido mas os sinais não têm sido estes. Têm sido sinais de força, com rendimento elevado naquilo que foram os jogos seguintes. Por isso, devemos estar sempre muito alerta, muito vigilantes. Cada jogo é um quadro único, leva-nos para um cariz diferente”, apontara Vítor Bruno, treinador dos dragões, na conferência antes da viagem para Lisboa.

Com muito trabalho de bastidores que rende agora os seus frutos em termos de mercado, e entre um período institucional que não acalmou ainda a 100% como se viu também nas considerações do antigo presidente Pinto da Costa em relação ao antigo número 2 de Sérgio Conceição, o FC Porto foi fazendo um caminho de qualidade para encontrar meios para construir um plantel competitivo e recuperar a cultura de vitória que se foi perdendo na última temporada até ao terceiro lugar. Agora, depois da festa da Supertaça, a deslocação a Alvalade era mais um teste a uma equipa que conseguiu resgatar valores que estavam “encostados”, foi apostando com sucesso em jovens e começa a integrar caras novas com todas as condições para serem mais valias a breve e médio prazo. O dragão renasceu e o clássico era outro teste a esse bom momento.

Não se pode dizer que não se tenha visto de novo essa face do FC Porto mas com uma nuance que fez toda a diferença: o processo está ainda a começar e aquilo que aconteceu na Supertaça, pela forma como a equipa virou uma desvantagem de 3-0, foi uma exceção. Contra um Sporting com uma ideia, um núcleo duro e uma identidade há muito definidas, imperou esse tempo de trabalho e aquele que continua a ser a grande figura deste Campeonato. Até marcar o golo inaugural numa grande penalidade que “ganhou” com um trabalho fantástico, Gyökeres assistiu, deu metros, fez a equipa respirar e colocou a defesa contrária sentido; a partir daí, foi ainda mais a referência na saída, continuou a fazer sprints com todos os adversários sem forças e esteve no lance do 2-0. Para ele, não há palavras. Com ele, a palavra de reação foi cumprida.

Sem surpresas nas equipas iniciais, com Hjulmand a regressar ao onze após lesão e Vasco Sousa a manter-se de pedra e cal num conjunto que manteve Galeno como falso lateral esquerda, a principal “surpresa” acabou por surgir na forma como decorreram os minutos iniciais. Com o jogo sem bola e posicional do FC Porto a ditar leis, o Sporting não conseguia sair a partir de trás como gosta, tinha os médios “bloqueados” entre as movimentações de Iván Jaime e Pepê por dentro a criar superioridade e também não conseguia socorrer-se do jogo mais direto em Gyökeres. Mais: em posse, os azuis e brancos (ou laranjas, pela camisola alternativa) ganhavam metros com confiança e criaram a primeira boa oportunidade num remate de meia distância de Vasco Sousa que passou perto do poste (12′), sendo que a marcação do canto depois do desvio num jogador leonino trouxe um lance de laboratório com Otávio a rematar por cima em boa posição na área (13′).

Ainda houve mais uma jogada capaz de criar sensação de perigo na área contrária, com Martim Fernandes a ser lançado pela segunda vez pela direita nas costas de Geny Catamo e a fazer um cruzamento que demorou a ser afastado da zona de perigo (16′), mas bastou um sinal inicial na frente para o Sporting “acordar”: Gyökeres foi lançado na profundidade, assistiu Pedro Gonçalves na desmarcação de rutura entre centrais e o internacional português assistiu Francisco Trincão à saída de Diogo Costa para um desvio que só não acabou em golo porque a bola bateu na perna de Zé Pedro quando seguia para uma baliza deserta (17′). Estava dado o mote para uma natural inversão de forças no clássico, com Gyökeres a ter pouco depois um remate às malhas laterais após mais uma boa jogada de Pedro Gonçalves – o elemento que, sempre que era colocado em ação no último terço, criava os desequilíbrios que iam faltando entre os dois conjuntos em posse.

A circulação do Sporting tinha melhorado, a capacidade de colocar os médios em zonas de combinação trazia dificuldades à organização do FC Porto sem plano B de solução, as oportunidades começavam a ganhar uma outra cadência com Francisco Trincão a falhar duas bolas de golo isolado na área também com essa nuance extra de ter rematado de pé direito (35′ e 36′) e Pedro Gonçalves a desviar de forma subtil um cruzamento rasteiro de Gyökeres mas a fazer passar a bola ao lado tocada ainda por Zé Pedro (40′). O clássico tinha desequilibrado de vez, os leões iam ficando mais entusiasmado, os dragões aproveitaram esse excesso de confiança para terem o único remate enquadrado do primeiro tempo com Galeno a obrigar Kovacevic a uma intervenção mais apertada mas a tónica dominante manteve-se até ao intervalo com um inesperado nulo face ao que os dois conjuntos tinham mostrado nas jornadas iniciais e aos últimos confrontos diretos em finais.

O segundo tempo começou sem alterações mas com o FC Porto a conseguir mais uma vez agarrar de início no comando da partida, tendo duas saídas interessantes que acabaram depois por não traduzir-se em remates e zonas de pressão mais altas que condicionavam de novo a forma de sair do Sporting a partir de trás. Ainda assim, foi mais curto do que na primeira parte e com menos resultados práticos. Mais uma vez, uma bola na profundidade e uma combinação entre Pedro Gonçalves e Gyökeres para um cruzamento que ficou nas mãos de Diogo Costa deu o mote para nova fase ascendente dos leões, que beneficiaram da melhor oportunidade numa insistência de Geny Catamo com cruzamento atrasado para desvio de Gyökeres e corte em cima da linha de Alan Varela quando o guarda-redes dos azuis e brancos já estava fora do lance (52′). A fase das substituições estava a chegar mas antes foi Kovacevic a tirar mais uma vez o golo a Galeno (60′) após uma reposição do guardião leonino intercetada na esquerda pelo internacional brasileiro até à meia distância.

Samu Omorodion e Eustáquio eram os primeiros nomes lançados por Vítor Bruno, com essa curiosidade de perceber a capacidade de adaptação rápida do avançado espanhol ao conjunto azul e branco. Eram, foram mas antes tudo mudou. Como o encontro não teve qualquer interrupção, a dupla foi esperando e esperando junto do quarto árbitro para entrar, Gyökeres foi lançado descaído sobre a direita a ganhar a frente a Otávio na rotação, avançou para a área e sofreu falta quando se preparava para marcar numa espécie de remake do golo que marcara no dérbi para a Taça com o Benfica. Fez a diferença aí, fez a diferença depois e, de grande penalidade, inaugurou o marcador (72′). Vítor Bruno não voltou atrás mas duplicou as alterações, lançando no clássico João Mário e Gonçalo Borges além de Eustáquio e Samu Omorodion logo de seguida.

Rúben Amorim reagiu com as entradas de Debast e Matheus Reis para as saídas de Eduardo Quaresma e Geovany Quenda mas o jogo mudara de vez de feições, com o FC Porto a colocar mais unidades na frente e a arriscar como até aí não fizera e o Sporting a jogar mais vezes longo em Gyökeres num tipo de jogo em que o sueco se sente particularmente à vontade em qualquer fase da partida com mais ou menos minutos. Foi o avançado que fez o remate seguinte com sensação de perigo ao lado (84′), foi o avançado que deu em Pedro Gonçalves antes da assistência em Geny Catamo para novo remate fora do alvo (88′). A dupla ainda tinha gasolina no tanque para construir o 2-0 final, com o moçambicano a surgir isolado descaído sobre a direita antes do remate sem hipóteses para Diogo Costa que fechou por completo o clássico (90+3′).